Resiliência

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Voltar pra favela onde fui criada depois de passar quase três anos fora, é uma coisa de outro mundo, ainda mais agora

Eu sai da casa da vó, e fui atrás de fazer o meu nome, mas não dava pra fazer o meu nome por aqui pela região, eu estava sendo caçada pelo comando do Hugo, viva ou morta

Então eu fui fazer o meu nome fora daqui

As informações que coletei nos meses que passei com a vó foi de total utilidade, viajei para a Argentina e me envolvi com a milícia de lá, assim como eu havia planejado

Fiz o meu nome alí dentro, a única mulher que conseguiu entrar na milícia da Argentina, fui muito maltratada durante um tempo por ser mulher, eles não acreditavam no meu potencial, mas tinha apenas um que nunca desistiu de mim alí dentro desde quando eu havia chegado

Pra minha surpresa o que sempre me apoiava, era um dos que mais tinha poder alí dentro da milícia, Juan foi quem me ensinou a usar uma arma, a entender sobre mercadorias e importações de produtos, investimentos, Tudo que sei é graças a ele

Juan e eu tivemos um envolvimento, esse envolvimento me proporcionou duas coisas que eu não estava preparada para receber, a mais importante de todas elas, uma filha, que ele mal chegou a aproveitar o tempo com ela, já a segunda coisa... O comando da milícia Argentina

Juan morreu junto ao seu fiel parceiro, quatro meses após o nascimento da nossa filha. Os dois morreram por traição de um dos membros da organização, os dois foram vingados, e a morte do traidor com toda a certeza foi uma das piores que eu já vi em todo esse tempo que estive lá

Como a pessoa mais próxima ao Juan, e que tinha o maior conhecimento sobre os investimentos que ele mantinha era eu, então apenas eu, fiquei responsável por aquilo tudo. No início alguns homens se rebelaram contra mim, mas todos os que ousaram me ameaçar, essa hora não existem nem mais os ossos

-- O que você tá fazendo por aqui em? - Hugo se levantou da cadeira

-- Sou sua investidora, quer dizer... Talvez eu seja, tenho que me decidir ainda sobre isso

-- Eu podia descarregar o pente dessa arma no meio da sua cara, tu some com o meu dinheiro e volta como se nada tivesse acontecido

-- Isso são águas passadas - falei colocando um pouco de whisky no copo -- Eu até poderia te devolver o dinheiro, se tivesse sido eu que tivesse roubado

-- Conta outra Alice

-- Tu me fez passar por um bagulho traumático, sendo que eu não fiz nem um terço pra merecer nada daquilo, tava tão maluco por vingança que nem se atentou nos detalhes e pegou a primeira pessoa que apareceu na tua frente

-- Tu era a minha principal suspeita

-- Mas não era a única - Rebati na hora -- Talvez essa seja uma das nossas maiores diferenças, eu paro pra pensar e analisar, você age por impulso, por isso essa favela tá do jeito que tá

-- Tá se achando muito por agora tá trabalhando pra gente grande né não?

-- Trabalhar pra alguém? Tá muito é desinformado amor, eu sou a dona dessa porra toda aí que você tá vendo, o que eu faturo no dia, tu levaria anos pra conseguir, ainda mais agora que você tá falindo cada dia mais, por isso você precisa da minha ajuda

-- Não preciso

-- Você sabe que precisa - Dei um gole no whisky -- Mas você também sabe que tudo tem um preço

-- Qual seria o seu? - RD falou pela primeira vez, me fazendo encará-lo

-- Quero ter o poder de administrar uma parte desse morro também

-- Nunca - Hugo falou batendo a mão na mesa

-- Você não tá podendo escolher muito não Hugo, você meteu uma bala em um capacho de um conhecido meu, e ele tá furioso por vingança, louco pra matar a pessoa que fez isso com o sobrinho dele

-- Manda vim, não passa nem da entrada

-- Pelo que eu vi quando eu subi, eles passam e ainda te deixam sem nenhum soldado pra contar história, tu não tem alternativa nenhuma a não ser me servir Hugo - Falei vendo ele respirar fundo

-- Você só vai participar de algumas reuniões - Respondeu com o ódio estampado na cara

-- Eu vou participar de tudo, e eu vou me estabelecer aqui dentro mesmo, sabe? Apesar de tudo, gosto do vidigal, quero só ver a cara das mona quando me ver por aqui de novo

-- Os anos passaram, mas sua cara de mandada não

-- Qual foi? Você devia me agradecer, porque eu morando aqui agora, meus homens vão sempre estar ao meu redor, e vão me servir, agora todos nós somos parceiros

-- Como assim todos nós? Magrão tá no meio disso aí também?

-- A Maré é minha Hugo, Magrão tá lá só porque ele administra bem, Magrão tem espírito de liderança

-- Tu tomou a Maré quando? - RD perguntou curioso

-- Tem alguns meses, a última invasão que rolou foram os meus homens que fizeram, a gente chegou no Magrão e fez a proposta dele ficar por lá e trabalhar pra mim, ou morrer e eu achar outra pessoa pra ficar no lugar

-- Como eu tenho amor a vida, eu obedeci a bonitona aí né - Magrão respondeu, fazendo um toque comigo

-- Então armamos um plano pra poder fingir que o Magrão que tinha ganhado a invasão, mas foi tudo um teatro bem feito - Falei vendo o Magrão fazer careta

-- Mas tu prova que não foi você? - Olhei pro RD -- Que fez a parada do roubo

-- Provo, e eu mesmo vou cobrar os três vagabundos na hora certa, e não quero que ninguém me impedindo não em - Apontei pros dois alí dentro -- Se tá tudo resolvido, amanhã quando eu voltar, eu venho com o caminhão de mercadorias - Me levantei da cadeira fazendo sinal pro Magrão -- Foi um prazer fazer negócios com você, Hugo

Virei pra poder sair e senti o olhar do Hugo queimar sobre minhas costas

Que a nova revolução comece

Acho que por essa nem o futuro esperava

Alice com um cria...

Eu expliquei por cima um pouco do que aconteceu com ela quando ela esteve fora, mas vai ter um capítulo que vão conter mais alguns detalhes.

Ai vcs pensam.. " Poxa autora, logo agora que ela volta tu já traz ela com uma criança" ... Calma galera, tá tudo calculado, a criança é a chave pra muita coisa ainda

Talvez eu volte em!!