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— Você deu mancada — diz.

Franz caminhava à passos apressados, com a mente nublada, em outro lugar. Estava indo para casa. Não tinha mais clima para festas. Encara o horizonte alaranjado de cara fechada. Ouvia os passos de Larry atrás de si, o que o fazia revirar os olhos.

Sabia que estava errado. No fundo, sabia. Mas o orgulho falava mais alto, o deixando surdo.

— Eu não quero saber — responde sem perder o passo. O olhar de julgamento do amigo queimava sobre seu ombro. — Volta pra lá. Jimmy vai sentir sua falta.

— Assim como Leon vai sentir a sua. — Ele para, esperando que Franz parasse também, mas não o fez. — Eu tô te avisando, Franz. O remorso vai fazer você se arrepender. — Percebeu ele dar as costas e voltar para a casa de Jimmy.

Afonso havia insistido em uma reunião familiar singela, da qual chamou os amigos do filho para se unirem a eles. Tudo ocorreu bem até Leon e Franz começaram a se desentender por coisa pouca.

Franz estava estressado com relatórios da faculdade e pedia a Leon para voltarem para casa o quanto antes, mas o ruivo se opunha a ir tão cedo. O estresse que o corroía começou a se transpor aos poucos. Uma hora se passou. Duas horas... E as três horas Franz perdeu a cabeça.

Mas não em público. Franz não era assim. Apenas saiu do recinto visivelmente aborrecido. Leon foi atrás dele e ali começaram a discutir.

No auge da ira, deu o xeque-mate: se quisesse ficar, que ficasse sozinho.

Franz tinha problemas com raiva, Leon sabia disso, mas jamais imaginou sentir o que sentiu quando ouviu seu namorado proferir o que tinha de mais cruel.

       — É você quem complica a minha vida!

— Ah, então se arrepende de ter me salvado do Stanley naquele dia?

— É, é isso aí! Talvez tivesse sido mais fácil assim!

Leon ficou em choque, assim como Larry, que ouviu tudo ao aparecer à porta da frente da casa quando viu ambos saindo com um clima estranho. Leon dá as costas e entra em casa novamente, passando por Larry.

— Já chegou, filhote? — Andrea sorri para o filho ao vê-lo na porta. — Chegou cedo. Cadê o Leon? — Ela logo percebe a cara fechada de Franz e se preocupa. — Aconteceu alguma coisa?

— Não — responde secamente e fecha a porta, passando pela mãe para subir as escadas.

Eu não vou pedir desculpas por me preocupar com meu futuro, pensa.

Ainda estava anoitecendo. Na verdade, nem sequer havia escurecido ainda. Mas Franz se sentia esgotado e por isso nem sequer cogitou revisar o relatório. Coisa nova, visto sua postura constantemente preocupada. Sentiu um súbito sono, e assim deitou-se na cama para tirar um cochilo.

Em vários momentos da noite, acordou com um certo desconforto, mas nada do que um bom banho após despertar não resolvesse.

Assim se seguiu, dormindo.

Em um de seus sonhos estranhos, ouviu risadinhas infantis. Mais risadinhas, até uma voz familiar se sobressair o chamando. Franz se virou para o outro lado, buscando dormir mais um pouco, mas a voz era insistente.

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