Quarto dia

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Eram três da manhã do seu último dia. Franz estava varrendo as taças quebradas do salão. Não havia conseguido dormir. Enquanto arrastava os cacos de vidro, seus pensamentos rolavam soltos. Talvez eu mereça isso... suspira. De repente, lembrou-se de como Leon havia o acordado naquela manhã antes da reunião na casa de Jimmy.

Aquele sorriso lhe fazia tanta falta. Assim como o ânimo do namorado. Que agora não era mais namorado, apenas um estranho com razão de estar com raiva.

Leon não amava Franz. Nunca amou. Não aqui, até porque história deles nunca existiu.

Mas mesmo não o amando, Franz ainda assim iria ajudá-lo. De algum jeito, iria conseguir dar aquele baile. E Leon conseguiria o seu dinheiro.

Franz sorri sarcástico para o nada.

— É, Larry, você tinha razão — fala para si mesmo. — O remorso me fez arrepender. E muito.

As palavras de Leon remoíam sua mente, repetidas vezes. Então ninguém salvou ele naquele dia. Por isso o boneco ainda estava lá depois do lugar falir. Stanley havia conseguido o que queria. Seu peito dói ao refletir sobre isso. Ninguém salvou ele.

Larry ainda estava com o boneco de Leon. Talvez fosse melhor assim. Franz não queria encarar aquele brinquedo, mesmo porque ele só foi um dos motivos do sofrimento do seu namorado. Foda-se se ele me odeia, pensa. Talvez seja isso que eu mereça, afinal. Uma vida sem a pessoa que mais fez por mim...

Pegou os tecidos rasgados, caminhou para a porta dos fundos e atirou-os na caçamba de lixo. Preciso de mais tecidos, respira fundo enquanto encara aqueles tons de laranja e amarelo no meio do lixo podre.

Sua atenção é voltada para o barulho da porta do salão se abrindo. Quem estaria ali às três da manhã? Logo cogitou a possibilidade de ser um dos delinquentes, mas não. Ao colocar sua cabeça para dentro do recinto e passar o olhar pelo salão, vê um rapaz loiro forrando a mesa com a toalha laranja. Ele o encara.

— Oi — diz com voz baixa e levemente sonolenta. — Sabia que você estava aqui — sorri.

— O que tá fazendo aqui? — Franz caminha para dentro e fecha a porta atrás de si. — Não deveria estar dormindo?

— Você também.

Franz desvia o olhar e suspira.

—  Mas eu fiz merda. Eu preciso consertar isso.

— Eu também fiz e preciso consertar isso — responde igualmente. — Você não vai conseguir terminar isso até às 7 da manhã sozinho. Precisa de ajuda.

— Eu vou perder aula hoje. Até eu terminar isso, não saio daqui nem pra comer.

— Tá parecendo o Leon agora — ri.

Franz reflete sobre isso.

— Isso é loucura.

— O quê?

— O Leon ser assim! — Fecha o punho, indignado. — Ele não é assim!

— Por que você ainda insiste nisso? Franz, ele não é o Leon que você acha que conheceu. Nunca foi. Aceita isso — responde franco. Franz o encara triste.

— Eu sei que não... — suspira. — Afinal, ele me odeia...

— Não acho que ele te odeie — passa pelo moreno. — Vamos, precisamos dos tecidos que têm da despensa — ergue sua mão. — Não precisamos mais falar sobre o Leon ou o que aconteceu.

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