II

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— Franz, acorda. Sem corpo mole — a voz de sua mãe sai abafada enquanto bate na porta. O garoto geme sonolento. — Ah, ainda dormindo, filho? Vamos! Sem perder tempo! — Franz abre os olhos e percebe a porta trancada. Não lembro de ter trancado a porta ontem à noite. — Quer realmente se atrasar pro primeiro dia de aula? Levanta, café tá na mesa. — Ouve os passos dela se afastando.

Primeiro dia de aula? Mas eu não tenho mais "primeiro dia de aula". Levanta-se confuso. Ao tirar os pés da cama, sai do quarto e caminha pelo corredor até o banheiro.

Ao se olhar no espelho, seu susto quase o fez gritar. Estava em choque. Sua aparência jovial estava mais jovial ainda. 14 anos. Encarava o reflexo com olhos arregalados, passando a mão por todo seu rosto. Não, não, não, não, não! Eu sonhando! Isso é um pesadelo!

Franz sai do banheiro correndo e desce as escadas até a cozinha.

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— Filhote, está tudo bem com você? — Arqueia uma sobrancelha ao observá-lo nervoso de relance. Seu filho estava inquieto, sua perna em um batuque incessante já começara a incomodar. — Por favor, não bata a perna. Está me dando dor de cabeça.

— Ah, desculpa, mãe — para imediatamente, passando o olhar para a janela ao seu lado.

— Está nervoso? — Sorri. — É normal, Franz. O primeiro dia sempre é assim. — Acaricia a perna do garoto, sem tirar os olhos da estrada. — Só... tente fazer alguns amigos. Não se sairá bem se não tiver ninguém para te ajudar, amor.

Franz a encara confuso.

Fazer amigos? E o Leon?  — Arqueia uma sobrancelha. Andrea o encara rápido e nega com a cabeça de forma sutil.

— Quem é Leon, querido? — Tira a mão da perna dele e passa a marcha. Franz permanece incrédulo. — Chegamos, filhote — subitamente para ao lado da calçada. O rapaz nem se dera conta de que estavam perto do colégio. O 1° ano do ensino médio... — Tenha um bom dia de aula, a mamãe te vê daqui a alguns meses — dá-lhe um beijo rápido. — Agora vá, já está atrasado.

— Tchau, mãe — deseja sem emoção. Ele abre a porta e a fecha na mesma velocidade. O que acontecendo? Eu ficando maluco?

Como eu, de repente, acordo em um dia de 6 anos atrás? E pior do que isso: como minha mãe não reconhece o Leon? É o xodó dela!

Franz caminha, preso em seus pensamentos mais intrusivos. Sua postura imponente que sempre tivera, principalmente nessa época, estava estilhaçada nesse momento. Estava perdido. E precisava encontrar Leon para tentar esclarecer tudo.

As pessoas que passavam naquele corredor cheio davam-lhe ombradas e resmungavam reclamações ou palavrões criativos. O mal-humor tomava conta daqueles adolescentes de uma segunda-feira matutina.

— Ow, baixinho, presta atenção! — Enfrenta Franz enquanto ultrapassa-o com uma ombrada. Era um homem gigante, com certeza repetente. Embora não fosse do tipo que levava desaforo para casa, o moreno estranhamente relevou o comportamento do outro. Ele caminhou reclamando até sua voz sumir.

Ah, o terraço! A gente sempre ia pra lá!

E sai correndo pelo corredor. Ao virar e encarar a escada para o local, feliz por estar prestes a encontrar Leon, Franz sente sua gola ser puxada repentinamente.

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