tô achando que tô acostumando vocês demais com postagem todo dia hahah. resolvi postar esse um tantinho antes da novela, um presentinho especial.
aliás, resolvi também deixar aqui em aberto caso vocês queiram me dar ideias de novas one's. adoraria ler as ideias de vocês! desde já, agradeço. boa leitura :)
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Os olhos prostrados no balcão indicavam que, certamente, algo não estava certo ali.
Talvez tenha sido por conta daquele seu primeiro shot de tequila que chegou sem que ela pedisse. Agradeceu com um manear de cabeça ao barman de sorriso acolhedor e olhos ternamente azulados.
- Pensei que você estaria precisando de um pouco disso. É por conta da casa.
Ela estava precisando. E precisando muito.
Virou o shot em um tiro só, ignorando o ardor brusco na garganta e o peso abrupto na consciência. Não deveria estar ali, não deveria estar bebendo e, principalmente, não deveria estar se lamentando. A vida corria como deveria ser. As consequências viriam, você querendo, ou não.Então, por que se sentia tão culpada?
Seus pensamentos foram esvaidos como uma nuvem de fumaça quando alguém se sentou ao seu lado.
Não precisava estender os olhos para identificar a presença. Conhecia muito bem aquele cheiro amadeirado, o contorno daquele corpo e até mesmo o contorno dos cabelos ondulados refratados pelas luzes coloridas do bar.
- Você me seguiu.
- Você saiu apressada do cartório.
- E mesmo assim você me seguiu.
- Vai querer o que? – o garçom se intromete na conversa com seu costumeiro sorriso educado.
A nova presença sorri de volta. Esse sorriso, pelo contrário, parecia bem mais fingido do que deveria.
- Uma água com gás e uma rodela de limão, por favor.
- E outro desses – ela estende o copinho vazio. O garçom se vira para realizar o pedido, mas é interrompido.
- Não mesmo. Sem chance – diz a voz, em alto e bom tom – Ela não vai mais beber, moço. Pode fechar a conta dela e me trazer, por favor.
- E quem você pensa que é, ein? – percebendo o clima, o garçom estala a língua contra o céu da boca, dando meia volta – Me deixa em paz.
- Eu tô tentando, mas aí você vem, e me deixa toda preocupada. É difícil assim.
- Não é mais seu direito, nem dever ficar preocupada comigo! – esbraveja, alto o suficiente para chamar atenção de ao menos metade dos transeuntes daquele bar – Ouviu? Não é.
- Não, não é.
- Ótimo. E o que tá fazendo aqui ainda?
- Esperando você acabar pra que eu possa levar você pra casa.
A mulher solta uma risada anasalada, batendo uma das mãos contra a coxa. Estava cansada. Podia sentir o cansaço irradiar por cada músculo, cada veia de seu corpo. O coração doía cada vez que os olhos eram depositados naquela mulher à sua frente.
Dez anos.
Dez anos se passaram desde a primeira vez em que se encontraram. Que se viram, sorriram uma para a outra, e trocaram números. Dez anos desde que a vida de Clara nunca mais foi a mesma. Desde que entendeu o que era paixão, o que era amor, o que era dividir a vida inteira com outra pessoa. Oito anos desde que se casaram.