vizinhança mal frequentada

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Clara sempre se considerou uma pessoa sexualmente normal.

Não era uma ninfomaníaca, mas também sabia aproveitar as oportunidades quando uma pessoa interessante se aproximava de si com segundas intenções, ela não era nenhuma santa.

Mas sua vizinha? Nossa, aquela mulher, com toda certeza era uma ninfomaníaca em série.

Clara havia se mudado para aquele apartamento confortável no centro do Rio há menos de um mês e já ouvira os gemidos da mulher da casa ao lado mais vezes do que os de sua ex namorada - com quem namorou por quase dois anos. Era engraçado porque sequer conhecia a vizinha, nunca havia visto seu rosto e mesmo assim se sentia bastante íntima dela e de sua vida sexual. Até demais, se perguntassem.

As paredes do apartamento eram finas o suficiente e, como não bastasse, seu quarto parecia ser parede com parede com o quarto da mulher do apartamento 107.

Clara não tinha uma boa noite de sono há semanas, e ainda por cima havia tido um péssimo dia no trabalho. Havia tido problemas com um dos contêiners de exportação e precisou ir ver com seus próprios olhos o resultado de tal falta de atenção. Chegando lá, quem poderia dizer que Clara realmente só ficava atrás da mesa e não sabia como manusear um contêiner? O próprio contêiner poderia dizer isso, logo depois de a porta bater com tudo no rosto da empresária, deixando um roxo considerável em sua pele perfeita, perto do olho esquerdo.

Ainda com a mão presa no saco de gelo, a empresária se jogou rapidamente no sofá vinho, erguendo os pés descalços em cima da mesinha de centro. Lumiar odiava a cor daquele sofá.

Lumiar.

Suspirou ao pensar na ex cunhada que, por sorte do acaso, virara também sua melhor amiga. Clara não falava com ela desde o começo do dia, mesmo tendo prometido que daria notícias assim que chegasse do escritório. Mas seu celular estava longe - há menos de cinco metros de distância, em cima da bancada da televisão - e Clara estava exausta.

Lumiar poderia esperar.

Os ossos de Clara pareciam ser feitos de gelatina, assim como seus músculos pareciam ser espetados repetidamente por agulhas ansiosas de estresse. Um espasmo atingiu seu joelho e seu olho esquerdo, tirando dela um grunhido irritado e dolorido.

Apesar das dores localizadas, era bom ter um pouco de paz naquele instante. Barulho algum era ouvido, a não ser por sua respiração tranquila ecoando pelas paredes cor marfim de seu apartamento. Clara fechou os olhos, a cabeça confortavelmente descansando no encosto do sofá, quando ouviu.

Tudo começou com uma rápida risada alta até demais.

Risada essa que transformou em um baque breve do que pareceu um móvel chocando-se contra a parede. Clara abriu um olho só - o olho bom -, fitando o teto.

Ela mordeu o lábio inferior, a mão livre cerrada em um punho. E então esperou. Por vinte e seis segundos, somente sua respiração foi ouvida. Clara soltou um sorriso de lado. Vai ver sua vizinha transante só havia tropeçado na mesinha de centro. Essas coisas acontecem...

Clara estava na metade do caminho para descansar a cabeça no sofá mais uma vez, quando aconteceu. O gemido arrastado. Ela bateu o punho contra o sofá.

Aquele gemido extra irritante não era o de sua vizinha, e também não parecia ser da mulher da noite passada, muito menos da de Terça-feira, ou a de sábado - uma mulher de nariz entupido e voz extremamente desagradável. Aquela deveria ser outra mulher, com certeza. Clara mordeu a parte interna das bochechas ao perceber que estava identificando gemidos das acompanhantes de sua vizinha como se aquilo fosse algum tipo sádico de reality show. Porra, ela não tinha mais nada para fazer?

One shots - Clarena editionOnde histórias criam vida. Descubra agora