Limite ultrapassado

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Por Haruno Sakura:

Frustrada. Era assim que eu me sentia. Completamente frustrada. Há semanas venho pesquisando, estudando sem parar e nada funciona. Hiro parecia regredir com o tratamento que estávamos conduzindo e as últimas informações enviadas por Tsunade-sama não nos permitiram muitos avanços.

-Merda!

Eu acabara de ter uma conversa por telefone com a minha shishou e com alguns colegas médicos de outras vilas especialistas em doenças autoimunes. Nenhum de nós parecia ter alguma ideia de como tratar aquela doença, muito menos se seria possível encontrar uma cura. O estágio já estava bastante avançado, havíamos descoberto tarde demais. E era isso o que mais me frustrava. Ninjas ANBU- principalmente novatos- devem passar por uma bateria extensa de exames e testes, a saúde de cada um é monitorada constantemente. Shizune e eu somos bastante rigorosas nesse processo. Aprovamos apenas ninjas completamente hígidos. Os exames de Hiro não indicavam nenhum indício de doença, pelo contrário, sua saúde parecia estar melhor que qualquer ninja de Konoha: nenhuma febre, nenhuma anormalidade nas articulações, nenhuma discrepância no sistema circulatório. É como se em um belo dia, o corpo dele decidisse atacar seu fluxo de chakra, atingindo as células da forma mais silenciosa possível, sendo capaz de se esconder até mesmo dos exames mais invasivos.

Como se não bastasse, eu ainda tinha que lidar com a informação de que Sasuke estava a caminho de Konoha. Aparentemente, ele precisa relatar alguma coisa ultrassecreta ao Hokage. E eu só descobri isso porque Naruto acabou deixando escapar quando estávamos jantando na sua casa com Hinata, há dois dias atrás:

<<<<<

-Hinata, isso está uma delícia! Queria ter esse seu dom para culinária! -eu disse a ela.

-Obrigada, Sakura-chan! -Ela respondeu com seu sorriso simpático, enquanto eu me servia mais uma taça de vinho branco.

-E então, como foi a lua-de-mel? -Perguntei.

-Ah, Sakura-chan, foi incrível, 'ttebayo! Se eu pudesse, moraria naquele hotel! Era muito chique lá, parecíamos que éramos senhores feudais de tanto que paparicaram a gente! -Naruto riu, relatando sobre a estrutura do hotel o qual ficaram hospedados, sobre as maravilhosas fontes termais e os lindos jardins. Hinata apenas sorria e corava, provavelmente porque falar da sua lua-de-mel era um pouco desconcertante para ela, visto que ela e Naruto finalmente se tornaram íntimos.

Após algumas horas comendo, rindo e jogando conversa fora, eu me ofereci para ajudar Hinata com a louça. Ela e Naruto negaram e então eu apenas fiquei tomando vinho na mesa, enquanto o recém casal lavava e guardava copos e pratos, numa perfeita sincronia. O jeito como se movimentavam juntos, as trocas de olhares, os toques gentis...era como se eles fossem um só. Eu jamais imaginei que meu melhor amigo um dia agiria daquela forma com alguém. Era bonito de ver. Hinata era a melhor pessoa que eu já tive o prazer de conhecer, e saber que ela estava cuidando e sendo cuidada por Naruto me deixava feliz. Ao mesmo tempo eu os invejava. Porque infelizmente, o fundo da minha alma ainda insistia em gritar o meu desejo de ter alguém para compartilhar mesmo os menores momentos da vida.

Após tudo que passei com Sasuke e com as inúmeras decepções ao longo da vida, eu reprimi e abdiquei qualquer sentimento romântico. Porque eu sabia que deveria aceitar o fato de que não existia isso de romance, amor verdadeiro, ou a pessoa certa. O amor não passava de um conceito ilusório, e eu entendi essa verdade da pior forma possível. Porém, ao observar Naruto e Hinata daquele jeito, tão felizes e tão apaixonados, aquela parte da minha alma que fora silenciada me fazia querer acreditar que o amor pode sim ser bom, ser real, ser possível. Afinal, foi possível para Ino e Sai, Shikamaru e Temari, Chouji e Karui, meus pais –ah como Kizashi e Mebuki fazem falta! - mas não para mim. Nunca para mim. Porque entreguei meu coração à pessoa errada e hoje sofro as consequências. Não. Nunca mais seria possível para mim, eu precisava me conformar.

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