Prólogo

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~ Alguns anos no passado ~

A neve branca cobria todo o horizonte, o choro das duas crianças cessaram quando um par de seios generosos foram ao seu encontro. Na casa velha onde o frio rigoroso permeia através das frestas da porta a mulher olhava sem esperança para as duas crianças, que sugava insaciavelmente os seios que ofereciam leite como uma espécie de trégua para os pensamentos da miserável mulher.

Seus olhos com olheiras e um rosto abatido se mantinha em silêncio, o ruivo do vento quebrava aquela sensação de solidão e abandono.

Os majestosos vestidos e empregados deram lugar a tralhas que o tempo demonstrava ser implacável.
Horas depois uma batida na porta lhe roubou o sono reparador, mesmo fraca se colocou de pé e caminhou para atender.

– Você realmente me encontrou. – Disse a mulher com um sorriso fraco, seus olhos criaram uma fagulha de esperança.

– A quanto tempo, e veja seu estado, nunca vou lhe entender, esse corpo dando forma a vida efêmeras e levianas, que na primeira oportunidade te venderá por dois saco de ouro. – a pessoa misteriosa lhe recriminou, enquanto entrava e observava a simplicidade do lugar. Tinha uma mesa, acompanhada de duas cadeiras, uma cama e um forno com pouca lenha.

As crianças de pele rosada e cabelo amarelo quase desbotado estavam envoltas de pele de carneiro e lã, já a mulher, tremia devido ao frio.

Mesmo recebendo a crítica do visitante inesperado, ela sorriu.

– Eles poderão ser levianos ou não, essas crianças não são uma continuação do meu sonho, eles terão que trilhar seu próprio caminho.
E peço que os ajude a se encontrar.

Mesmo fraca tentando sorrir para ele, o visitante sentou-se de forma bruta na cadeira que arrastou até as duas crianças. Em seu íntimo queria quebrar o pescoço daqueles pequenos demônios, mas se conteve, a pedido de sua mãe.

– Valeu a pena? – perguntou o visitante aquela mulher.

– O ouro pode corromper até o fiel, mas a vida gera milagres que magia ou ouro não conseguiria corromper.

O silêncio parecia se a testemunha daquele dia.

– Eu vejo. – respondeu ele olhando novamente os dois recém-nascidos que segurava a mão um do outro, como se não quisessem se desgrudar.
– qual é o nome deles? – Perguntou o visitante um pouco menos hostil.

– A garota se chama  Achernar, e o garoto Crater.

– Tudo bem mesmo para você? – Indagou para a mulher que estava de cabeça baixa, com cabelos despenteados.

– Essas crianças não merecem eu como mãe, eu não mereço ter eles, eles me lembra. – a mulher iria dizer mas sua palpitação aumentou, e seus olhos encheu de lágrimas.

O visitante apenas a observava em silêncio, sem intenção de julgá-la, apenas se manteve ali com sua expressão inalterável.

– Essa é a última vez que pergunto, realmente deseja isso? – interpelou ele a mulher.

Ela exitou, mas após um curto tempo envolta em pensamentos caminhou até  cômodo velho, abriu a gaveta e tirou um colar duplo de Arco e flecha de tom dourado com uma pequena gema verde no centro.

Ela o entregou ao visitante.

– Mesmo que de longe cuide das crianças, você é capaz de jurar em nome do Deus Argos e das Quatro testemunhas? – perguntou a mulher, embora sua pergunta escondia um pedido de socorro.

– Eu juro em meu nome, diante das testemunhas e do Deus Argos.

Nesse instante um corvo gritou no lado de fora, o visitante ajudou a mulher já debilitada na cama.

– Entregue esses colar no momento certo, as pedras são pequenos fragmentos da minha pedra da A–.

Suas últimas palavras foram incompletas, mas não precisava terminar, o visitante entendia o seu pedido, enxugou as lágrimas. Beijou a testa da mulher sem vida e com jeito cuidadoso pegou os bebês. Deixando a velha casa, enquanto a tempestade de neve consumia seus passos.

O último pedido Vol.02 Onde histórias criam vida. Descubra agora