Marília
eu já estava acordada,vi o sol nascer e pra mim foi como qualquer coisa insignificante,afinal eu vejo ele todo dia e quando eu não vejo,eu estou dopada dormindo na cama.
a minha frente havia uma lâmina completamente cheia de sangue, do meu sangue. meu pulso estava roxo já e completamente banhando pelo sangue que saia, olhei pra aquilo e suspirei pesado. era a única coisa que até o momento fazia minhas crises e dores ir embora.
melhor sentir a dor física do que mental.
me levantei e peguei a lâmina, vou até o banheiro e lavei,guardando novamente na gaveta. olhei pro espelho a minha frente, a única coisa que via era uma pessoa que já havia desistido da vida. meus olhos não haviam mais brilho,olheiras por falta de sono e nenhuma expressão de felicidade ali.
liguei o chuveiro e deixei a água esquentar,tirei minha roupa e entrei debaixo da água quente,sinto meu pulso arder,mas não liguei, tento relaxar um pouquinho,mas é uma tentativa falha.
Deus se você existe mesmo,me leva daqui.
termino meu banho,não podia atrasar pra ir pra aula,tinha que pelo menos tentar ser o orgulho dos meus pais. me enrolei na toalha e fui até o centro do quarto,minha roupa estava separada já, uma calça moletom, a blusa escolar, meu tênis branco e meu querido moletom.
me vesti,arrumei meu cabelo deixando ele solto, peguei minha bolsa e desci, encontrei minha mãe na sala discutindo com meu pai, mais uma vez os dois discutindo por motivos bobos.meu pai não falava comigo e minha mãe tentava fazer o papel de pai e mãe,mas a maioria das vezes ela me magoava sem motivo, não me acostumei com as palavras dela ainda.
- bom dia filha - minha mãe vem até mim deixando meu pai falando sozinho
- oi mamãe - dei um sorriso falso - tenho que ir,não posso me atrasar
beijei a testa da minha mãe e ela sorriu. sim,era um costume nosso de sempre eu dar o beijo como "despedida", até chegar o momento da despedida ser real.
- a única coisa de melhor que faz,só fica trancada naquela merda de quarto - ouço meu pai falar
senti meu olho encher de água,sai de casa rapidamente, sentei na calçada e ali deixei as lágrimas descerem, eu chorava em silêncio pra ninguém que passasse por ali percebesse.
me recompus, voltando a minha pose de forte e de uma pessoa alegre. eu nunca demonstrei meus sentimentos a ninguém,nunca desabafei com ninguém. desde pequena aprendi a nunca contar o que sinto,aprendi isso com meus pais.
fui pra escola andando de cabeça baixa,não queria saber quem estava do meu lado ou se muito menos vinha algum carro,eu só queria chegar logo naquele lugar e fica isolada como sempre fico.
entrei na escola e não olhei pra ninguém,mas eu sabia que todos estavam rindo de mim e debochando. já ouvi tantos comentários desnecessários,mas do que esperar de uma sociedade onde só tem críticas.
"olha de depressiva" " deve ser fogo no cu isso" " só quer chamar a atenção" isso entre outros comentários, eu era a nova da escola,mas por um pequeno deslize meu,uma das meninas da escola me viu saindo da cabine do banheiro com a lâmina na mão, e foi ali que o meu inferno naquele lugar começou.
entrei na sala e fui sentar no meu lugar,o fundo da sala. eu tinha algumas amigas na sala,onde eu podia confiar,mas por medo, não consigo. Luiza e Marcela eram as minhas "protetoras" me perguntavam como eu estava e tentavam cuidar de mim.
- eai loira, comeu antes de vir? - Luiza senta na carteira a minha frente, então era mais fácil da gente se comunicar
- não. - respondi e abaixei a cabeça
- ah,mais uma noite difícil né pequena? - concordei com a cabeça,já podia sentir as lágrimas descerem - você vai ficar bem loira, eu sei disso, você é forte.
olho pra ela e dou um leve sorriso,abaixando minha cabeça novamente. Luiza levanta e sai da sala, ela não é muito de ficar de grude,só com Marcela.
como era cedo e várias pessoas não chegaram ainda fiquei naquela sala sozinha,com várias perguntas rodando minha cabeça,perguntas nas quais sempre aparecem de um jeito.
por que eu tô aqui mesmo? essa vida não faz sentindo mais, nada tem sentindo. o que é a alegria que todos tem,mais eu não? eu vivo em um mundo sem cor.
suspirei pesado, eu estava cansada, de tudo,de todos e dessa vida de merda. quem eu mais temia não iria vir a escola hoje, então seria menos uma dor pra suportar.
(...)
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mi única salvación || mailila
Fiksi PenggemarMarília dias Mendonça,uma adolescente cheia de problemas e a única coisa que passa em sua cabeça agora é desistir da sua vida. será que sua única salvação será essa?