Capítulo 2 - Memórias

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       Quando a densa névoa escura finalmente se dissipou pelo ar aos poucos, as luminárias de teto começaram a iluminar o chão, revelando timidamente um vislumbre do interior do lugar

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Quando a densa névoa escura finalmente se dissipou pelo ar aos poucos, as luminárias de teto começaram a iluminar o chão, revelando timidamente um vislumbre do interior do lugar. Algumas lâmpadas ainda funcionavam, enquanto outras piscavam de forma intermitente, testemunhas da energia que ainda fluía pelo ambiente. Será que realmente havia alguém aqui necessitando de minha ajuda? Ou seria apenas o resultado de alguém que continuou pagando a conta de luz do lugar, esquecendo-se de desligá-las? Essa incerteza pairava no ar, alimentando ainda mais a minha inquietude.

À minha frente, o piso branco revelava alguns ladrilhos quadriculados coloridos, dispersos pelo local em tons vibrantes de azul, vermelho e amarelo. Mais adiante, uma parede com um balcão de recepção metálico e velho, tendo acima um computador antiquado que já testemunhara tempos melhores, quando servia como a recepção do local. Na parede, atrás da mesa, encontrava-se a figura carismática e desbotada de Huggy Wuggy, pintado em um vibrante tom de azul claro. Esse ser humanóide e adorável possuía uma grande boca vermelha, que expressava um singelo sorriso, evitando mostrar os dentes. Seus olhos redondos e brancos com pupilas dilatadas que emanavam um olhar bobo e ingênuo. Ao seu lado, um balão de fala estilo histórias em quadrinhos, pintado em amarelo vibrante, destacava-se na parede, saudando os visitantes com um caloroso "Bem Vindo!". Os braços da pintura estendiam-se como espaguetes azuis, abraçando todas as paredes do local, criando uma presença que um dia já causara a sensação de acolhimento.

À esquerda e à direita dessas paredes, havia uma abertura que funcionava como passagem para as pessoas, semelhante a uma porta de grande altura, com as paredes se estendendo ao seu redor. Nessas passagens encontravam-se catracas de metal, onde os visitantes costumavam fazer longas filas para ingressar na primeira área de visitação, o salão da Play Time Co. Ao lado da catraca direita, no canto da parede, um monitor exibia uma televisão de tubo suspensa, enquanto abaixo dele, um toca-fitas despertava memórias de tempos passados.

Cada passo que eu dava ao adentrar ainda mais no local parecia desequilibrar-me e acelerar meu ritmo cardíaco de maneira inacreditável. Com cautela, aproximei-me do balcão, observando os estragos causados pelo tempo. A poeira havia corroído o material semelhante ao ferro, e ao passar levemente a ponta do meu dedo indicador sobre a superfície do balcão, uma fina camada de poeira se soltou, revelando outra camada mais antiga, uma evidência clara de que esse lugar não era limpo há mais de uma década.

Minha atenção foi imediatamente atraída por algo ao meu lado, acima do balcão. Era uma fita cassete antiga e empoeirada, com uma pintura desgastada em um tom verde claro vibrante. "Quem deixou isso aqui?", questionei-me enquanto a pegava entre minhas mãos para uma análise mais detalhada. Não havia nada escrito na fita, e sua aparência empoeirada indicava que estava ali há muito tempo. "Será que ainda funciona?", pensei, dirigindo-me em direção ao toca-fitas. Por um momento hesitei, preocupado em chamar a atenção dos monstros que abitavam o local, mas que um dia já foram pessoas inocentes, e agora suas mentes estavam corrompidas por causa dos verdadeiros monstros, os chefes da fábrica. Respirei fundo, colocando a fita no toca-fitas e liguei a televisão pressionando o botão fixado nela, preparando-me para o desconhecido que aguardava.

- Olá, meu nome é Leith Pierre e sou o chefe de inovação aqui na Play Time Co Toy Factory. - Aquelas palavras sendo ditas com aquela voz de um homem velho... Mas não qualquer homem, Leith Pierre, ele era um dos chefes da Play Time, ele sabia de tudo o que acontecia, mas assim como os outros só se importava com o dinheiro. - Sê você está vendo isso, então você está invadindo. - Ele disse em um tom sério que permaneceu durante toda a gravação - Sim, nós tocamos esta fita em loop sempre que fechamos a fábrica para o dia... Então invasor, só pra te alertar, essa fita disparará os alarmes de emergência da fábrica que contatará diretamente as autoridades! E esse é um dos mais mansos aspectos do nosso sistema de segurança. Sem spoilers, mas você teve meu aviso, não é tarde pra ir embora. - A fita se encerrou. Eu tinha certeza de que os outros aspectos do sistema de segurança eram os experimentos.

- Olá, meu nome é Leith Pierre... - A fita começaria a tocar em loop, mas eu tirei ela do toca-fitas, e coloquei-a acima dele. Olhando de novo para o salão, percebi que a entrada estava fechada, e acima dela um painel preto com o simbolo de uma mão azul reluzente. Para abrir eu precisaria de um Grabpack, um equipamento que nós, os funcionários da fábrica utilizava-mos para trabalhar. Era uma mochila que no lado esquerdo e direito abrigava um encaixe onde segurava-mos e pressionava-mos o gatilho para disparar duas mãos elásticas que abriam as portas, conduziam eletricidade, e tinham muitas outras funções. Se eu bem me lembro aqui perto tem uma sala onde posso pegar um desses, e eu estava certo, ao olhar para o lado esquerdo vi uma sala trancada que abrigava eles lá dentro, mas precisava de um código para entrar. me aproximei do painel onde eu colocaria o código de cores apertando os coloridos botões em sequência, mas qual era o código?

Fazia tanto tempo desde que eu trabalhei na Play Time Co que nem me lembrava dos detalhes, mas algo em mim sabia exatamente onde encontrar o que procurava. Para funcionários esquecidos como eu, eles deixaram o código gravado no teto de uma das lojinhas de brinquedo aqui dentro. Olhei para a direita e deparei-me com uma parede adornada pelos braços estendidos de Huggy Wuggy, o amigável mascote da empresa. E ali, entre aqueles braços pintados no concreto tingido de branco, avistei a entrada da loja, uma porta de vidro escrito "Loja de lembrancinhas".

Ao adentrar, fui surpreendido pela visão de um cenário que parecia congelado no tempo, era como se ele tivesse parado naquele exato momento, preservando cada detalhe dos dias de glória da Play Time Co. Os brinquedos e mercadorias estavam espalhados pelo chão, como se um furacão tivesse passado por ali. Caixas vazias, bonecas quebradas, jogos de tabuleiro desgastados... tudo estava lá, como uma testemunha silenciosa do passado.

Mas o que mais chamou minha atenção foi o trilho suspenso em formato circular, localizado no teto da loja. Um pequeno trem colorido percorria esses trilhos de metal velho em um loop eterno, com suas cores vibrantes trazendo vida ao ambiente nostálgico. Cada vagão do trem apresentava uma cor diferente, e setas brilhantes quase mágicas indicavam a ordem em que elas deveriam ser colocadas, do último vagão para o primeiro.

Com os olhos fixos no teto, pude decifrar o código gravado no pequeno trem. Era uma sequência de cores que despertou memórias há muito tempo adormecidas. Vermelho, amarelo, rosa e verde. Essas eram as cores que deveriam ser seguidas para abrirem a porta.

Enquanto observava o trem circular em seu trajeto, senti uma mistura de emoções surgindo dentro de mim. Aquele pequeno trem representava não apenas um código, mas também uma conexão com um passado repleto de risadas, diversão e amizade. Era como se, por um breve instante, eu pudesse reviver os dias em que a Play Time Co era um lugar cheio de magia, encanto e diversão, tempos em que eu pensava ser apenas uma fábrica criada para trazer alegria as crianças, tempos antes de eu descobrir a verdade. Com o código em mente, sabia que era hora de continuar.

Poppy PlayTimeOnde histórias criam vida. Descubra agora