Capítulo 3 - Grabpack

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       Com as mãos trêmulas, apertei cada botão do painel na sequência correta, seguindo as cores indicadas

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       Com as mãos trêmulas, apertei cada botão do painel na sequência correta, seguindo as cores indicadas. À medida que os botões eram pressionados, as luzes do painel começaram a brilhar em verde, emitindo um suave zumbido de confirmação. Em um instante, a porta de vidro à minha frente emitiu um som semelhante ao destrancar de uma fechadura, indicando que o acesso estava liberado. Aproximei-me cautelosamente, segurando nas duas maçanetas da porta dupla. Com um movimento suave, elas se abriram para fora, revelando o que se ocultava por trás delas. Uma nuvem de poeira pairava no ar seco, obscurecendo inicialmente minha visão. No entanto, à medida que adentrava a sala, a poeira começava a dissipar-se, revelando gradualmente o interior do local.

       Aquela era a sala de controles, o coração pulsante da segurança da fábrica. Meus olhos percorriam o ambiente, capturando cada detalhe. No lado direito, estendendo-se de parede a parede, havia uma imponente mesa retangular, que servia como ponto central para as operações. Ao lado da mesa, encontravam-se cadeiras de escritório pretas, dispostas como sentinelas silenciosas. Nas paredes da sala, estavam pregados milhares de monitores de tela plana, formando uma visão panorâmica das câmeras de vigilância espalhadas pela fábrica. Era ali que os seguranças exerciam sua vigilância constante, observando cada movimento e garantindo a segurança do local.

           Ao fundo, na parede central, encontrei uma televisão de tubo, remanescente de tempos passados, e ao seu lado esquerdo, um compartimento semelhante a uma entrada de duto de ventilação, que abrigava um grabpack, provavelmente utilizado em situações de emergência. Olhando para a parede esquerda, deparei-me com algumas mesinhas antigas e empoeiradas, que abrigavam computadores envelhecidos, testemunhas do avanço tecnológico ao longo dos anos. Cabos desgastados e teclados sujos mostravam o abandono a que haviam sido relegados.

        As luzes da sala oscilavam, falhando ocasionalmente e piscando intermitentemente, criando um ambiente instável e incerto. A penumbra resultante lançava sombras dançantes nas paredes e nos objetos, ampliando a sensação de abandono e mistério que permeava o lugar. Em meio a essa atmosfera, meus olhos fitaram uma fita cassete velha, repousando sobre uma das mesas. Sua pintura desgastada revelava um azul vibrante, quase desvanecido pelo tempo. A curiosidade despertou em mim, questionando qual segredo ou mensagem poderia estar contido naquele objeto aparentemente esquecido.

       Com cuidado, estendi a mão e peguei a fita cassete desgastada, sentindo sua textura áspera e desgastada pelo tempo. Ao segurá-la, notei que havia um pequeno papel pregado na capa, com a seguinte inscrição: "Tutorial de como usar o grabpack". Aquele papel despertou em mim memórias há muito esquecidas. Recordo-me vividamente do dia em que assisti a essa fita no meu primeiro dia de trabalho. Era uma tradição da empresa mostrar o vídeo para os novos funcionários, como parte do treinamento de segurança. Naquela ocasião, fui orientado sobre como acionar o grabpack e qual era a sua finalidade. O vídeo enfatizava a importância de usar o dispositivo corretamente e alertava para os graves danos que poderiam ocorrer em caso de uso inadequado.         

        Tendo isso em mente seria inútil rever a fita. Concentrei minha atenção no compartimento onde o dispositivo era guardado. Com a determinação impulsionando cada movimento, encaixei meticulosamente meus dedos nos estreitos vãos do duto de ar. Acomodei-me no chão, apoiando os pés firmemente na parede para obter a melhor alavancagem possível. Usando toda a força que eu tinha, puxei com ímpeto a porta do compartimento, travando uma batalha árdua contra a resistência do mecanismo. Após um grande esforço, finalmente consegui arrancar a porta, que tombou com um estrondo, revelando o objeto aguardado. Ali estava ele, o grabpack, completamente empoeirado e com algumas teias de aranha, a tampa do duto descartada no chão testemunhava minha conquista. Ao pegar o dispositivo, senti que ele bem pesado, assemelhando-se a uma mochila cheia de cadernos. Posicionando-o habilmente em minhas costas, ajustei as alças de forma que as mãos articuladas do grabpack descansassem sobre meus braços. Foi nesse momento que minha atenção foi capturada por um detalhe que não reparei anteriormente, a ausência da mão direita, a mão vermelha, que deveria estar presente.

        Com isso eu estava apenas a merecer da mão azul, que pra minha sorte era a necessária para abrir a porta do grande salão. Sai daquela sala e caminhei até a recepção, passei por baixo da catraca e pude ver novamente o monitor reluzente. Mirei a mão esquerda do grabpack e apertei o gatilho, que disparou a mão em uma velocidade tão alta que quando percebi ela já grudou no monitor e o seu cabo metálico elástico estava estendido. Algumas barrinhas começaram a se preencher em tom azul, indicando que a mão estava sendo identificada, e logo a porta de metal começou a se erguer, revelando o salão. Apertei novamente o gatilho e a corda metálica foi puxada rapidamente fazendo a mão voltar, e a porta terminou de se erguer.

        Eu adentrei o salão, adentrando o coração sombrio da fábrica abandonada, com passos cautelosos que ecoavam no vazio opressor. As paredes de metal, enferrujadas e corroídas pelo tempo, pareciam conter os sussurros macabros do passado. À minha volta, uma série de portas metálicas trancadas, agora inertes, evocavam memórias perturbadoras de crianças que outrora percorreram aqueles corredores, alheias ao perigo que espreitava. No centro do salão havia um altar e ao seu redor erguia-se um pequeno monte de caixas de brinquedos empilhadas desordenadamente, como se tivessem sido abandonadas às pressas. Meus olhos, trêmulos de apreensão, foram atraídos irresistivelmente para o foco do meu terror: Huggy Wuggy em toda a sua monstruosidade. O boneco gigantesco, com seus assombrosos 3 metros de altura, erguia-se imóvel, suas formas esguias e distorcidas emanando uma aura de perversidade. Sua pelagem azul-escura era como uma sombra encarnada, parecendo absorver a luz ao redor. A expressão em seu rosto era um enigma perturbador, um sorriso sutil se estendia de uma extremidade a outra de sua cabeça achatada, como se fosse uma máscara de loucura. Seus olhos redondos e imóveis, brancos como a morte, eram penetrantes e frios, com pupilas pretas que pareciam sugar a sanidade de quem os fitasse para preencher o vazio que a ausência de uma alma deixou. E ali estava sua mão esquerda, estendendo-se quase até o teto, um gesto amigável que, naquele contexto sinistro, evocava uma sensação de pavor indescritível misturado com uma estranha nostalgia dos tempos em que aquele gesto era um "Olá" para as crianças que entravam no local.

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