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Levantei os olhos do meu livro que lia para o resumo de literatura e olhei para o relógio redondo da biblioteca. O idiota esta 15 minutos atrasado. Eu suspirei e olhei para a bibliotecária que limpava algumas estantes. Ao me perceber a encarando eu acenei para ela sorrindo inocentemente. Ela me olhou feio e voltou ao seu trabalho. Eu achei graça e voltei a ler. Alguns minutos depois o garoto puxou a cadeira do meu lado se jogando preguiçosamente nela

- Você está atrasado - falei ainda lendo meu livro. Esses burgueses são tão dramáticos pensei lendo os problemas de Anna Karenina

- E? - tirei meus olhos das páginas e o encarei. Ele parecia bem confortável jogado naquela cadeira. Alguma coisa no seu rosto e na sua postura me irritava. Seu desleixo e expressões entediadas - Anna Karenina? Isso é o que russo? - perguntou deitando sua cabeça em cima de seus braços cruzados na mesa. Eu apenas o ignorei

- Você fala muito Anna - ele disse me apelidando. Peguei meu fichário que tinha o ghostface na capa. Abri o fichário na matéria de química

- O diretor me deu uma cópia do seu boletim. Você é péssimo em tudo, mas é pior em química. Então vamos começar por ela

- Você está mesmo levando isso a sério? - disse ainda deitado

- Não é você que me ameaçou para eu não te atrapalhar já que não que ser afastado do time? - falei sem paciência querendo encerrar logo aquela interação

- Você é tão facilmente intimidada?
- perguntou erguendo a cabeça e colocando um cotovelo de apoio na mesa com a mão no queixo. Seu cotovelo apoiava em cima de uma folha minha e eu a puxei o fazendo escorregar. Ele me olhou feio e estalou a língua no céu da boca

- Sua namorada pediu que eu colaborasse para que isso desse certo, mas não adianta se você agir igual uma criança - respondi folheando a matéria

- Você é um porre e Satsuki não é minha namorada. É bom que você não a perturbe - disse pegando sua mochila. Eu percebi o tom de advertência na última frase. Decidi ignorar já que tinha problemas suficientes. Anotei algumas equações sobre balanceamento químico em seu caderno

- Aqui resolva - falei o entregando de volta. Ele olhou do caderno para mim confuso

- Você não vai nem explicar antes? -abri meu livro e voltei a ler. O vi pegar uma lapiseira minha de má vontade e responder as questões. Ao terminar empurrou o caderno para mim. Uma batida de olho e percebi que tinha errado tudo

- Você tem que me ensinar e não me julgar se eu errar Anna - ele disse insistindo em usar o apelido

- Você tem que igualar as duas partes idiota. E para de me chamar assim - ele pegou a lapiseira e uma borracha em formato de panda de meu estojo e voltou a resolver. Eu inclinei a cadeira para trás me equilibrando e vi que uma das luzes da sala estava piscando. Eu tentei lembrar da tabela de código Morse. Vi uma mão grande estalando na minha frente freneticamente e o poste me chamando

- Aí você é uma professora horrível, nem presta atenção no que ensina. Você tem deficit de atenção ou o quê? - falou me zombando. A última parte me fez fechar a cara. Capacitista. Vi que as equações estavam certas então pulei para outro assunto. Ele errou três vezes a mesma pergunta e eu suspirei

- Lê direito porra - falei passando as mãos na testa. Ele se levantou e pegou sua mochila - Aonde pensa que está indo?

- Embora. Não sou obrigado a aturar alguém que me xinga invés de ensinar - revirei os olhos. Aparentemente não era só os burgueses que eram dramáticos. Eu coloquei meus pés na mesa me esticando

- Você vai chorar? - falei com um sorriso de lado no rosto. Não devia ter trocado as aulas em casa para entrar em uma escola. Ele voltou a se sentar com uma expressão de que se divertia em me irritar. O garoto apagou as equações e respondeu exatamente igual tinha feito. O encarei vendo sua expressão inocente

𝑼𝒎𝒃𝒓𝒆𝒍𝒍𝒂-𝐴𝑜𝑚𝑖𝑛𝑒 𝐷𝑎𝑖𝑘𝑖Onde histórias criam vida. Descubra agora