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Eu li os papéis que a borboleta tinha me entregado enquanto o montanha fazia seus exercícios de português. Estava começando a entender o papel de cada posição no basquete. Ele empurrou o caderno para perto de mim e eu olhei as questões. Muita falta de interpretação de texto. Circulei algumas palavras e marquei se estava certo ou errado e o devolvi. Eu voltei a ler os papéis, mas vi que ele estava muito quieto. Olhei para ele e vi que estava me encarando. Levantei uma sobrancelha

- Desembucha - ele falou e eu o olhei sem entender - Você não disse uma palavra até agora, nem mesmo fez uma careta ou tentou me zombar

- Não entendi, quando eu zoou com você só falta você me matar, mas quando fico na minha você fica incomodado? Qual seu problema em? - balancei a cabeça e voltei a ler. Percebi que ele continuava me encarando - O que foi porra?

- Eu te assustei? - perguntou com os olhos semicerrados. O olhei sem entender e pisquei algumas vezes. Me assustar? Só se for com a cara feia dele. Ele levantou a coluna da posição inclinada que estava por ler o livro. Eu estava sentado do seu lado e conforme ele se sentava direito meus olhos subiam. Entendi porque chamam pivôs de postes - Por causa de ontem - eu então me lembrei da joelhada em Wakamatsu e dele arrancando a cesta. Ele parecia meio preocupado. Pisquei mais algumas vezes então cai na risada. Ele fechou a cara automaticamente e virou o rosto

- Mas que fofo você preocupadinho! - falei dando tapinhas em suas costas e ele afastou minha mão - Nós estamos aqui juntos porque eu mandei quatro alunos para o hospital. Acho que vai ter que se esforçar um pouco mais para me assustar - falei debochando e inclinei a cadeira para trás encostando no armário

- Você é um porre - respondeu passando a mão pelo cabelo - Satsuki falou um monte no meu ouvido sobre eu ser idiota e blá blá blá... - ele disse me imitando e inclinando a cadeira para trás

- E ela tá certa. Você é um grande cretino - falei fechando os olhos descansando por um momento

- Engraçado você falar isso sendo que já saiu no soco com metade das pessoas dessa escola sem nem ter terminado um bimestre - ele disse com tom de raiva. Eu abri os olhos e o encarei. Ele sempre estava com o cenho franzido e os olhos semicerrados. Ficaria com rugas assim. Apenas revirei os olhos - O que você faria então no meu lugar ? - perguntou. Eu olhei para o relógio vendo que já tinha dado o horário. Voltei a cadeira para o lugar e me levantei

- Nada, eu nunca falto a um treino para brigar por isso pra início de conversa - falei levantando o queixo

- Talvez você treine muito por saber que é ruim Anna. Eu não treino porque eu sei que sou o melhor - só podia ser brincadeira pensei. Eu lidava diariamente com gente narcisista na patinação afinal é um esporte cruel, mas esse garoto tinha um ego ridiculamente absurdo. Eu coloquei minhas mãos na mesa ficando perto dele

- Todo mundo pode ter um dom, mas sem treinamento será deixado para trás - eu falei com uma voz dura. Ele sorriu me zombando

- Você acha mesmo que só com esforço alguém consegue ir para as olimpíadas? - ele disse próximo do meu rosto me provocando. Eu agarrei a gola dele já sem paciência

- Não acho. Afinal temos que fazer mais que só quicar uma bola e arremessar em um aro - estávamos quase saindo no tapa quando a porta foi aberta de repente

- Oi gente eu não quero atrapalhar, mas... - a borboleta olhou para nós sem entender. Ela analisou nossas expressões e linguagem corporal com certeza vendo que tínhamos brigado - Vocês estão brigando? - nós dois rapidamente nos afastamos

- Não - falamos ao mesmo tempo. Ela olhou de um para o outro e suspirou

- Eu vou fingir que acredito - a garota disse entrando na sala - Vim te chamar para almoçar comigo e as garotas

𝑼𝒎𝒃𝒓𝒆𝒍𝒍𝒂-𝐴𝑜𝑚𝑖𝑛𝑒 𝐷𝑎𝑖𝑘𝑖Onde histórias criam vida. Descubra agora