Pedaço do céu

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Essa one germinou graças a uma sementinha que tá lá no capítulo 11 de Deleite: "Você virou família pra mim, Soraya. E não é de hoje. Não é do segundo turno pra cá. Nem de quatro anos atrás. É... de muito, muito tempo. Eu acho que... a primeira vez que eu te senti como família foi quando você pegou a Mafê no colo pela primeira vez, no aniversário de cinco anos dela".

Enfim, a história vai ser sobre esse aniversário da Mafê. A data é fictícia, mas eu pretendo levar vocês pra um autêntico aniversário de criança do começo dos anos 2000. Procurem por 'Pedacinhos de Nós — a playlist' no Spotify, deem play nas músicas quando elas aparecerem por aqui e sejam felizes ❤





Campo Grande, sábado, 3 de maio de 2003.




— Mãe?

A vozinha de Isabela denunciou seu nervosismo. A pequena estendeu o ã durante um par de segundos, um tanto manhosa. Com as mãos em dez para as duas no volante de seu carro, Soraya encontrou o olhar da filha pelo retrovisor interno e sorriu.

— Fala — ela também estendeu o primeiro a, igualando seu tom ao da menor.

— Quantas crianças você acha que a Mafê convidou pra festa?

— Eu não sei, meu amor, mas eu acho que várias, né?

— Mmm — foi a única resposta de Isabela a isso.

Em seguida, ela baixou um pouco a cabeça. Suas mãozinhas estavam entrelaçadas em seu colo e ela movia os dois polegares sem parar, fazendo-os esbarrarem um no outro. Soraya conseguia sentir o coraçãozinho apertado da filha em seu próprio peito.

— Ei, olha aqui pra mamãe — virou-se para ela assim que parou no próximo sinal vermelho. Falava com toda a doçura que cabia em sua voz. Isabela obedeceu. — Não precisa ficar nervosa. A Mafê é a aniversariante. Ela vai ter que dar atenção pras outras crianças também, mas foi você que ela escolheu ter como irmã. Não esquece disso.

A pequena sorriu, evidentemente mais tranquila. Sentadinho ao seu lado direito, estava um Stitch de pelúcia grande o suficiente para encaixar-se perfeitamente no abraço de uma criança do tamanho de Isabela ou de Maria Fernanda, com as pernas macias ao redor de seus quadris. Na semana anterior, durante um happy hour entre as duas, Soraya perguntara a Simone o que ela achava que sua mais velha gostaria de ganhar em seu aniversário de cinco anos.

— Se você achar qualquer bugiganga de Lilo e Stitch e der pra ela, ela vai ficar radiante — respondera a morena. — Ela anda fissurada!

O Stitch escolhido na loja de brinquedos por Isabela havia sido embrulhado em um papel celofane transparente coberto de estrelinhas amarelas. Um laço da mesma cor amarrava o pacote acima da cabeça do boneco.

— Mas assim ela vai saber de cara o que é — dissera Soraya à filha, ainda na loja de brinquedos, assim que ela escolhera o papel de presente. — 'Cê não quer colocar ele numa caixa e embrulhar?

— Não — respondera Isabela, decidida, com o Stitch no colo. — Ele é fofinho demais pra esconder.

No carro, a caminho do salão de festas que ficava no condomínio onde a irmã de Simone, Eduarda, morava, Isabela esticava o braço direito na direção do bichinho de pelúcia, protegendo-o, sempre que Soraya fazia uma curva mais fechada ou freava um tanto mais bruscamente, como se fosse um cinto de segurança. Sempre que observava isso, atenta ao retrovisor, Soraya sorria, derretida. A camiseta de mangas longas que a pequena vestia, com uma estampa das Meninas Superpoderosas, era de um azul elétrico que combinava com o Stitch. Os tênis All-Star azuis dela também combinavam. Até isso enternecia Soraya até não poder mais. De calça jeans e ondas rebeldes soltas — ela não gostava que a mãe prendesse seu cabelo longo em tranças ou marias-chiquinhas (no máximo um rabo-de-cavalo quando fazia muito calor) —, a menina mantinha os olhinhos fixos na janela traseira esquerda, ansiosa por dar um abraço de feliz aniversário em sua irmã de catchup.

Pedacinhos de Nós (Simone e Soraya)Onde histórias criam vida. Descubra agora