Capítulo 8

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   Mal consegui dormi direito no fim de semana, não conseguia parar de pensar na declaração de Josh. Quer dizer, ele realmente gostava de mim daquele jeito? Não, mas... mesmo que seja isso, eu sempre gostei de garotas. E eu tinha certeza de que Josh estava apenas me provocando, no entanto quando ele falou aquilo com tanta certeza, eu não pude evitar de concordar em pensar. Eu não queria rejeitá-lo apenas por ele ser um garoto.
   Eu ainda estava distraído quando Theo colocou a cadeira ao lado da minha e me cutucou com o cotovelo. No instante em que o professor deixou a sala, Tyler se posicionou de frente para a turma. Quando ele agia com o representante nem parecia a mesma pessoa que implicava com Theo. Ele era mais alto do que eu e transmitia tanta confiança que era impossível ignorar a sua voz.
   Os garotos da sala ficaram em alvoroço depois do aviso de Tyler sobre o festival anual escolar. Eles tentavam convencer as garotas a participarem de um Maid Café para que a nossa turma fosse eleita a melhor. Os secundaristas ficaram responsáveis pelo tema de entretenimento. Mas estava bem óbvio que a intenção deles era vê-las usando roupinhas de empregada. Eu já tinha lido sobre esses fetiches no mangá Kaichou Wa Maid-sama.
   Por fim, elas concordaram em organizar o Maid Café, mas só fariam isso se alguns deles também se vestissem dessa forma. Elas tinham um sorriso diabólico nos rostos. Quando provocadas garotas podiam se tornar assustadoras. De certo modo, a proposta delas era um tanto justa, dos vinte e cinco alunos da turma apenas dez eram garotas. Um pouco relutante os garotos aceitaram a oferta delas.
   — O que achou da ideia? – quis saber Tyler sentando na cadeira à nossa frente.
   — Acho que pode dar certo – respondi sendo bem sincero.
   As garotas pareciam mais empolgadas agora que teriam cinco garotos para vestirem como quisessem. Elas ficaram responsáveis pelas fantasias e a decoração, enquanto o restante dos garotos arrumaria a sala e prepararia as bebidas e comidas que seriam servidas.
   — Sinto que ficamos com a parte mais difícil – reclama Tyler. — Provavelmente nenhum deles saiba cozinhar.
   — Hã... eu posso trazer as comidas se vocês se comprometerem em conseguir fazer as bebidas.
   Eu semicerrei os olhos e virei para o meu lado direito para encarar o Theo.
   — Acredito que não dê para servir macarrão instantâneo – provoquei lembrando da vez em que ele cozinhou para mim.
   — O quê? – indagou Tyler, sem entender.
   — Aquilo foi uma exceção – se defendeu Theo um pouco envergonhado. — Eu normalmente costumo cozinhar, é só que estava de noite e eu meio que estava com preguiça. E me pareceu uma opção bem prática.
   — Hum. Macarrão instantâneo – repetiu Tyler quase que para si mesmo apoiando o dedo indicador dobrado na boca.
   — Dá para você esquecer isso – pediu Theo corando.
   Acabei deixando ele nas mãos de Tyler que estava se divertindo com suas provocações e então os olhos de Theo brilharam.
   — Eu posso fazer você esquecer o que ouviu – disse ele ficando de pé.
   — Não, vai rolar. Os seus socos doem demais.
   Eles estavam tão distraídos um com o outro que ousei abrir um sorriso. É, acho que pode dar certo, se isso significar que Tyler e Mattheo vão continuar se dando bem até o final do festival. As coisas entre os dois parecia estar melhorando.
   — Nick, depois da aula você vem comigo. Nós vamos passar em algumas cafeterias e casas de chás para pesquisar as bebidas – disse Tyler e eu concordei com a cabeça.
   Theo lhe lançou um olhar fulminante. De repente o clima ficou pesado. Talvez com sorte conseguíssemos sobreviver até o final do festival.
   — É mais seguro ele ficar comigo experimentando as comidas.
   — E-eu... não como doces – respondi e Theo fechou os olhos suspirando como se recordasse disso naquele instante.
   — É, então parece que eu ganhei essa. Nick fica no meu grupo – se gaba Tyler.
   — Grupo? – indagou Theo.
   — Claro. Sobraram dez garotos incluindo a nós. Cinco deles vão ficar comigo estudando as bebidas e os outros cinco vão ficar com você preparando os bolos e demais doces.
   — Teremos apenas algumas semanas para preparar tudo – comentei.
   — Bem, se é assim, acho que me preocupei à toa.
   — Sim. E o meu pedido de desculpas? – Tyler não perdia a oportunidade de provocar Theo.
   — Vai sonhando.
   Theo se levantou colocando a cadeira de volta no lugar e pegou a sua mochila.
   — Tá bom, eu deixo essa passar. Mas não traga macarrão instantâneo.
   — Você... vá se ferrar.
   Theo caminhou em direção a porta e nós o seguimos.
   — Olha boca, eu ainda sou o representante de turma.
   Ele o ignorou e parou em frente a sala abrindo a bolsa para tirar um pirulito que entregou a Tyler.
   — Foi mal pelo modo como eu agi – falou ele.
   — Isso é... – começou Tyler.
   — Não diga nada – retrucou Theo o interrompendo.
   A tensão nos meus ombros se desfez. Quando eles queriam conseguiam conviver sem brigas.
   — Eu ainda preciso passar na sala do comitê estudantil para informar o que decidimos.
   — Tudo bem. Eu espero lá embaixo com os outros garotos – respondi.
   Tyler seguiu por outro corredor com a pilha de papéis na mão enquanto Theo tentava espiar pelas janelas o que as outras turmas estavam planejando.
   — O que será que a turma de Lauren fará? – perguntei
   — Aposto que em breve ela virá nos dizer.
   — Não contaria tanto com isso. Cada sala vai tentar o seu melhor para ganhar e como representante duvido que deixaria algo escapar.
   Cinco minutos depois lá estava Lauren diante de nós me contradizendo. Ela simplesmente contou o que a sua sala apresentaria, não com riqueza de detalhes,  mas contou.
   Como a especialidade de uma líder de torcida eram as coreografias, a turma da Lauren — que continha alguns desses integrantes — decidiu como entretenimento fazer um show de kpop.
   — E qual grupo vocês vão ensaiar? – perguntei.
   — As meninas escolheram Cosmic Girls, por ter um número maior de garotas no grupo. Já os garotos vão se apresentar como o BTS – disse ela animada.
   — Parece que vocês também farão de tudo para ganhar – comentou Theo.
   — Sim, pode esperar por isso.
   Percebi o quanto o festival era competitivo. Nenhum dos alunos das quinze salas da escola pretendiam perder. Pessoas de fora da escola viriam para assistir e o evento serviria como uma forma de conquistar novos alunos para o ano seguinte. Lauren se despediu e correu para entregar os papéis para o comitê.
   Todos estavam tão ocupados provavelmente não conseguiria ver o Josh por um tempo até as coisas se acalmarem. Ele disse que gostava de mim, então será que sentiria a minha falta? Cobri a boca com uma das mãos enrubescido. Mas o que... ? Eu acabei pensando nisso de novo. O que exatamente sentia por ele?
   Esbarrei com alguém quando viramos no final do corredor. O impacto me fez despertar dos meus pensamentos.
   — Desculpa – pedi.
   Levantei o olhar e encarei o garoto loiro parado na minha frente. O meu coração começou a palpitar mais rápido, talvez fosse só coincidência ele ter saído do compasso justo naquela hora.
   — Ah, Jo... – comecei mas minha voz sumiu quando Josh passou a mão na minha cabeça no lugar onde tinha batido.
   — Isso me faz lembrar do nosso primeiro encontro.
   Theo estava um pouco mais adiante voltou quando percebeu que eu havia sumido do seu lado.
   — Oi Josh, tudo bem?
   — Oie! – respondeu ele sorridente, ainda passando a mão no meu cabelo. — Vocês já estão indo embora?
   — Sim. A nossa turma se dividiu com os preparativos e nós vamos comprar os materiais agora – explicou Theo.
   — Ahn... já parou de doer – digo.
   — Huh? Oh, desculpe.
   Ele se afastou e acenou de longe, voltando para dentro da escola.
   — Apesar da competição entre as turmas, não esqueçam de se divertir – falou antes de desaparecer no corredor.
   — Vocês parecem estar se dando bem.
   — É – concordei.
   As mãos de Josh pareciam tão quentes e aconchegante.
   Theo saiu do prédio correndo e se juntou ao resto do grupo que esperava por ele na entrada da escola.
   — Podemos ir. Falei com a minha namorada, e ela me deu uma lista do que vão precisar para a decoração da sala.
   — Na-namorada? Você tem uma namorada, Tyler? – indaguei surpreso.
   — É. Tenho. Pensei que soubesse.
   Eu estudava com eles há mais de três meses e só tinha escutado sobre isso naquele momento. O quanto eu realmente conhecia das pessoas que considerava os meus amigos?
   Durante o caminho Tyler me contou que a sua namorada era da nossa turma e além de ser otaku também era uma fujoshi, por isso costumava ser reservada. E eu entendia bem ela querer isso. A vida de um fudanshi não é fácil e deve ser mantida nas sombras.
   Ele disse que ela gostava dos mangás que tinham ukes delinquentes. Os ukes eram chamados os personagens que são passivos. Eles são fofos e chorão porém psicologicamente é o mais másculo.
   A namorada dele falou que gostava dele por ser assim, mas que não o via em um enredo bl. E Tyler adorava ver ela se divertindo enquanto falava das histórias que lia. Ele a achou muito fofa e se apaixonou por ela. Os dois estavam juntos desde o ano passado.
    Eu fiquei um pouco aliviado em saber que ele já tinha alguém que gostasse. Daí o Josh não precisaria se preocupar em... Os meus pés pararam de se mover. Eu estava começando a considerar a possibilidade de um relacionamento? Ainda não conseguia compreender esse tipo de amor entre pessoas do mesmo gênero, mas quando pensava em Josh era diferente. Eu disse a mim mesmo que não poderia deixar isso acontecer comigo. Mas acho que talvez o que eu sinta por ele esteja além de um "gostar" de colegas de escola. Definitivamente estava além disso.

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