Cap.35 - Superando o trauma (Parte I)

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E finalmente Laila dá o 1º passo para superar o medo descontrolado que sente de Matheo. Mas, será que ele vai conseguir o perdão dela?

E, mais além... Será que Laila vai conseguir se livrar dos monstros do passado e finalmente assumir seu amor por ele?...

Não deixem de conferir este e os próximos capítulos, imperdíveis, que estão por vir...

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(quarta-feira)

Laila retornava tranquila da escola.

Não havia alterado sua rotina ainda, imaginando que a pior pessoa do mundo devesse levar mais um dia para chegar, conforme a carta de Rei Miguel para seu pai.

Diante da porta de serviços, foi descendo da carruagem distraída e um tanto atrapalhada, segurando um livro volumoso no braço junto com o vestido, apoiando a outra mão na lateral do carro para dar-lhe sustentação...

Desatenta, nem notou quem se aproximava.

Assim que pisou o chão, Matheo surgiu de trás de uma pilastra e veio a passos firmes na direção dela.

— Boa tarde, Alteza.

E não foi necessário mais nem um gesto para que Laila travasse. Perdeu o equilíbrio no ato, derrubando o livro que carregava, pego por ele no ar em um reflexo impressionante. Ainda atravessou a cintura dela com o outro braço, a escorá-la para que não se estatelasse no chão.

— Está tudo bem? — indaga, uma voz doce, calma, olhando para ela, admirado, enquanto emitia um sorriso gentil.

Laila, zonza, encarava-o com os olhos estatelados, apavorada, esforçando-se para firmar as pernas no chão.

— Acho que sim... — intimidada, desviou o olhar daqueles olhos escuros, de um brilho intenso, misterioso... Indecifrável.

— Jafé, leve o livro de Sua Alteza, por favor. — e esticou o objeto para o menino, ainda a apoiá-la contra o seu corpo. — Imagino que esteja indo ao Salão de Refeições.

— Sim... — e não havia meios de fazer com que a voz saísse direito.

— Permita-me acompanhá-la? — e, assim que a ajudou a firmar os pés no chão, serviu-lhe o braço para conduzi-la até lá, onde todos aguardavam.

Era evidente que não havia escapatória.

Tudo de novo, Meu Deus... Quando é que isso terá fim? E Laila repetia a emblemática pergunta, enquanto dava os primeiros passos na angustiante companhia, rumo ao corredor principal.

Mesmo que a atenção que ele despendesse a ela, desde o dia que a levara para a casa da colina, sinalizassem o contrário, Laila não conseguia acreditar naquela mudança repentina de atitude. O medo e a certeza de que era ela o alvo da fúria descontrolada daquele homem, pareciam sobrepor-se a qualquer constatação lógica que pudesse fazer.

Mal pisaram o corredor e novamente um lapso a acometeu.

Matheo a reteve no mesmo instante, segurando-a firme pelo braço com a mão que estava livre.

Laila, outra vez, precisou de um esforço incomum para manter-se de pé.

O sentimento de impotência e o mal súbito que a presença dele a arremetia, conseguiam ser ainda piores que o ódio em si.

— Podemos seguir? — ele pergunta, dócil, com a mão entrelaçada a dela, percebendo o quanto ela tremia sem controle.

Recebeu um breve aceno, o que, para ele, era mais que suficiente.

Ao notar que estava estável, Matheo decidiu ir um pouco mais à diante. Tirou a mão que apoiava o braço dela para levantar o rosto delicadamente pelo queixo e olhá-la nos olhos, já que Laila insistia na cabeça abaixada.

Quando, não sendo capaz de se esquivar, ela fixou os olhos nele, deixou escapar uma lágrima que não conseguiu evitar.

Ele, com uma sutileza ímpar, esfregou o polegar debaixo do olho, acariciando o rosto dela de leve. Estava novamente fascinado. Um sorriso meigo nos lábios, algo que guardava só para ela, e um olhar apaixonado, indissimulável...

Mas Laila não era capaz de enxergar aquele ato afável, tão menos, retribuir. Em milésimos, desviou o olhar, acuada como nunca.

Matheo, impetuoso por natureza, estava mais do que determinado a fazê-la superar o medo extremo. Não conseguia mais suportar vê-la agindo daquela maneira, tampouco, passar ainda mais tempo longe dela, contando com a sorte que isso, um dia, fosse atenuar o pavor, conforme Herbert havia sugerido. E percebia que ela parecia, lá no fundo, querer o mesmo. Por isso insistiu em continuar ali, a levá-la até o Salão.

Seguiram caminhando em ritmo bem lento. Ele com os olhos fixos em Laila, para se certificar de que estava bem. Ela, espremendo o braço dele para tentar preservar o equilíbrio, mantinha os olhos colados ao chão, como se caminhasse sobre um terreno de espinhos, respirando curto, buscando manter a calma e a lucidez.

Mas não era capaz de controlar o temor. Seu lado racional, o tempo todo, queria fazê-la aceitar a convivência, mesmo que forçada.

Já o emocional... Sempre conseguia se sobrepor, levando-a de volta ao pânico por fazê-la crer cegamente que ele só queria seu mal.

Laila deu mais alguns passos, mas não durou muito.

Matheo só sentiu um peso abrupto a pressionar seu braço e imediatamente a reteve no colo. Ela tinha apagado de vez. Outra vez...

Com Laila desacordada nos braços, ele não soube o que fazer.

Sem pensar muito, invadiu a primeira sala que estava ao alcance.

Era uma saleta estreita e comprida. Pequena se comparada às demais do Castelo. Não haviam sofás. Somente confortáveis poltronas vermelhas de madeira com braços, similares às que adornavam o corredor, entre mesinhas de canto.

Matheo a pôs numa cadeira encostada na parede, ajoelhou-se em frente e ficou segurando a cabeça dela, mantendo a outra mão entrelaçada às dela para aquecê-las, pois estavam gélidas.

E ali permaneceu, em sentinela, até que Laila começasse retomar os sentidos, angustiantes minutos depois.

— Quer que eu chame sua mãe? — ele pergunta, delicado, assim que ela abriu os olhos. — Ou Elisa? Doutor Euclides...?

— Não... Não precisa. — e tentou levantar a cabeça que parecia feita de chumbo. Os olhos ainda viravam, acometida pelo mal estar sem precedentes.

Matheo a ajudava a manter a cabeça ereta, mas aquilo parecia impossível para ela.

Sem outra solução ao alcance, decidiu trazê-la e apoiá-la em seu ombro.

Laila nem relutou. Ficou lá, com o rosto enterrado naquele pescoço largo, respirando curto, com dificuldade, aspirando o cheiro dele.

Definitivamente não queria passar por tudo de novo. O médico a examiná-la, os pais apavorados, Elisa gritando sem rumo...

Matheo, por sua vez, parecia uma outra pessoa. Dócil, afável, cauteloso, não sabia mais o que fazer para agradá-la.

E ali ficou... por um bom tempo... delirando... com Matheo acariciando seu cabelo.

De repente, do nada, ela começou a chorar. De pânico, ódio, medo... Não se sabe. Mas em seu estado delirante, seria impossível constatar a razão.

Matheo intensificou os afagos para passar-lhe algum conforto. E mantinha a mão entrelaçada as dela, como se tentasse ajudá-la a superar a angústia.

Eis que, do nada, ele começa a ouvir palavras avulsas, incompreensíveis, soltas ao vento...

(COMPLETO) Laila Dómini - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora