Cap.42 - Reunião entre amigas (Parte II)

445 78 2
                                    

Momento atrevimento, romantismo, arrependimento... E tem um pouco de tudo por aqui. Deleitem-se, meus amores... ;-)

❤︎ ❤︎ ❤︎ ❤︎ ❤︎ ❤︎ ❤︎ ❤︎ ❤︎ ❤︎

Como nada aconteceu, Laila voltou a participar da conversa que já tinha migrado para outro tema.

E não correu mais que dez minutos depois do susto, para que Lourdes viesse chamá-la, anunciando que um rapaz altivo e muito "vistoso" estava à espera dela para levá-la embora.

O dia já se despedia.

Laila, não entendendo o que a dama quis dizer com "rapaz altivo", despediu-se das amigas, agradecendo especialmente à anfitriã pela tarde incrível, e desceu ao encontro do referido, que contava ser Jafé, mas que não batia com a descrição de Lourdes.

Assim que atravessou a porta, lá estava ele, encostado na pilastra, o braço cruzado, o sorriso displicente no rosto, informal, confiante e inteiramente à sua disposição para levá-la para casa.

Laila ficou em choque por segundos com a audácia daquele homem, que se aproximava dela devagar...

— Pronta pra partir, Alteza?

Ainda pasma, só lhe restava concordar.

Lourdes assistia à cena juntamente com Anabella e foram invariavelmente surpreendidas pelo charme e atitude daquele homem imponente.

Matheo desamarrou o cavalo, trouxe próximo à princesa, segurou-a pela cintura e a ajeitou sobre o animal para deixar a casa e a curiosidade da anfitriã ainda mais aguçada. Era certo que aquele "encontro" fomentaria meses de assunto no grupo das amigas da Escola.

— Passou um bom dia com as amigas? — fazendo-se de interessando.

— Sim, muito adorável. — Laila não queria dar margem para a conversa.

— Fico feliz em saber, mas me preocupo que tenha saído sem a companhia de algum guarda. — e aproveita para chamar a atenção sutilmente.

— Não me senti insegura em momento algum. — e não disfarça a impaciência.

Matheo acha graça, rindo para si mesmo.

— Voltaram rápido de Corientes.

— Nada muito trabalhoso... — percebendo o desapontamento no comentário.

— Sei...

Logo depois, ficaram em silêncio.

A cavalgada, como sempre, a levava a um estranho estado de relaxamento. Eis que, tomando liberdade, recostou a cabeça no ombro dele e relaxou de vez.

Matheo, em êxtase, ainda não acreditava que a tinha, novamente, grudada a seu corpo. Ajustou-se com cuidado para permitir que Laila ficasse o mais confortável possível e não deixou de notar o decote ousado, certamente, não pensado para estar ali com ele.

Assim que chegaram, ele a ajudou a descer e despediu-se dela transbordando contentamento.

Logo, montou o cavalo e seguiu para a casa na colina.

Ao passar pelo portão, porém, parou o bicho de impulso, saltou e se pôs a correr como o vento. Pulou o muro do Castelo com uma facilidade que colocaria qualquer guarda em desespero, escalou as paredes do prédio principal e, em segundos, já estava na varanda do quarto dela.

Por sorte, as cortinas estavam escancaradas. Discretamente, posicionou-se em um lugar escuro e se pôs a observá-la.

Sem imaginar o risco que a cercava, Laila despiu-se, mantendo somente as vestes de baixo, enquanto Elisa preparava seu banho, o que o levou a loucura.

Lembrou-se da noite que a tivera... O corpo perfeito, o cheiro, a textura da pele...

Como poderia se controlar diante daquela mulher pela qual faria qualquer coisa...?

Estava a um triz de invadir o quarto, raptá-la e nunca mais passar um dia sem ela, quando Lis surge e fecha as cortinas, o que o faz voltar a si e perceber a bobagem que tinha feito. Precisava ser paciente e, acima de tudo, respeitar Laila, o que incluía o apreço por sua privacidade.

Mas não foi embora. Ficou ali, jogado ao chão da varanda, pensando sobre o que ouviu da conversa, enquanto a bisbilhotava com as amigas. Mais uma vez, sua atitude mesquinha pesava sobre as costas ao lembrar-se da reação dela; a tristeza em seu olhar, quando conversavam sobre casamento, núpcias...

Atinou-se outra vez para a gravidade do que tinha arrancado dela, independentemente se a vingança era legítima ou não.

Para piorar, não fazia a mais rasa ideia de como recompensá-la; de como se redimir e fazê-la parar de sofrer, se é que havia alguma forma.

Estava se martirizando em pensamentos, quando escuta a porta do quarto abrir-se de repente. 

Deu um pulo para o pequeno balcão no andar de cima e ficou ali, oculto, a observar Laila debruçar-se sobre o parapeito. Ela vestia uma camisola branca de renda, colada ao corpo até a cintura, e cetim, que partia da cintura alargando-se até o chão. Estava encantadora com aquela veste, o cabelo solto, escovado, os pés descalços, o semblante sereno...

Logo depois, ela deixou o parapeito e deitou-se na chaise ali mesmo.

Ficou pensando... Pensando... Os olhos mirando o nada, ora tristes, ora sorrindo. E, sem se dar conta, pegou no sono.

Ao perceber que cochilava, Matheo resolveu descer para curti-la mais de perto. Agachou-se ao lado e ficou incontáveis minutos encarando-a quase sem piscar.

Ajeitou delicadamente a mecha de cabelo que caía sobre rosto, passou de leve a mão pela testa, afagando-a, ainda enfeitiçado pelo cheiro que, se dependesse só dele, não passaria mais um segundo sem.

Sentiu também uma vontade quase incontrolável de beijá-la, como da primeira vez que a viu.

Bem... A primeira vez que a viu como uma mulher feita; donzela... Linda, em trajes de banho, embora confusa e abatida, depois que ele a tirou do mar e a pôs deitada sobre a grama fina do morro que cercava a pequena praia. 

Não soube interpretar que sentimento era aquele que surgiu, avassalador, no dia em que a salvou. Mas agora sabia exatamente o que é. O que sempre foi, na verdade... E, novamente, a culpa recaía sobre as costas, por ter descoberto tal sentimento já tarde demais, após causar a ela um mal irreversível, que quase foi capaz de arrancá-la dele para sempre.

Mas não havia mais espaço para o arrependimento... 

Ele jamais admitiria para outrem, mas já tinha se arrependido muito.

Porém, decidiu não mais remoer o passado.

O que está feito, está...

Agora só pensava no futuro. O almejado futuro...

Dos sonhos mesmo...

E só havia um jeito de tornar seu futuro viável... Com ela a seu lado.

O que fazer e como fazer para que aquilo que sentia por ela fosse recíproco ainda era um mistério. Mas não desistiria, jamais, de tentar por bem, pois finalmente tomara consciência de que era a única forma de tê-la plena, de verdade. E de coração...

• • •

O tempo corria e nada dela acordar. Sequer se mexia. Eis que Matheo decide tomá-la nos braços para colocá-la na cama.

Ela revirou-se, variou, chegou perto de acordar.

Matheo parou, aguardou... Depois continuou o trajeto e a ajeitou sobre o leito, cobrindo-a com a colcha macia.

Laila revolveu-se novamente, mas o sono prevaleceu.

Ele beijou sua testa e saiu, encostando a porta da varanda, realizado.

Impulsivo por natureza, ainda pensou em passar o resto da noite lá, ao relento, para ficar perto dela, mas a felicidade que sentia lhe trazia uma calma, uma rara racionalidade que o levou de volta para casa.

(COMPLETO) Laila Dómini - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora