— O tempo é sempre o melhor remédio, Matheo. E esse tempo terá que ser dado a Laila pra que ela supere o pavor que sente de você. Pois, tenha certeza, é horrível pra ela também. — e conclui, não exatamente convencendo o amigo de que propunha um caminho eficaz. — Enquanto você estiver ausente, por exemplo, em alguma missão, isso dará a ela uma enorme tranquilidade pra retomar a rotina, pois saberá que não está por perto.
Matheo, com uma feição cética, encarava o amigo de pouco caso.
— Não acho que isso vai dar certo. — e quebra o silêncio. — Pra mim o confronto sempre funcionou muito bem. Qual foi o invasor que deixou de fazer o que queríamos ou confessar o que perguntávamos, sob pressão?
Herbert pacientemente contestou:
— Discordo nesse caso, Matheo. Pois ela não fez nada de errado. Quem fez foi você, tirando dela o que tinha de mais precioso. Lembre-se disso! E é você que quer voltar atrás nesse erro. Não ela. — e coloca um ponto final nas ideias radicais do amigo, fazendo-o se enfurecer ao relembrá-lo do pior erro de sua vida.
— Nesse período da ausência, você poderá fazer algumas abordagens à Laila, quando eu disser pra fazer! Com o intuito de testar como ela está respondendo ao nosso plano. Ou não...
Matheo não falou nada, mas mudou de leve a feição de contrariedade. Se havia entendido, vez ou outra estaria liberado para se aproximar de "sua mulher".
— E eu devo estar junto em todas as vezes para auferir nosso progresso! — Herbert se impõe, provocando outro olhar de discórdia no amigo. — Assim que conseguirmos que ela supere o medo, iremos para a segunda fase do plano: o da aproximação.
Pelo título, Matheo já se pôs animado.
— Nessa etapa, diferente da anterior, você deverá estar mais presente que nunca na vida dela e deixá-la saber tudo o que tem feito por ela e pelos pais. Irá se tornar o fiel escudeiro do Rei e ficará enfiado na rotina do Castelo, tornando-se praticamente um membro da família. Laila passará a conviver com você a contragosto no início. Mas, com o tempo, ela deve se acostumar a sua presença e poderá até enxergar algumas de suas qualidades.
O amigo parecia animado.
— Mas essa fase vai precisar de muita, mas muita dedicação mesmo... E você terá de se superar pra surpreendê-la. Entendeu???!
Herbert recebeu um breve aceno, ainda com um olhar desconfiado.
— Depois de muito esforço, com sorte, ela passará a não odiá-lo mais. Daí, entramos na terceira fase: a de conquistar a confiança dela. E é aqui que começa um contato mais próximo propriamente... — prevê Herbert. — Você vai precisar criar oportunidades de estar com ela e somente com ela... Mas muita atenção!! Se ela perceber que você está interessado, pode querer te testar de todas as formas até te levar à loucura. E você terá que ter muita paciência, já que se forçá-la a qualquer coisa por orgulho ou impaciência, voltamos à fase zero, escutou??! FA-SE ZE-RO. — e repete sílaba por sílaba.
— Mas eu não faria isso.
— Com certeza sim! Você trata tudo dessa forma. — e faz Matheo recuar. — Nessa fase o objetivo é ir gradualmente conquistando a confiança dela até finalmente, alcançar o seu amor. — e conclui, deixando o amigo estarrecido com a proposta.
Matheo seguiu encarando Herbert, a respiração curta, o olhar de raiva, mas sem qualquer outra reação.
— Sei que o caminho é árduo, meu amigo, mas se quiser tê-la de verdade, essa é a única chance. — e não perdeu a oportunidade de emitir-lhe outro olhar inconformado.
Ele seguiu quieto, pensando, recostado à parede da Taberna, olhando Herbert de canto de olho, até que...
— Se tem que ser dessa forma, então... Que seja... — e se aproximou do amigo para apertarem as mãos.
Herbert tinha dito a verdade, sem esconder o jogo ou iludi-lo. Sabia que as chances do amigo eram próximas a zero, mas dividiu o plano mesmo assim.
Não havia outra possibilidade para Matheo senão, a de topar aquela epopeia, dispondo da paciência que nunca teve, pois queria pelo menos ter a chance de conquistá-la de verdade. E, para o bem dos dois, esse era o único caminho viável.
Herbert ficava aflito só de pensar em um nem tão distante fracasso.
• • •
Assim que encerraram a conversa, Matheo foi encontrar-se com Patrick e Pablo no interior da Taverna, deixando Herbert para trás, imerso em uma avalanche de pensamentos.
É um fato que aquele seria o divisor de águas na vida de todos eles.
No melhor cenário, Matheo se estabeleceria pelo resto da vida em LaViera, tornando-se provavelmente seu futuro Rei. E no pior, sumiria com Laila pelo mundo, sem nunca mais ter contato com qualquer um que tivesse conhecido. E não duvidava nada que o amigo fosse capaz disso. Por isso, tinha ciência da mudança inevitável na vida deles.
Ainda não podia dividir com Pablo e Patrick o que estava para se suceder, mas tinha convicção de que nada seria como antes.
Ficou um tanto abalado e saudoso diante da constatação.
Pensando com mais calma em tudo que passaram juntos, é certo que aquele modo de vida não duraria para sempre. Ficar o resto dos dias correndo atrás de invasores, vivendo de recompensas, sem paradas fixas, sem compromissos, livres ao sabor dos ventos... Tinha que se acostumar, adaptar-se e aceitar as mudanças inevitáveis da vida.
• • •
Laila acabou passando o dia sem sair da cama. Nem desceu para jantar com os pais, apesar de Matheo não ter mais voltado ao Castelo naquele domingo
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(COMPLETO) Laila Dómini - Livro 2
Historical FictionE nossa história continua... Derrotada de todas as formas por Matheo, só resta a Laila conformar-se com o inevitável e aceitar o seu infame destino. E depois de cumprir a desonrosa missão, tudo estará perdido? Para ela, com certeza sim, mas...