Cap 1.2 - Trappist I

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Aquele havia sido um dia como outro qualquer na vida do que a mídia costumava chamar, "idol de milhões". Gravações intermináveis e cansativas. Mil coisas acontecendo ao mesmo tempo. Depois de uma avalanche de críticas e suposições infundadas a respeito de disband, hiatus e fim de carreira, que nos perseguiam há meses. O mundo acredita que estamos de férias, mas ainda assim temos muitos compromissos agendados, e toda uma nova agenda com lançamentos solos e campanhas que acontecerão antes e durante o nosso período de alistamento.

Diariamente, desde que era trainee, a vida se resume as horas quase infinitas na sala prática, repassando coreografias e as horas no estúdio, onde sempre me esforço ao máximo para nunca ser menos do que o melhor, em todos os aspectos. Perfeccionista? Sempre fui e nunca escondi! A exaustão física já foi problema diversas vezes, as restrições são quase infinitas e tenho muito pouco ou quase nenhum tempo para ser "normal". A busca pelo sucesso, cobra um preço alto, se traduzindo em dietas, poucas horas de sono e tirou muitas horas do meu convívio com as pessoas importantes da minha infância. Nunca dá tempo para mais nada e tudo têm que ser tudo ao mesmo tempo, na correria. Como dizia o poeta, meu hyung e líder, Kim Nam-Joon, "Run Bulletproof, Run".

Entendo, respeito e me orgulho do nosso sucesso. Sei que o nosso reconhecimento veio em cima de trabalho e dedicação intensos, dos caras que assim como eu, que abriram mão de suas juventudes em busca de um sonho. E o nosso sonho nunca foi barato. Foi um sonho conquistado a duras penas literalmente com sangue, suor e lágrimas. Nosso sucesso meteórico atingido durante a pandemia, nos fez alcancar algo que não podiamos sequer imaginar. Ganhamos o status de Reis no nosso país e no mundo, e isso teve sérios efeitos, principamente em nossas vidas pessoais, nos privando ainda mais de viver como pessoas normais. Ser o cantor principal do grupo e perfeccionista ao extremo, me levaram a ser apontado como o menino de ouro e essa alcunha de Golden Maknae, fez com que me tornasse um alvo, para críticas, muitas vezes pesadas demais. Tivemos de nos adaptar a tudo isso e além de nós, ninguém nunca vai saber o quanto foi e é difícil e tudo o que passamos faz de nós muito mais que membros do maior grupo pop da atualidade, fez de nós irmãos na vida. Cada um dos caras é parte fundamental na minha formação pessoal e profissional.

Atualmente todo e qualquer detalhe de nossas vidas, pessoal ou profissional, acaba por se tornar matéria ou trending topic no Twitter. A falta de privacidade incomoda. A falta de respeito dos meios de comunicação e infelizmente o que costumam chamar de preço da fama, é alto e faz com que a cada dia nos mantenhamos cada vez mais enclausurado, na nossa "torre de marfim", conhecida pelo resto do mundo, como prédio da Hybe.

. Ainda que tenha ciência que este é o preço a pagar pelo sucesso do BTS, não são raras as vezes que gostaria de ter uma vida mais próxima do menino de Busan. Não são raras as vezes em que me pego sonhando em como seria bom entrar num café sem medo de ser reconhecido ou ir a uma loja, sem que antes ela tivesse de ser fechada, ou poder andar sozinho pelas ruas, como antigamente. E é em busca de ter de volta um pouco que seja da normalidade perdida no sucesso, que fui aprendendo a disfarçar e criar subterfúgios, para algumas banalidades. Nas madrugadas em que tudo é sufocante demais e preciso de ar puro ou um pouco de relaxamento, aproveito-me das roupas muito largas que fui obrigado a me acostumar a usar, máscaras, buckets hats e quaisquer coisas que sejam apropriadas para que consiga passar despercebido e me dou ao luxo de passear sozinho. Na maioria dessas vezes saio apenas caminhando ou dirigindo sem rumo. E em outros momentos, quando nem as aulas de boxe são suficientes, para acalmar, saio em busca de uma bebida, que possa me ajudar a clarear suas ideias.

Mais uma vez sufocado e precisando colocar algumas ideias no lugar, naquela noite precisava de uma fuga para a normalidade. Quando olhei pro relógio do painel, marcava 00:23 e percebi que permanecia dirigindo sem um destino específico, desde que havia saído da empresa, horas atrás, depois de um banho rápido e sem jantar. O estômago começou a clamar pela minha razão, dando sinais que precisava de comida, ou uma bebida que fosse. Avistei de dentro do carro, uma pequena cafeteria, que eu desconfiava não estar ali há muito tempo e eu não conhecia, mas estava aberta e parecia atrativamente vazia. A combinação, me levou a crer, que poderia ser uma ótima opção, para um cara comum em busca de uma bebida quente no início de uma madrugada qualquer.

Uri Galaxy  - Diário de um amor improvável. (Jungkook)Onde histórias criam vida. Descubra agora