Bem

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- Pirralho! -- a voz da general chamou a atenção do príncipe, o tirando de seu ataque de pânico mental.

Ele a olhou, os olhos verde musgo o encarando com seriedade, com olheiras se formando abaixo destes.
Chara respirava rápido, segurando as mãos dela no desespero de conseguir passar sua determinação para os cortes e dissolver o veneno, mas era tarde demais, o veneno já tinha se instaurado na corrente sanguínea dela.

-- Amiram- -- Chara soluçou, com lágrimas escorrendo violentamente por seu rosto.

Ela tremia muito, havia vomitado tanto a alguns minutos que sairá sangue misturado com o vômito, os olhos que ficavam brancos quando sua magia estava ativada haviam se apagado, ficando verde opacos.

-- Deu, Pirralho. -- ela falou, a voz falhando, embargada enquanto lágrimas brilhavam em seus olhos. -- chega disso, acabou pra mim.

-- não, não! Eu posso te curar, eu só preciso- -- ela curvou o corpo pra frente, tossindo sangue negro no colo de Chara. E soluçando em seguida, voltando a encostar as costas na árvore atrás de si com um gemido de dor.

-- Pirralho, já era... O veneno já se espalhou, curar os cortes não vai mudar isso. Eu tô morrendo, e não tem nada o que se possa fazer. -- ela ser tão direta doeu profundamente em Chara.

-- Amiram.. -- Chara murmurou o nome da general entre lágrimas.

Ela grunhiu, soltando as mãos dele e apoiando no próprio abdômen, suas mãos tremiam violentamente.
Lágrimas cinzas escorriam por suas bochechas, e seus lábios tremiam.

-- Hey Pirralho... Pode fazer algo por mim? -- sua voz falhava, mas ela continuou falando. -- a Omiron... Eu prometi a ela que voltaria, e não vou cumprir minha promessa...

Chara soluçou, torcendo os lábios.

-- você pode cuidar dela pra mim? -- as pupilas da general desceram até a grama inundada de sangue negro, seu sangue. -- eu sei que... Eu sei que eu não deveria te pedir isso... Você é só uma criança, eu não quero te deixar responsável por algo que não é sua responsabilidade...

-- eu fiz você ser envenenada. -- Chara apertou as mãos, fincando as unhas na palma enluvada. -- se eu não tivesse me afastado de você... Você não teria que ter parado aquela lança...

-- Você foi imprudente. -- ela falou, fechando os olhos, mas os abrindo em seguida. -- você é só uma criança. Essa guerra se quer deveria ser sua.

Chara curvou o corpo pra frente, chorando alto, para no momento seguinte se aproximar de Amiram e deitar a cabeça em seu peito, ouvindo o coração da general bater cada vez mais lentamente.

-- você é muito forte Pirralho. -- ele sentiu a cauda robusta da general ser passada com cuidado em sua cabeça, tremendo ao ponto de obrigar Amiram a apoiar esta em suas costas. -- você tem carregado um peso gigante nas costas, um peso que deveria ser da sua mãe, mas ela fica se escondendo. Você é novo demais pra entender essas situações.

Chara abraçou a general, soluçando.

-- não vou pedir pra que ganhe a guerra, se você não conseguir, não quero que se culpe, não é sua culpa. -- a voz dela baixava de tom aos poucos. -- você já fez muito e estou orgulhosa, mas se ganhar, vou ficar orgulhosa de você também. Eu criei um guerreiro, mas você tem um coração puro, e isso já me basta.

Chara apertou o abraço, enfiando o rosto na blusa dela, a molhando com lágrimas mornas.

-- você é tão monstro quanto o resto de nós, o Asriel nunca acharia um irmão melhor que você em mil anos. Eu estou orgulhosa de você pirralho. -- ela soluçava, mas sorria docemente, Chara nunca havia visto ela sorrir assim, isso fez sua alma doer. -- nunca deixem que falem o contrário, você cresceu como monstro. É tão monstro quanto os demais no subsolo, a cor da sua alma não define isso. Sangramos todos iguais de qualquer maneira.

Ela quase sussurrava, a voz estava tão fraca que Chara mal ouvia, se não fosse o silêncio da floresta ele provavelmente não ouviria mesmo.
A floresta inteira estava quieta, como se soubesse o que acontecia, os pássaros haviam cessado cantos, o vento havia parado, o ar parecia pesado, não por causa do fedor do sangue da general, mas porque parecia pesar nos pulmões do príncipe.

-- e-eu prometo. -- Amiram suspirou com dor, fechando os olhos. -- eu prometo, vou cuidar da Omiron, mesmo que ela me odeie, eu vou cuidar dela.

Amiram deu um riso soprado, seu coração quase parando de bater.

-- eu confio em você. Obrigada Chara. -- era a primeira vez que ela falava o nome dele, sempre fora chamado de pirralho, peste, humano, mas nunca de Chara.

Era a primeira vez, e a última.

Chara gritou, chorando com força enquanto sentia o corpo da general virar poeira, e seu sangue começar a cristalizar e se desfazer em pó junto ao corpo.
Em alguns minutos Chara caiu no chão repleto de poeira, completamente sozinho. Ausente até de sua determinação, que havia apagado, sua alma doeu, como se um corte irrompesse em sua extensão.

Porém a dor lacinante em sua alma era a menor dor que estava sentindo.

Amiram se fora, a General de Aliel se fora, a General de Toriel se fora, e ela se fora por culpa de Chara.
Quase 400 anos jogados fora por causa de um príncipe humano idiota e imprudente.

Chara se encolheu, sentindo a poeira da general grudar em suas roupas. A ficha caindo que Chara jamais ouviria a general brigando com ele por roubar comida de novo, jamais ouviria a General bufando pq sua alma era brilhante demais, jamais ouviria Amiram rindo de novo.

Era sua culpa.

Omiron o odiaria, o odiaria para sempre, e com razão, por sua culpa a mãe dela morrera.

A alma de Chara pulsou dolorosamente em seu peito.

Passos ecoaram, mas Chara não tinha forças para levantar, então continuou deitado.
Eram passos familiares, e quando os passos cessaram uma voz familiar falou:

-- Filho? -- Disse Asgore.

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