"Não é sua culpa" - Caelum e Cross // incompleto

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Cross se sentou no chão com um pouco de agressividade, batendo as mãos na grama conforme sentia algo apertando em seu peito.

Ninguém ali sabia o que estava passando, ninguém ali entendia o que ele sentia, e insistiam em ficar em cima dele falando coisas como "vai passar" ou "converse comigo".

Conversar não iria resolver nada!
Não resolveu antes, não iria resolver agora.

-- Você parece solitário. -- uma voz masculina falou.

Cross se sobressaiu, olhando pra trás procurando o dono da voz.
Não ouviu os passos, era possível alguém andar de forma tão silenciosa?

A alguns metros atrás de si, um esqueleto com talvez 1,90 de altura estava parado.
As roupas dele não eram muito diferentes daquele tal de Dream, outro que insistira para que falasse, mas eram mais esfarrapadas, o casaco estava rasgado, e as diversas facas escondidas entre os tecidos davam um ar ameaçador.
Ele usava um capuz, e tinha uma longa cauda.

Seu rosto era o mais diferente de Dream, era comprido e fino, com uma marca de sol na bochecha esquerda e uma rachadura na direita, os olhos estreitos e gentis encaravam Cross com um cuidado respeitoso.

Em suas mãos, por sinal, ele segurava duas xícaras esfumaceando.

-- me permite fazer companhia para você? -- ele falou novamente, algo nele era extremamente calmante e delicado.

Cross pensou por um segundo, antes de fechar a cara.

-- vai embora, eu não quero falar com ninguém.

O estranho suspirou, se aproximando e se sentando ao seu lado, estendendo uma das xícaras para Cross.
Cross olhou pro conteúdo na xícara, era chocolate quente com marshmallows flutuando em cima, o cheiro estava ótimo, mas ele não queria nada daquele estranho, então virou o rosto.

-- me chamo Caelum. -- o outro respondeu. -- você deve ser o Cross, a ômega Timeline inteira está falando sobre você.

-- claro que estão. -- Cross grunhiu.

Caelum suspirou, colocando a xícara de Cross na grama ao lado da mão dele, não perto suficiente para que ele batesse e derrubasse o líquido.

-- imaginei que gostasse de chocolate, eu mesmo que fiz, mas se escolher não tomar tudo bem. -- ele deu um riso baixo. -- fiz o seu com chocolate ao leite, você não parece do tipo que curte algo amargo igual eu.

-- você é uma versão alternativa daquele Dream né? -- o monocromático o encarou de canto, vendo Caelum beber cuidadosamente o chocolate quente.

-- infelizmente. -- Caelum assoprou uma nuvem de fumaça de calor. -- ele é meio bocó né? -- um sorriso brincalhão brotou em seu rosto.

O menor estreitou os olhos, abraçando os joelhos contra o peito.

-- é melhor que o irmão dele. -- Cross apoiou o rosto nos joelhos, se encolhendo.

-- O que não é muito difícil. -- o de amarelo grunhiu. -- Nightmare é um babaca, e um inútil, em 500 anos não matou ninguém relevante. -- ele suspirou, levando a xícara a boca.

-- você disse que se chamava Caelum né? Que nome estranho. -- Cross resmungou.

-- Caelum significa "os céus, o paraíso" em latim. Minha mãe gostava de nomes criativos. -- Caelum sorriu para Cross. -- mas você pode me chamar de Cae, meu irmão que me deu o apelido.

-- se você é um Dream você não tem um Nightmare? -- Cross levantou a cabeça, olhando pra xícara de chocolate quente ao seu lado.

Caelum olhava para a frente, dando pequenos goles em seu chocolate quente de tempos em tempos, suas pernas estavam cruzadas em sua frente e sua mão livre apoiada na grama, tendo os dedos enrolados pelas folhas.
Ah, e pequenos botões de flores começavam a nascer em torno dele, como se sua aura gentil estivesse estimulando as plantas a crescerem mais rápido.

Nada nele dava um ar de que fizesse Cross ficar em alerta, apesar das dezenas de facas -- que todo o treinamento para guarda real de Cross fez com que ele notasse de imediato apesar de estarem escondidas -- em suas roupas, as garras nas pontas dos dedos e a cauda com uma ponta afiada balançando atrás dele com calmaria, sua aura era... tão gentil, tão doce, fazia Cross sentir vontade de dormir.
Não se sentia tão relaxado assim havia... Há quanto tempo estava preso naquele vazio branco que seu AU se tornará?

-- Tenho sim. -- a voz de Caelum tirou Cross de seus devaneios. -- o nome dele é Kamare, derivado da palavra "Kamari" que é "lua" em árabe, mas o apelido dele, "Mare" significa "lado escuro da lua", nomes cheios de simbolismo né? Minha relação com ele não é a mesma do Dream e do Nightmare, e meu irmão não tem interesse em perturbar pessoas há muito tempo pressionadas a serem algo que não querem ser, ou que estão cansadas demais pra lutar.

Cross se identificou com ambas as sentenças, era cansativo realmente, o peso nos ombros do que havia feito, a dor que pulsava em seu peito.
"Eu matei todos eles, e eu nem era o mais forte."

Cross olhou para o chocolate quente novamente, pegando a xícara e desdobrando os joelhos, levando o líquido a boca, estava quente, mas não o suficiente para queimar sua boca, era adocicado e Cross não conseguiu reprimir uma careta após ter passado tanto tempo sem comer nada, na verdade, não parecia fazer muito tempo que ele comeu aquele chocolate em Underswap, mas mesmo assim sua barriga roncou quando o sabor de chocolate tocou sua língua.

Isso lhe lembrou de casa, da época em que tudo estava bem e não existia uma guerra multiversal sobre o que aconteceria com seu universo, quando não existia um Chara falando em sua cabeça o quanto ele era culpado, ou quando não existia um Ink para o atormentar por ter confiado em alguém de novo.

Isso lhe deu vontade de chorar, e reprimindo as lágrimas Cross bebeu a xícara inteira de uma vez, ficando frustrado ao ver que havia acabado.

-- 'cê tá com fome né? -- Caelum riu. -- minha casa é aqui atrás, quer que eu te prepare algo para comer? Ouvi dizer que o "Xtale Sans", ou melhor, o Cross gosta de tacos, tá afim de alguns?

Cross fez uma careta perante seu antigo nome, mas engoliu em seco sobre os tacos, estava realmente com fome.

-- posso só trazer aqui se quiser, não precisa entrar na minha casa, mas você parece cansado, seria estranho eu oferecer que você descanse enquanto preparo seus tacos? -- Caelum perguntou, bebendo o que restava em sua xícara.

-- Porque está sendo tão gentil? Eu não tenho nada pra te oferecer, e não vou te ajudar com nada. -- Cross fechou a cara, apertando a grama entre os dedos.

Caelum deu ombros, se levantando.

-- Eu sou uma pessoa altruísta, e empática, eu acho. -- ele riu. -- gosto de ajudar quem precisa, mesmo que negue. -- ele piscou para Cross de maneira brincalhona. -- mas não quero, e não vou, fazer nada que lhe deixe desconfortável Cross.

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Odeio o Cross

Publicando pq tá longo

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