Capítulo 29- Kriptonita

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As aulas de Anne na quarta-feira sempre se iniciavam trinta minutos antes do horário habitual, pois ela tinha uma classe extra de economia, e justamente naquela manhã acordara atrasada.

Ela levara o maior susto ao abrir os olhos e encarar o relógio que marcava exatamente sete da manhã. Não se lembrava de ter vindo para o quarto na noite anterior, mas tinha certeza que fora Gilbert o autor daquela gentileza. Ele preferira não acordá-la e a trouxera para a cama em seus braços.

Ao pensar nisso, Anne não pôde deixar de suspirar, encantada com seu marido que se mostrava a cada dia um companheiro perfeito. Não devia ser assim, mas não conseguia fugir de seu romantismo arraigado, consequência de sua adolescência inteira com o nariz enterrado em romances de contos de fada.

Um chorinho inconfundível, assim como um arranhado na porta, a arrancou de seus devaneios, a fez se levantar de cama em um pulo e correr para abri-la, observando um bolinho de pelo entrar e encarar curioso o quarto imenso, enquanto seu rabinho curto não parava quieto.

-Bom dia, Joy. Você está cada vez mais lindo. - Anne disse, se abaixando na altura do animal, e ganhando uma lambida em seu rosto que a fez sorrir.

Alguns dias naquele apartamento, e o animalzinho já parecia outro. Joy tinha ganhado peso, e seu pelo brilhava de tão sedoso. Anne quase não podia acreditar que aquele fosse o mesmo filhote que ela e Gilbert resgataram na praia. Os cuidados diários, a boa alimentação e o amor que encontrara em seus novos donos transformaram o cachorrinho da água para o vinho, e a ruivinha se sentia extremamente feliz por isso.

-É uma pena que eu não possa brincar com você agora, mas prometo que quando eu voltar da faculdade, vamos fazer uma grande farra.- Anne disse, bagunçado o pelo do animalzinho que a olhava tão amorosamente, que a ruivinha sentiu vontade de pegá-lo no colo e nunca mais soltar.

Anne sabia o quanto era carente de manifestações de carinho. Eu sua cada nunca tivera esse tipo de coisa, e agora na idade adulta, ela percebia o quanto lhe fizera falta que alguém lhe dissesse palavras que pudessem ajudá-la com sua insegurança.

Não duvidava do amor de seu pai por ela, ou de Diana e Ruby. Contudo, toda a vida tiveram que ser práticos e objetivos em relação ao dia a dia familiar, ou as coisas dentro de casa não funcionariam. Por isso, nunca tiveram tempo para se preocupar com coisas relacionados a gestos de afeto como um abraço mais apertado ou um beijo na testa.

Gilbert tinha esse lado que ela adorava. Ele demonstrava seu afeto de forma mais concreta, mostrando a Anne como ele gostava de dormir abraçado,entrelaçar seus dedos nos dela ou acariciar seu cabelos enquanto conversavam.

Anne imaginava que ele precisasse disso tanto quanto ela, pois crescer sem uma mãe e viver em conflito com seu genitor o deixara carente de afeto também. Não que Cora não tivesse exercido seu papel de avó acolhedora com perfeição, mas havia coisas que somente uma mãe podia fazer ou dizer, e Anne compreendia bem essa sensação de perda que isso causava.

O único problema era que essa maneira que seu marido usava para fazê-la se sentir bem perto dele, a estava tornando prisioneira de um sentimento que estava crescendo de forma assustadora. Ela tinha medo de como seria quando tivesse que deixar aquele apartamento que começava a significar um lar para ela, e o homem a quem não deveria amar, mas por quem estava totalmente apaixonada de forma completamente louca.

Gilbert a vinha conquistando diariamente com sua maneira descomplicada de ser, e por mais que desejasse que sua opinião inicial sobre ele não mudasse, caira por terra todas as suas queixas,desaforos e reclamações.

Ele a fazia feliz de um jeito que nunca fora antes, a fazia rir mesmo nos piores momentos e a fazia se sentir tão bem consigo mesma que até mesmo seus complexos do passado deixavam de existir quando estava com ele.

Love Game- AU- Anne with an eOnde histórias criam vida. Descubra agora