it's in the eyes. always the eyes
Segurava o telemóvel nas mãos. As lágrimas silenciosas percorriam um caminho lento desde o olho ao queixo e pescoço. Sentia-me muito zonza, fortemente medicada devido ao processo evasivo, após perder o meu bebé.
Continuava em Manchester, com o telemóvel a maior parte do tempo desligado por necessitar de silêncio à minha volta. Falar com quem sabia que estava grávida e explicar o que sentia era algo tão difícil, que preferia evitar. O Diogo quis vir para a cidade britânica para estar comigo, embora pedir que não o fizesse. Precisava de estar sozinha e do meu tempo de recuperação.
Só conseguia encarar o Rúben quando me chamava para jantar. Em seis dias, jantamos lado a lado dois. Em silêncio. Poucas trocas de olhares e ainda menos palavras trocadas.
Questionava-me por mensagem se estava bem ou se precisava de alguma coisa. Antes dos treinos, à hora de almoço e antes de chegar a casa. Entre as quatro paredes do seu apartamento, preferia dar-me o espaço que necessitava.
Naquele momento precisava mais que espaço. Os seus braços à minha volta pareciam-me um plano ainda melhor. Não queria estar sozinha. Também ele estava a sofrer. A forma como ficou abalado, o olhar profundamente triste e o silêncio ruidoso ia mostrando-me como precisava de mim. De deitar cá para fora toda a tristeza.
E eu estava a falhar com ele.
Rúben Dias
Podes ficar comigo hoje?
A sério?
Por favor
Demorou imenso pouco tempo. Apareceu no meu quarto com uma camisola larga e de boxers. Pude ver o brilho surgir nos seus olhos. Fiz sinal para o Rúben se deitar ao meu lado, algo que hesitou em fazer, mas acabou por se deitar.
Arrastei-me na cama para pousar a cabeça no seu peito, pousando a mão ao lado da minha cara. Foi uma explosão de emoções para ambos. O coração do Rúben batia rapidamente.
- O que estás a sentir? - Sussurrou, brincando com os meus fios de cabelo. - Posso fazer algo por ti, Ayla? - Respirei fundo.
- Estou triste, Rúben. Gostava de ter conseguido manter a gravidez. Não te queria falhar. - O corpo ficou extremamente tenso por baixo de mim. - Se tivesse corrido tudo bem...
- Não te sintas culpada. - Interrompeu-me. - Se tivesse corrido tudo bem também ia estar aqui ao pé de ti agora. Tal como vou estar hoje e amanhã, sempre que quiseres. Infelizmente as coisas nem sempre correm como queremos.
- Ainda assim... Eu sei que estavas entusiasmado, tal como eu estava a ficar. Estava quase a contar, só queria mais uma consulta.
- E estava. Estou triste agora, claro. Mas estou feliz porque tu estás bem e estás aqui comigo. - O rapaz murmurou calmamente. A voz transparecia uma dor tão grande. - Lamento tanto por ter feito o que fiz. Por termos perdido o nosso filho, mas a verdade é que não temos culpa.
- Podia ter feito mais...
- Como podias ter feito mais? Não sabias que estavas grávida e quando descobriste fizeste o teu melhor. Fizemos tudo bem, Ayla. Só não era para ser desta vez. - Suspirou.
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E N T R E L I N H A S ➛ RÚBEN DIAS
Teen Fiction'If you can't be their first choice, don't be an option at all'