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MINGYU

Dias se passaram, mas a sensação permaneceu. Como se algo dentro de mim pulsasse toda vez que penso nela. Um chamado silencioso, uma ligação que não sei explicar. Não faz sentido. Tento me convencer de que é coisa da minha cabeça, que é só atração, curiosidade. Mas não é. Sei que não é. É algo maior. Algo que me puxa para perto dela como se fosse inevitável.

Ryeoun observa enquanto eu ando de um lado para o outro, preso nesse turbilhão silencioso. Ele suspira, ajeitando os óculos.

- Você tá estranho.

- Eu sei.

- E vai me contar o motivo ou prefere continuar todo misterioso?- Cruzo os braços, soltando o ar devagar.

- Eu só... não entendo. Nunca senti isso antes. É como se já a conhecesse há muito tempo, mas eu sei que não conheço.- Ele me encara por um segundo antes de dar de ombros.

- Talvez só tenha conhecido alguém que te lembra ela.- Mas não é isso. Não é sobre lembrança. É sobre algo que se move dentro de mim toda vez que nossos olhares se cruzam.

(***)

O barulho da festa se espalha como uma onda sufocante. Luzes piscam, a música vibra sob os pés, e as vozes se misturam em um turbilhão indistinto. Não sei exatamente como vim parar aqui, mas Ryeoun me arrasta até o pessoal.

Meus olhos a procuram instintivamente.

E então, lá está ela.

Maya está afastada da multidão, sentada em um canto mais tranquilo. Sua expressão é contemplativa, os olhos vagando pelo ambiente sem realmente se fixarem em nada. Shizuki está ao seu lado, animada, tentando convencê-la a se juntar à pista de dança. Mas Maya apenas sorri de leve, desviando o olhar. Ela não pertence a esse lugar. E, de alguma forma, isso só a torna ainda mais hipnotizante.

- Você veio.- Ela levanta o olhar ao ouvir minha voz.

- Pois é.- Sua resposta vem baixa, quase hesitante.- Não sei o motivo, não bebo e nem tão pouco sei dançar.- A maioria decide ir ao bar buscar bebidas ou ir dançar, nos deixando para trás.- Não sou muito boa com lugares assim.

- Nem eu.- Maya ergue uma sobrancelha, desconfiada.

- Estranho, você parece se encaixar.

- Só disfarço bem.- Ela me observa por um instante, como se analisasse minhas palavras.

- Isso é um talento, eu acho. Queria saber fazer o mesmo.

- Ou um hábito.- Digo entre uma risada. O silêncio se instala entre nós, mas não é desconfortável. É estranho como parece fácil estar perto dela, mesmo sem precisar falar muito.

Um estalo de isqueiro interrompe o momento, e Maya desvia o olhar para a varanda externa, onde algumas pessoas conversam e fumam. Ela observa por um momento antes de se levantar.

- Acho que vou pegar um pouco de ar.

- Quer companhia?

Dessa vez, ela não hesita antes de responder.

- Quero.

O terraço está vazio, longe da música abafada da festa. O vento noturno carrega um cheiro sutil de chuva, e a cidade brilha abaixo de nós. Maya se apoia na grade, respirando fundo, como se finalmente pudesse soltar o ar que prendeu durante toda a noite.

- Melhor assim?- Ela assente, finalmente sorrindo.

- Muito.- Observo como ela se perde na vista, os pensamentos vagando para algum lugar distante.

E então, sua voz se rompe no ar, inesperadamente.

- Eu já passei pela sua cabeça?

Paro.

Ela ainda olha para a cidade, sem me encarar, como se suas palavras tivessem escapado antes que pudesse contê-las.

Meu coração acelera.

- Está nela desde que te vi pela primeira vez.

Dessa vez, ela me olha. Seu olhar carrega algo que não consigo decifrar. Como se tentasse encontrar algo dentro de mim. Mas antes que eu possa perguntar qualquer coisa, ela apenas desvia os olhos de novo, voltando a encarar a noite. 

E eu percebo que não importa o quanto tente, nunca conseguirei explicar o que sinto por ela.

Só sei que está lá.

E que não vai embora.

(***)

A levo até seu apartamento, depois de não aguentarmos mais ficar naquele lugar.

- Tem algo que quero dizer antes que você vá.- A voz de Maya me detém antes que eu atravesse a porta de seu apartamento. Ela segura a manga da minha blusa, sonolenta. Tento falar, mas.- Xiuuu.- Rio baixo. Ela suspira, se jogando no sofá.- Eu só queria que você pudesse ficar... Eu odeio te ver indo embora...

Meu peito aperta.

Ela já está de olhos fechados, talvez nem perceba o que disse. Mas as palavras ficam no ar. E por mais que sem explicações, sei que entendo seu sentimento, pois ao ouvir tais palavras, me senti sendo atravessado por algo.

- Não tenho planos de ir embora.- Digo, tirando uma mecha de cabelo do seu rosto.

Sky. (Mingyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora