Para ser bem sincero, tudo na vida tem seu momento de prazer. Por exemplo: quando você come uma pizza e sente o gosto do queijo derretendo na boca, isso é prazeroso! Ou quando você encontra uma música nova tão perfeita que, ao apertar play, um arrepio percorre seu corpo. Mas, no momento em que me encontro, é como ouvir o som do inferno.
— Por favor, não para... Continua!
Gemeu a garota que estava se entregando a um moleque do primeiro ano, tão feio que nem cirurgia plástica resolveria o problema do coitado. Mas, vamos ser realistas: ele estava transando, né? Nesse caso, ele já é alguma coisa.
O mais tenso era ter que escutar tudo isso no telhado da casa, do lado de fora do quarto, a poucos metros da janela. E por que eu estava lá? Bem, fui "convidado" para uma festa. Pelo meu tédio absoluto em casa, decidi aparecer. Mas se arrependimento tivesse um pênis, ele estaria me fodendo agora, porque eu me arrependi absurdamente de ter saído da minha cama para vir para esse lugar. Para a minha sorte, eu tinha um fone de ouvido no bolso. Conectei ao celular e apertei play em uma música aleatória, apenas para não ter que escutar a garota gemendo alto e pedindo para o cara meter mais fundo. A música que começou a tocar foi "Famy - Ava", minha favorita do momento. Ela conseguia afastar qualquer pensamento ruim, e para aqueles que amam música como eu, com certeza vão entender o que estou falando.
Essa festa era de uma das garotas mais populares do colégio. Não fui convidado pessoalmente, mas ela saiu espalhando convites virtuais nas redes sociais e grupos de mensagens. Ela nem sabe da minha existência. Decidi que iria embora quando aqueles dois terminassem de se "comer" ali dentro. Pensei até em descer pelo lado de fora, mas para não correr o risco de cair e passar vergonha, optei por esperar. Enquanto a música tocava, permaneci sentado ali no telhado daquela grande casa, observando as pessoas lá embaixo bebendo, conversando e se divertindo. Estar ali sozinho é um porre, mas tenho certeza de que estar com alguém deve ser muito legal, curtir sem medo do julgamento alheio. Mas, no meu caso, isso está fora de cogitação. Não tenho ninguém para chamar de amigo ou qualquer coisa do tipo. Passaram-se alguns minutos, talvez horas, e quando tirei os fones de ouvido, percebi que ainda havia vozes vindo do quarto. Não era possível que aqueles dois ainda não tivessem terminado, pensei.
Decidi dar uma olhada só para ter certeza de que já estavam de saída. Ao olhar, tive a infelicidade de presenciar a garota engolindo todo aquele líquido branco que saia do cara. Um embrulho no estômago e uma onda de nojo me atingiram.
— Puta que pariu, se eu tivesse que optar por ser cego, esse seria o momento certo! — resmunguei sozinho, tentando afastar a imagem da minha mente. Finalmente, eles terminaram. Aproveitei a chance de observar quando saíram e fecharam a porta do quarto. Apoiei-me no parapeito da janela e pulei para dentro, caminhei até a porta e a abri com cuidado para ter certeza de que não havia ninguém por perto. Para minha sorte, estava tudo tranquilo. Mas, para o meu pesadelo, assim que fechei a porta, uma outra se abriu. Era a dona da festa, que, ao me ver, exclamou:
— Quem é você? — Ela estava com a boca borrada de batom, os cabelos loiros bagunçados e o vestido rosa amassado.
— Ahn... Eu estudo no mesmo lugar que você.
— Eu não me lembro de...
Ela parou ao ver dois garotos do time de futebol saindo do quarto, ambos fechando o zíper da calça. Analisei a situação e, sim, entendi o que não queria entender. Os dois congelaram ao me ver, assim como a dona da festa, que me olhava assustada.
— Por favor, não conta isso para ninguém! Ela estava visivelmente apavorada, assim como os outros dois.
— Fiquem tranquilos, eu não sei de nada e não vi nada. Mas vou fingir que vocês não são um trizal quando eu passar por vocês no colégio.
Dei meia-volta e desci a escada, deixando-os para trás. A sala de estar estava lotada de gente, a música alta o suficiente para estourar um ouvido. Tive dificuldades para atravessar a multidão e acabei esbarrando em um garoto.
— Droga, foi mal...
— Fica tranquilo!
Ele respondeu, fumando um cigarro e segurando um copo de bebida. Ele estava chapado e me lançou um olhar intenso, me fazendo sentir um desconforto inexplicável. — Algum problema?
perguntei alto, pois a música estava ensurdecedora.
— Achei você interessante. Topa ir para outro lugar? perguntou ele. Franzi a testa e recusei no mesmo instante. Ele tentou segurar minha mão, mas esquivei rapidamente.
Não curto essas coisas, mas não tenho nada contra quem gosta. Ao sair daquela casa e me afastar, a música alta foi ficando para trás. Tudo começou a vir à tona na minha mente. Que noite maluca e aleatória! Primeiro, saí de casa para acabar em uma festa onde só conheço as pessoas de vista, assisti a uma cena pornô ao vivo e ainda fui abordado por um garoto que provavelmente queria algo mais.
Já passou por aquela fase da vida em que tudo é uma questão de questionamento? Qualquer coisa que você faça ou pense, é inevitável questionar. Mas meu questionamento habitual é claro e imprevisível: e se eu ficasse? O que poderia ter acontecido? O que teria rolado se eu dissesse sim? Não havia uma resposta, apenas uma pergunta:
Se eu ficar?
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Se eu Ficar? Parte 1 - Degustação
RomantikLivro completo na Amazon Kindle Kevin, é um jovem de 17 anos em busca de sua própria constelação de verdades em um mundo repleto de incertezas. Enquanto enfrenta as tormentas do ensino médio e as lutas familiares em casa, Kevin encontra em um novo a...