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Quando o sinal da última aula tocou, Levi estava ao meu lado. Saímos para o lado de fora do colégio, e ele me contou que morava em frente à praia, a poucos metros da minha casa.
Ou seja, éramos literalmente vizinhos. No caminho, o sol queimava minhas costas, e o suor escorria pelo meu rosto.
— Que calor, meu Deus! Resmungou ele.
— Nem me fala! Eu prefiro o frio, para ser mais específico — respondi.
— Topa ir até a praia?
Ele perguntou. Felizmente, eu morava a alguns metros do mar; da rua da minha casa, já era possível avistar as ondas. Isso era ótimo! Estávamos nos aproximando da rua onde eu morava quando eu disse:
— Eu topo, mas vamos por outro caminho.
Levi franziu a testa, tentando entender o porquê. Apesar de estarmos tão próximos, eu insistia em ir por outra rua. Ele não questionou, apenas concordou e me seguiu. Depois de alguns minutos de caminhada, já havíamos chegado à calçada da praia, que, por sinal, estava vazia.
Era dia de semana e, pelo horário, as pessoas costumavam estar em casa, ou trabalhando. Tirei meus sapatos e os carreguei na mão. Levi fez o mesmo. Assim que meus pés tocaram a areia, uma brisa gelada vinda do mar acariciou meu rosto, acompanhada pelo som das ondas, que me fez sentir um arrepio.
— Posso te fazer uma pergunta? — Levi olhou para mim.
— Claro, pode sim.
— Por que viemos por outro caminho e cortamos a rua da sua casa?
— Bom... — suspirei. — Eu meio que faço tudo na base do escondido, por assim dizer. Meus pais pegam muito no meu pé por nada. Não posso fazer isso, não posso fazer aquilo, e mesmo tendo minha liberdade e meu “trabalho”, eles querem controlar a porra da minha vida. Se eu passasse em frente à minha casa e eles me vissem indo para um caminho oposto, com certeza fariam um inferno.
— Eu te entendo perfeitamente. Meus pais são um pouco parecidos, mas são gente boa.
Ele disse, colocando a mão na frente do rosto para se proteger do sol. Enquanto caminhávamos, paramos e nos sentamos na areia.
— Eu tenho um irmão, ele é um ano mais velho que eu. Meus pais o mimam como se ele fosse um bebê; ele é o preferido deles, então não me importo. Tentei não mostrar que a situação me afetava.
— Isso é chato, mas sabe o que você faz?
Perguntou ele, olhando para mim. Esperei pela resposta. — Liga o foda-se e vive a sua vida! Estamos aqui para viver, não para ficar presos. Tenha a liberdade de ser quem você quiser!
Aquelas palavras mexeram comigo. Ele não estava errado; de algum modo, aquilo me motivou, mas também deixou um pouco de insegurança e medo do que poderia acontecer se eu decidisse enfrentar meus pais. Mas, ainda assim, eu podia ser livre.
— Você tem razão.
— Eu sei! — gabou-se ele, abrindo um sorriso orgulhoso. Levantou-se e começou a desabotoar a calça.
— O que você está fazendo? — perguntei, surpreso e curioso.
— Vou entrar na água. Você vem?
— Ah, não sei... E se...
— Vamos, cara! — Ele me interrompeu.
— Tem algum short aí?
— Sim, sempre trago um na mochila, costumo vir aqui às vezes.
— Ótimo! Então tira essa calça e vamos lá.
Incentivou ele, com um brilho alegre no olhar. Levantei-me imediatamente e tirei a camiseta. Levi já havia tirado a dele, revelando um físico bem definido. Abri o zíper da minha calça, desabotoei e a tirei, ficando apenas de cueca, assim como meu parceiro.
— Fala se a minha cueca de presidiário não é foda? Zombou ele, vestido de uma cueca boxer branca com listras pretas, que marcavam seu membro. Desviei o olhar.
— Uma graça, eu diria — complementei a brincadeira, sorrindo.
— A sua não tem graça, é só preta! — ele brincou.
— É padrão, ok? Presidiário — respondi, rindo.
Ele gargalhou enquanto vestia o short. Notei que, ao mesmo tempo, ele também olhava para a cueca que eu usava, e isso me fez corar por algum motivo. Em seguida, vesti meu short. Colocamos nossas mochilas encostadas uma na outra, junto com nossos sapatos e pertences.
A praia estava vazia, então não havia risco de alguém pegar nossas coisas, e a segurança daquele lugar era ótima. Caminhamos até a água, que não estava tão gelada. Mergulhei, deixando meu corpo submerso. A água estava calma, com poucas ondas. Ao sair, dei de cara com Levi me observando e, rapidamente, recuei, pois estava muito perto dele. Ele sorriu.
— Fala se tem algo melhor do que estar aqui? Ele disse, passando as mãos pelos cabelos molhados.
— Sinceramente, não tem nada melhor do que isso.
Suspirei, puxando o ar pelo nariz e soltando pela boca. Olhando para o mar, senti um aperto no peito, especificamente no coração, mas não sabia dizer o porquê. Olhei para meus braços molhados e notei as cicatrizes, cicatrizes de uma guerra que enfrento por anos. Levi fez um olhar triste ao vê-las e se aproximou de mim. A água chegava ao nosso pescoço, e percebi que estávamos nos distanciando da parte rasa.
— Eu não vou invadir sua privacidade e perguntar sobre essas marcas, mesmo já sabendo do que se trata — ele disse, desviando o olhar.
— Por muito tempo, tive que aprender a lidar com isso sozinho — disse, sentindo o aperto novamente. Ele me olhou e abriu um sorriso.
— Agora não está mais sozinho. Eu sei que nos conhecemos hoje, mas pode contar comigo!
— Posso? — questionei, ainda desconfiado.
— Pode, para todos os momentos! Quando quiser ligar, conversar, ou apenas se precisar da minha presença, estarei lá — ele disse de uma forma tão sincera que me fez sentir mais confiante, embora ainda tivesse minhas inseguranças.
— Você curte sair? Ir a festas e tal?
— Estive em uma festa ontem, e acredite, não foi nada legal — sorri, lembrando dos acontecimentos.
— Olha, na sexta-feira à noite vai ter uma balada no Hot Night. Conhece?
— Como não conhecer a melhor balada da cidade?
Era verdade! O Hot Night era famoso, metade do colégio ia para lá sempre que havia festas. Eu tinha ido apenas uma vez e, adivinha? Fui sozinho. Mas conheci o lugar e percebi que, além de movimentado, era um ótimo espaço para se divertir.
— Então, eu não ia, mas já que te conheci, que tal irmos juntos? Sabe, descontrair, curtir, beber algo... quem sabe achar umas loucas lá e sair transando?
Acabei sorrindo. Apesar de não curtir muito estar em lugares assim, lembrei do meu pensamento de ontem: estar em uma festa com alguém deve ser legal. Afinal, curtir é a intenção.
— E aí, Kevin? Bora? — ele perguntou mais uma vez, ansioso pela minha resposta.
— Bora!

Se eu Ficar? Parte 1 - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora