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A noite passou rápido. Já estava tarde demais para ficar fora de casa, e foi então que Levi e eu decidimos voltar. Nos despedimos no calçadão e ele seguiu rumo à sua casa. Eu voltei para a minha e não tive problemas para entrar; todos estavam dormindo. Por isso, não usei a porta do porão, que faria muito barulho. Subi por fora e pulei a janela do meu quarto, tomando cuidado para descer até o porão novamente e colocar a chave no mesmo lugar. Voltei para o meu quarto e, ao me deitar na cama, meu celular notificou uma mensagem de Levi:
— Espero ter ajudado a tirar você do seu inferno interior.
Um sorriso se abriu no meu rosto ao ler aquilo.
— Você fez muito mais do que isso, valeu!
Respondi, coloquei o celular em cima da cômoda e adormeci em seguida.
Os dias passaram rápido, e as coisas em casa estavam tensas. Meus pais mal falavam comigo depois do que aconteceu no jantar. Todas as noites, nós nos sentávamos para comer, e apenas eles três conversavam. Nenhuma palavra, pergunta ou qualquer coisa foi direcionada a mim. Muitas vezes, eu recusava ir jantar para não ouvir aquelas conversas sobre como Jack era bom em tudo, como ele ia para a melhor faculdade, e como Jack isso, Jack aquilo... Porra, escutar aquilo era chato, e ao mesmo tempo irritante. Enfim, sexta-feira havia chegado.
Eram seis horas e o céu exibia uma coloração amarela e laranja por conta do pôr do sol. Eu me arrumava para ir à festa com Levi, já me preparando para escutar meus pais debaterem comigo até o dia em que eu fosse para o caixão. Decidi não sair escondido desta vez; eu iria avisar. Eles não podiam me prender a vida toda, e eu já tenho quase dezoito anos. Não sou mais um moleque indefeso. Meu celular vibrou no bolso, então peguei para ver a mensagem de Levi:
— Cadê você? Estou no calçadão. — Respondi imediatamente.
— Estou indo.
Já estava pronto. Olhei no espelho e vi que estava aparentemente bem arrumado: calça jeans clara, uma camiseta preta com estampa nas costas, não muito larga, assim como a calça. Calcei meu Jordan cinza e branco. Meu cabelo estava um pouco bagunçado, mas isso, nos dias de hoje, é moda, e eu gosto de tê-lo assim. Assim que terminei, desci as escadas e dei de cara com meus pais jantando juntos ao meu irmão.
— Para onde você pensa que vai a essa hora? Perguntou minha mãe, segurando os talheres de modo delicado.
— Eu vou sair. Meu pai soltou uma gargalhada alta, quase se engasgando.
— E vai para onde? Você não tem amigos,
muito menos dinheiro para sair. Ele disse, enquanto Jack segurava uma risada, bebendo água para disfarçar. Suspirei fundo e respondi da forma mais tranquila possível.
— Eu não disse que vou sair com alguém, apenas disse que vou sair, e dinheiro não é um problema para mim, não se preocupe.
Arquei a sobrancelha e dei alguns passos até a porta, revendo minhas falas em mente, acho que cometi um erro em ter dito que tenho dinheiro. Eles não disseram mais nada. Saí de casa e fui até a praia.
Encontrei Levi lá. Ele estava com uma camiseta branca estampada, uma bermuda preta e um tênis branco, o padrão estiloso.
— Te juro que de longe não parecia você, todo arrumado.
Brincou ele.
— Acostuma, não é sempre que me visto desse jeito.
Retribui o sorriso.
— Vamos lá? Hoje nós temos que curtir, sem hesitação. — Começamos a andar.
— Não vou carregar você bêbado para casa, já vou logo avisando.
— Eu? Não... Eu quero trazer você bêbado para casa. — Ele mexeu a mão no bolso.
— Não espere muito por isso. Eu bebo pouco.
— Mas hoje você vai, toma...
Ele tirou do bolso um preservativo e me entregou. Peguei rapidamente, escondendo-o nas mãos.
— Para que isso? — Perguntei, olhando para ele confuso.
— Acha mesmo que você vai sair de lá hoje sem comer alguém? Tem muito mais de onde isso veio.
— Cara, eu... — Ele me lançou um olhar suspeito e parou de andar, abrindo um sorriso sincero.
— Você é virgem? — Perguntou.
Fiquei completamente vermelho, o que me causou um mal-estar no estômago.
— Não era isso que eu ia dizer, mas sim, eu sou virgem, e não me sinto envergonhado por isso.
— E não deve se sentir! Está tudo bem, mas hoje você vai perder, portanto, flerte com alguma garota lá, e o resto deixa rolar.
Ele colocou a mão sobre meu ombro e voltamos a andar. O Hot Night não era muito longe; dava menos de vinte minutos de caminhada. Ficava em frente ao calçadão, na parte sul da praia, um lugar onde pessoas de ótimas condições viviam, mas que, curiosamente, também era frequentado por quem era de baixa renda. Começamos a escutar a música alta ao nos aproximarmos, junto com o grande nome do local iluminado em néon: Hot Night.
A fila não estava muito grande, então não demorou para entrarmos. Fiquei deslumbrado com aquele lugar. O Hot estava diferente do que eu me lembrava; já fazia muito tempo que não vinha aqui e, depois de uma reforma, tudo parecia novo. Havia tanta gente pulando, dançando, bebendo, e em cada canto que olhava, havia uma droga diferente: diversas, heroína, maconha, cocaína, e muito mais, afinal, aqui era liberado e escondido das autoridades lá fora. Meu Deus! Se meus pais soubessem que eu estive em um lugar desses, me expulsariam de casa. Mas eu não estava ali para pensar neles; estava ali para curtir.
— Cara, que lugar é esse? Esse não é o Hot que eu me lembro — Gargalhei, achando a situação engraçada.
— É a zona! — Ele chacoalhou meu ombro.

Se eu Ficar? Parte 1 - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora