— Nossa... Você desenha muito bem! Sussurrou Levi, enquanto a sala permanecia em silêncio, todos concentrados na tarefa.
— Valeu...
Sussurrei de volta. Eu estava copiando o desenho de "A Noite Estrelada", de Van Gogh. Fiz em preto e branco porque foi a única cor que senti prazer em usar. É claro que o azul é o charme do desenho, mas optei apenas pelo lápis preto e sombra.
— Foi mal não ter ajudado. Sinceramente, sou péssimo em desenhos. Ele rodava o lápis entre os dedos.
— Fica tranquilo, você é minha dupla, então seu nome vai estar aqui. Sorri.
Ele abriu um sorriso enquanto terminava de copiar o texto. O sinal tocou pelos corredores, dando início ao intervalo. A professora se levantou no momento em que arrumávamos nossas coisas.
— Turma? Vocês terão o fim de semana para me trazer a biografia do artista que escolheram. Quero na minha mesa na segunda-feira de manhã, nas mesmas duplas. Caprichem! — anunciou ela. Levantei e caminhei até a mesa dela, com Levi ao meu lado. Entreguei o desenho enquanto ele entregava o texto.
— Minha nossa! Meus parabéns, meninos! O preto e branco deixou um contraste suave e elegante. Muito bom! Ela sorriu. Alguns alunos retrucaram.
— Na verdade, professora, foi o Kevin quem fez o desenho.
— Kevin vai te ensinar tudo o que for preciso nessa aula. Ele é um bom aluno. — Ela me lançou um sorriso.
Logo saímos da sala, nos despedindo da professora. Levi foi comigo até o armário para guardar a mochila e, por mera coincidência, o armário dele era ao lado do meu.
— Pelo menos o armário ao lado é de alguém que eu conheço. — Comentou, abrindo seu armário e organizando o material. Fiz o mesmo.
— Isso me deixa mais seguro, sinceramente — Sorri.
— Bom, vamos lá, vou te apresentar o hospício. — Ele sorriu.
— Então eu estou em casa.
Disse ele. Caminhamos pelos corredores, que estavam vazios. Metade dos alunos estava no refeitório, e Levi disse não estar com fome, assim como eu. Seguimos em frente, mostrei a ele onde ficavam os banheiros, o ginásio, a biblioteca e o laboratório de pesquisas. Por fim, apresentei meu local "secreto".
— Bom, aqui é onde eu gosto de ficar, longe de toda a muvuca.
Ele olhou em volta, e a ausência de alunos me deixou feliz.
— Eu gostei desse lugar. — Falou ele. — Não tem ninguém para encher o saco.
— E é por esse motivo que eu fico aqui.
Sentei-me no chão, encostando na parede. O local era fechado por árvores ao redor, e nenhum aluno ia para aquele lado. Era fácil matar aula ali, pois as câmeras de segurança não foram instaladas nesse espaço. Levi se sentou ao meu lado, suspirando fundo. O clima mudou completamente, e o sol apareceu, deixando tudo abafado. Afinal, moramos em Surfside, uma cidade que abrange apenas uma milha quadrada, aninhada entre Miami Beach e Bal Harbour. Ou seja, temos praias perto, e muitas vezes gosto de sair do colégio para caminhar na areia.
— Você tem muitos amigos por aqui?
Perguntou Levi, me tirando dos pensamentos. Meu coração gelou pela pergunta.
— Não, eu não tenho amigos aqui. — Passei a língua nos lábios rapidamente. — Bom, eu sou bem na minha, sozinho. Acho que você já deve ter percebido isso.
— É... Eu percebi. Por esse motivo achei você legal.
— Desculpa a pergunta, mas, isso é como dizer que você gostou de mim? — Sorri de forma envergonhada, sentindo meu rosto corar. — O que você viu em mim, pra ser sincero?
— Você é... legal, gentil. Foi o único naquela sala que não me olhou de cima a baixo em forma de julgamento. Eu vi uns caras me olhando como se eu fosse uma puta. Sinceramente, me senti bem ao seu lado, portanto, eu gostei de você.
Ele me olhou nos olhos, e isso me deixou completamente envergonhado e "com medo", pois nem meus pais já me disseram algo assim. Acho que minha reação foi espontânea demais, o que fez ele perceber.
— Cara? Você está bem? Você ficou vermelho, ou é o calor? — Eu não sabia onde enfiar a cara, pois a vergonha, junto com a timidez, me consumiu.
— Foi mal, é que eu não costumo escutar essas coisas de ninguém. Então fico um pouco envergonhado. — Ele sorriu em seguida.
— Eu também não costumo elogiar as pessoas, só quando gosto delas.
— E você, tem muitos amigos? — Perguntei, olhando para ele.
— Não, eu apenas conheço pessoas, mas não tenho amigos. Nos dias de hoje, está difícil de se encontrar, e além do mais, evita decepções.
— Eu tenho que concordar com você. Por isso eu sou apenas eu, e eu. — Olhei para o céu, suspirando o ar abafado.
— Acho que temos muito em comum. — Comentou Levi, quebrando o silêncio que se formou.
— Eu vou ser seu amigo, claro, se você quiser. Mais uma vez, ele conseguiu me deixar completamente sem graça e sem ter o que dizer.
— Você tem o dom de deixar os outros com vergonha? — Brinquei, enquanto abria um sorriso.
— Faz parte de ser eu. — Ele complementou, mostrando um sorriso, seus dentes eram alinhados.
— Uau! — Permaneci sorrindo, até que ele perguntou mais uma vez.
— Iae, amigos? Bora para as baladas ou qualquer rolê aleatório.
Ele estendeu a mão. Refleti por alguns segundos. Isso está mesmo acontecendo? Estou prestes a me foder, ou a fazer um amigo de verdade? Mas, no meio de tudo isso, estava com medo de, no futuro, acabar quebrando a cara. Entretanto, tudo é experiência, boas ou ruins; arriscar e viver sempre é a opção.
— Amigos!
Levantei um sorriso de canto, apertando a mão dele. Ficamos ali, sentados e conversando um pouco sobre a vida dele antes de sair do último colégio. Foi uma conversa tão boa que não percebemos a hora passar, e logo já teríamos que retornar para a próxima aula.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Se eu Ficar? Parte 1 - Degustação
Любовные романыLivro completo na Amazon Kindle Kevin, é um jovem de 17 anos em busca de sua própria constelação de verdades em um mundo repleto de incertezas. Enquanto enfrenta as tormentas do ensino médio e as lutas familiares em casa, Kevin encontra em um novo a...