1. Summertime Sadness

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"Kiss me hard before you go."


Eu não quero admitir.

E muito menos quero olhar para a cara idiota daquele brutamontes irritante.

É óbvio que é meio impossível evitar meu eventual encontro com ele, mas a cada segundo que passa, sua boca não para de comentar sobre uma tal de Lisa que conheceu num barzinho. Está chegando a um ponto em que ele só fala dela, do quanto seus cabelos vermelhos são sedosos e do quanto seus olhos verdes brilham na luz do sol.

Ouvir suas declarações só aumenta minha vontade de desaparecer e nunca mais voltar dos mortos. E não era nem para eu me importar com isso.

Aliás, por que eu me importo?

Não é novidade para ninguém, para ser honesto. Joe é conhecido pelo seu jeito sedutor. Sua fama reflete em sua habilidade bruta no skate e em como encanta suas admiradoras. Todavia, é irritante. É um pé no saco vê-lo toda semana com uma nova garota, ainda mais quando eu...

— Kaoru?

Eu praticamente dou um salto alarmado ao ouvir o chamado de uma voz.

Por um momento, eu tinha esquecido que estava no restaurante de Joe, junto com Langa, Reki e o próprio Kojiro. Sentados nos bancos do bar, estávamos todos aproveitando esse tempo livre para discutir algumas estratégias para avançar nos campeonatos da "S". Joe, sem perder a oportunidade, de vez em quando comentava sobre o encontro que teria com a tal de Lisa.

Eu revirava os olhos toda vez que ouvia o nome dela.

Além disso, eu claramente não estava participando da discussão. Minha cabeça estava vagando por outros rumos, que não são muito do meu agrado. No entanto, observando a expressão confusa dos meus amigos, sou obrigado a começar a prestar atenção no diálogo deles.

Langa me observa com atenção.

— Está tudo bem, Cherry? Você parece meio... desligado.

Reki concorda.

— Sim, você não falou nada até agora!

Meu rosto cora de vergonha.

— Desculpem. Eu só estou... pensando. Em algumas coisas. Do que vocês estavam falando?

Joe está em pé, com seu avental de cozinheiro. Eu noto o exato momento em que seus olhos passam por mim, de cima para baixo.

Seus olhos parecem... preocupados.

— Pois é. Você estava fazendo uma cara de cu braba.

Deixa pra lá.

Eu o fuzilo com o olhar.

— Joe, se você quiser continuar com essa sua cara intacta, é melhor ficar quieto antes que eu a esmurre.

— Ufa, o Cherry voltou ao normal. — Reki suspira aliviado, levando a mão ao peito.

— Pois é, pois é. — Langa concorda com a cabeça. — É muito estranho ver o Cherry calado.

Eu dou de ombros. No entanto, não consigo evitar notar o olhar de Joe sobre mim.

Eu odeio admitir, mas ele me conhece mais do que eu gostaria.

E ele sempre sabe quando algo está errado.

— Está tudo bem, meninos. O que vocês estavam falando sobre a corrida mesmo?

O Reki prontamente abre a boca para falar, e eu só acompanho o assunto enquanto o tempo passa.



É tarde da noite, e os únicos que restaram são eu e Kojiro.

Eu posso afirmar que iria preferir dizer que a companhia de Joe é desagradável e irritante, mas é impossível.

Quando estamos a sós, ele consegue ser um ser humano decente. E é inevitável que eu me sinta confortável com sua presença. Nesses momentos raros, quando há apenas nós dois, não é mais Cherry e Joe alí, dois dos skatistas mais famosos e talentosos que frequentam corridas clandestinas. É apenas Kaoru e Kojiro, adolescentes estúpidos, amigos de infância que ligeiramente se odeiam na maior parte do tempo. Dois seres humanos que sentem um conforto mútuo na presença um do outro, mesmo que odeiam admitir.

O ambiente do restaurante é amigável. O vento frio passeia através das janelas, e as poucas luzes amarelas acesas só reforçam o aconchego que esse ambiente fornece. Detesto admitir, mas adoro esse lugar.

Eu observo enquanto Joe me oferece um drink de limão, em silêncio, e eu não sou maluco de recusar. Levo a bebida para meus lábios. O sabor cítrico invade minha boca no primeiro gole, e não consigo evitar de sentir o líquido gelado amaciando minha garganta. Está divino.

O homem alto de cabelos verdes me acompanha com o olhar, enquanto se senta no banco ao meu lado.

Joe está sério quando arranca a taça de minhas mãos e a leva para sua própria boca.

— Você quer me contar o que está acontecendo?

Ele dá um breve gole no líquido, enquanto me encara.

Eu odeio o fato de ele me conhecer tão bem.

Meus olhos passeiam pelo seu rosto, evitando ligeiramente seus olhos.

— Como você tem tanta certeza que há algo acontecendo?

Ele sorri de lado, aproximando seu rosto ao meu. Ele passeia seu olhar por mim.

— Eu te conheço há uma cacetada de anos. Eu sei quando algo está acontecendo.

Eu engulo em seco. Desvio meu olhar de seu rosto, e agarro a taça de volta. É bom ter algo ocupando minha boca antes que eu deixe algo estúpido escapar.

— Pare de roubar minha bebida.

Ele sorri. Um sorriso bonito.

— E então? Vai me dizer o que é?

Eu rio, debochado.

Eu o encaro, diretamente em seus olhos.

Eu sou um idiota. Um idiota por sentir meu coração tão alterado.

— Eu estou apaixonado.

Jealous boy [MATCHABLOSSOM]Onde histórias criam vida. Descubra agora