7. Video Games

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"Heaven is a place on earth with you"

Só me dou conta de que adormeci quando a luz do sol incomoda os meus olhos o suficiente para que eu acorde. O surpreendente é que a luz provêm do crepúsculo da noite, e não do dia.

Os lençóis estão macios, confortáveis, e o cheiro característico de Joe perfuma o travesseiro. Não é aquela colônia que ele geralmente usa para ir para festas. Não. É um cheiro natural.

Com os olhos já abertos, eu observo o entardecer do sol pela janela. A luz solar que me acordou passa por uma transição que começa no laranja e percorre o rosa, até chegar num roxo que enfeita o céu. Eu consigo enxergar pequenos pontos cintilantes, indicando a chegada da noite.

Acho que nunca me senti tão em paz quanto estou agora. Esse tempo frio. A baixa luminosidade do quarto. Estava me preparando para dormir novamente, ignorando todas as minhas responsabilidades do dia.

Até eu me lembrar da manhã de hoje.

As memórias chegam como uma avalanche, sem nem deixar espaço para eu respirar em meio a inundação. As lembranças, frescas, aparecem como um filme. A carona de Hiroshi, o chá de Hortelã, a chegada inesperada dos meninos, o selinho ridículo de Hiro, a fúria de Kojiro...

Eu olho imediatamente para o lado, vendo o espaço na cama vazio.

Não sei se me sinto aliviado ou profundamente decepcionado.

O espaço o qual deveria estar seu corpo está frio. Não escuto nenhum barulho do lado de fora, e já está anoitecendo. Eu tento muito não pensar em cenários terríveis. Contudo, está explícito que o pior deles aconteceu.

Ele foi embora.

Eu não consigo deixar de me sentir profundamente decepcionado. Envergonhado. É inevitável acreditar que ele se deu conta de que era uma bizarrice transar como um homem, ainda mais seu melhor amigo de infância.

Eu sinto meus olhos arderem. Minhas mãos estão tremulas quando eu cubro meu rosto, tentando controlar minha respiração.

Eu acabei de destruir a melhor amizade que tive na vida. A única.

Eu sou mesmo...

Toc toc.

— Cherry?

Meu rosto se ergue, espantado. A porta se abre, revelando a figura esguia e bem acentuada de Kojiro. Os cabelos verdes estão soltos pelos ombros nus. Seu tronco está exposto, mas uma bermuda branca, a que reconheço de anteriormente, cobre suas coxas. Nas mãos, está uma bandeja branca.

Apesar de tudo, no entanto, aquilo que mais chama atenção é expressão em seu rosto. É preocupação pura. Pelas suas sobrancelhas franzidas, eu duvido que minha cara esteja muito bonita no momento.

— Kaoru?

Eu ainda estou tentando processar tudo isso.

— Kaoru, o que foi?

— O que você... tá fazendo aqui? — É tudo que consigo dizer. — Eu pensei que...

— Como assim? — A cabeça dele se curva levemente, evidenciando sua dúvida do momento.

Não aguentando a vergonha, eu só afundo meu rosto em minhas mãos. Eu devo estar ridículo. Que situação constrangedora.

Eu não consigo ver seu rosto no momento, mas pelo tom de sua voz, percebo que ele foi pego de surpresa.

— Você pensou que eu tinha ido embora? — Questiona.

Minhas bochechas queimam. Eu não respondo, derrotado demais para dizer qualquer coisa. Apenas balanço para cima e para baixo.

Jealous boy [MATCHABLOSSOM]Onde histórias criam vida. Descubra agora