A Proposta |SEMI VERSION|

Capítulo 4 - Desabafos

Demetria se sentou ao meu lado, mal me olhou e permaneceu quieta. Eu me levantei, e fui a procura da cozinha, precisava de um abridor de vinho e taças. Demorei alguns minutos até encontrar tudo, mas peguei duas taças e voltei a sala. Vi que ela secava o rosto com as mãos, respirei fundo e me sentei lado dela.

- Está tudo bem? - Perguntei sem saber se eu queria uma resposta pra essa pergunta. Mas a resposta não veio, o que veio foi uma mão procurando a taça em minha direção, eu a entreguei, e logo completei-a, ela me deu um meio sorriso, e tomou um gole antes de se encostar no sofá, também me recostei, e tomei um gole do vinho tentando o saborear, adorava aquele sabor forte das uvas, o gosto sempre me deixava satisfeita. Olhei para morena que degustava o vinho com tranquilidade e isso de certa forma me foi reconfortante.

Demetria

Minha cabeça latejava, e eu ainda não sabia o porquê de ter ido buscar Selena em casa, e estar ali tomando vinho com ela em completo silencio tanto silencio que chegava a ser perturbador. Minha cabeça estava cheia de tantos pensamentos... acho que este era meu defeito, eu deixo tudo guardado em uma caixinha que as vezes se abria sozinha e quando ela se abria era destrutível, avassaladora. Fechei meus olhos e relaxei mais no sofá, ouvi um celular vibrar, continuei na posição, mas abri meus olhos e Selena estava abrindo uma mensagem no WhatsApp.

Mensagem:

- Sério?

- O que quer Sabrina - Sim eu estava bisbilhotando a conversa de Selena.

- Não me respondeu mais, não me atende, qual o problema?

- Nina, já conversamos, eu não gosto de você desse jeito, não quero mais te ver só para de me ligar.

- Selena eu sei que errei, mas tenta entender, nem todo mundo pode ser como você!

- A desculpa, ser monogâmica e sincera é algo difícil? Ou você está falando do fato de querer me apresentar como sua amiga pra todos? Ou de no meu aniversário você ter levado seu "namorado" na casa dos seus pais? - eu estava ali perplexa com o que estava lendo, mas percebi que eu era tão egoísta que a enfiei nisso tudo sem nem me preocupar se ela tinha alguém.

- Selena me escuta.

- Sabrina vê se some para eu poder mudar esse papo chato, pelo amor de Deus, nos nem tínhamos nada tão importante assim, era só um lance. Sabe aquele ditado que tudo que vem fácil vai fácil? Pois então...Eu nem tenho mais seu contato no meu telefone. Não tenho tempo para ser trouxa.

- Nunca me amou então?

- Amei, no início, quando eu não notava que era apenas um brinquedinho lésbico na sua mão

- Selena para com isso.

- Por favor não me procura mais, eu já estou em outra, e ela é o suficiente pra mim, não quero estragar o que tenho. - A foto da garota sumiu na mesma hora, provavelmente ela bloqueou Selena após saber que ela já está a em outra.

- Gomez... - falei e ela me olhou e logo tomou um pouco do vinho.

- Tudo bem? - Perguntei.

- Não... Me conte algo que te incomoda sobre sua vida. - Ela falou certeira e eu fiquei um tempo parada e então apenas movi meus lábios e falei. - Me incomoda o jeito que eu deixei no passado quem eu era, antes dos meus pais e minhas irmãs morrerem, e como a partir daí me tornei algo que não gosto... - Virei a taça em um único gole. E então contei aquilo que sempre me apertava e que poucos sabiam. - A primeira coisa que fiz quando peguei um carro logo que eu recebi a notícia, foi acelerar ao máximo já estando bêbada, tentando esquecer que eles morreram por minha causa. - Falei aquilo e um peso parecia sair dali.

- Eles não morreram por sua causa.

- Estavam vindo me ver, então... - Ela pegou minha mão e a acariciou, aquilo durou meio segundo, pois ela logo recuou e ficou sem jeito, eu não me importei com o gesto, mas permaneci em silencio.

- Não foi sua culpa.

- Bom e você. - Ignorei aquilo, pois eu não conseguia lidar, e nem me livrar da culpa, já tinha me acostumado com a sensação.

- Eu .... Bom ... Meus relacionamentos, só arrumo mulheres querendo se aventurar, loucas ou traidoras. Mas Demetria sério tente superar isso ou a culpa e a dor vão te corroer.

- Gomez... não creio que saiba como é essa dor. - Ela deu uma meia risada e tomou o resto de seu vinho na taça, pegou a garrafa e bebeu na boca mesmo.

- Não me limite ou subestime Demetria. - Ela se virou para mim – Sabe, as pessoas sempre acham que as outras não conhecem da dor como elas, mas eu sempre fiquei quieta, mas não cabe a mim no momento... Eu conheço a dor sim, e já me perdi várias vezes tentando me encontrar depois de tudo. Quando vim do Alaska eu estava para completar dezoito, conheci uma moça, engravidei fazendo tratamento, tive um menino, ele chamava Roland, era lindo. - Os olhos de Selena estavam cheios de lágrimas e meu coração apertou. - Ele era um garotinho lindo, saudável, a melhor coisa na minha vida, e quando ele estava com três anos teve uma febre alta, levei ele ao médico às pressas porque nada adiantava para melhorá-lo, mas... - ela suspirou pesadamente deixando as lágrimas finalmente caírem - se eu soubesse que aquela seria última vez que ele iria me chamar de mamãe eu teria aproveitado muito mais. - Ela sorriu, mas seus olhos começaram a falhar e as lágrimas continuaram. - Ele foi diagnosticado com uma bactéria, estava entrando em choque, levaram ele pra uma cirurgia de emergência, o coração dele estava parando, os pulmões falhando, ninguém sabia me explicar o que ouve...E em poucas horas eu perdi todo o meu mundo. Roland faleceu naquele mesmo dia, durante a cirurgia, e bom eu tive que ver meu pequeno, sozinho, em uma caixa. - Ela chorava bastante e eu nem sabia o que falar, e foi aí que me lembrei do livro, e levei a mão a boca completamente abismada.

- O romance, é sua vida.... sua história, o Henry é seu Roland. - Ela apenas fez que sim com a cabeça, e continuou a chorar, eu não fazia ideia em como reagir, mas me sentei mais perto e a abracei, sem dúvidas aquilo era estranho... Estranhamente bom abraçar a Gomez. Ela segurou em meus braços e apenas chorou.

- O livro..., é sim, eu só não contei...

- Você é louca pela sua ex então? - Era um ponto importante na história no livro, afinal era um romance.

- Era o que eu ia dizer, romantizei ela... Ela não foi aquela mulher, ela me largou sozinha com ele no hospital, assim que percebeu o que estava para acontecer. - Eu sabia de algo dolorido da vida dela e ela da minha, e isso nos deixava vulneráveis, e eu não sabia o que fazer com tanta vulnerabilidade ali.