4 - Uma recepção calorosa

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"Cada mudança, cada projeto novo causa espanto: Meu coração está espantado."💭

Clarice Lispector

Boa leitura💜

Viollet não se lembrava realmente de quando começara a escapar da mansão. Talvez fora por volta de seus treze anos quando Marjorie começara a ser preparada para debutar na sociedade. Com a adolescência chegando, a aparência de Marjorie passou a chamar muita atenção. Ela parecia uma verdadeira flor, era meiga e muito sociável. Viollet sentia uma certa pena de sua irmã, com tamanha atenção que recebia, acabava sendo pressionada a ser perfeita em todo tempo. Seu debute fora um dos mais comentados de toda Londres, pretendentes surgiam como enxurrada em sua propriedade para tentar a sorte e conquista-la. Ela até mesmo se encantara por um ou dois rapazes, mas o falecido Visconde não os aprovara na época.

A caçula apenas assistia tudo acontecer. Assistia os corpetes sendo apertados na cintura de sua irmã, os vários grampos servindo de adornos em seus belos cachos, os sorrisos gentis e conversas ensaiadas e triviais que toda a nobreza conhecia e parecia nunca realmente se importar ou mudar. Viollet observava tudo, sabia que sua vez também chegaria e teria de passar por tudo aquilo. Talvez sofresse uma pressão ainda maior, já que para Marjorie era tudo corriqueiro, enquanto para ela era sufocante e constrangedor. Com o tempo Viollet entendeu que era apenas uma pessoa introvertida, conseguia manter uma boa conversa com fluidez, mas preferia o silêncio e a solitude.

Foi então que passara a fugir para os campos sempre que sua mãe a enchia de cobranças sobre etiquetas, sorrisos e sociabilidade. Lady Katherine não fazia por mal, ela amava as filhas, mas também sabia como era pesado o fardo de não ser adequada e querida. A alta sociedade era impiedosa, um único erro cometido e toda a sua vida seria marcada. A viscondessa viúva daria o seu melhor para que suas amadas filhas tivessem futuros brilhantes e títulos respeitáveis.

Entretanto, a facilidade que encontrou para educar Marjorie não fora a mesma que encontrara em Viollet. Na verdade, não havia facilidade nenhuma em educar a caçula. A viscondessa faltava descabelar-se para que Viollet conversasse com um lorde, para convencê-la a ir a modista, para que aceitasse dançar em um baile e muitas outras tarefas que para Marjorie - e metade das ladys de Londres- era algo banal.

Chegara um momento em que simplesmente deixara Viollet em paz com sua introversão e resolvera focar apenas em Marjorie. Decidira que quando a mais velha se casasse iria então preparar a mais nova, até lá deixaria que Viollet sumisse pelos campos com seus biscoitos e livros.

Mas, desaparecer em um dia importante como aquele era ultrajante. Onde Viollet estava com a cabeça para simplesmente não estar em casa, adornada e sorridente à espera do novo Visconde? Ela a mataria assim que a encontrasse, sem dúvidas. Bem, era o que ela pensava até ouvir as palavras de um dos empregados.

"Com licença, Senhora. Lady Viollet está sendo acompanhada por dois cavalheiros até a mansão, pelo visto acidentou-se."

Não havia modos ou etiquetas naquele momento, havia apenas uma mãe preocupada descendo as escadarias aos tropeços por conta de seu vestido. Culpava-se por permitir que Viollet se afastasse assim, se estivesse debaixo de sua asa não estaria machucada e muitos menos sendo carregada por dois homens até sua casa.

Céus, carregada por dois homens desconhecidos.

E ainda estava com o vestido sujo e cabelos soltos?!

A viúva poderia desmaiar a qualquer momento. Mas primeiro precisava saber a condição de sua filha, o porquê de estar mancando e se era muito grave. Deus, que não fosse nada grave!

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