JAKE SE MOSTROU muito mais animado que Jay, quando o próprio contou que conversou com o vizinho do quarto 237 horas e horas antes, sorrindo grandiosamente e atraindo alguns olhares ao dar uns pulinhos de empolgação, o que fez Jay desejar que um buraco abrisse no chão para que ele fosse sugado, tamanha vergonha que sentiu.
Era uma mania fofa e perigosa de Jake, tomar tanto os sentimentos dos outros para si, assim como um romancista que ignora sua dor para cuidar da do outro e ter algo que o inspirasse. Jay não podia negar que se importava com o amigo, apesar de não confiar o suficiente para o contar seus problemas pessoais. Não achava que Jake seria babaca a ponto de contar para seu algo (leia-se Heeseung) seus segredos e frustrações, mas não ousaria arriscar.
Aquela era a primeira vez, talvez em toda a vida de Jay, que ele ficava tão ansioso para algo e checava a hora sem longas pausas, ansiando voltar logo para o prédio e conversar mais com Jungwon, e isso era insano. Aquele mistério no vizinho, o choro que ele emitia toda noite, a porta que nunca era aberta, tudo isso o intrigava demais.
Jay não gostava de se sentir intrigado e sempre buscava se livrar de tudo que poderia ocasionar tal sentimento. O americano, por principal influência de seu pai, era sempre muito resolvido em relação a tudo e nunca dependia de ninguém para tomar decisões. Aprendeu a se virar sozinho desde cedo, então tinha consciência suficiente para saber fazer as próprias escolhas e se orgulhar delas, sem arrependimentos ou voltas.
Diferente de Jake, que era indeciso até mesmo para escolher a cor da blusa que usaria durante o dia, quem diria tomar decisões maiores. Jay sentia pena disso e tentava o ajudar como podia, tentando não se transformar no terapeuta do australiano ao invés de apenas seu colega de trabalho e vizinho. Não servia para ser "o amigo psicólogo" de ninguém, apesar de sempre saber o que dizer em todas as situações.
Por vezes, Jay foi visto como babaca por, simplesmente, pôr-se em primeiro lugar.
O Park não precisou mais enfiar alguns papéis da cafeteria no bolso e levá-los consigo para poder se comunicar com Jungwon, decidido que tomaria coragem para ditar tudo em voz alta, enquanto o garoto escreveria como e quanto quisesse.
Era bom ter Jake por perto devido à sua presença agradável e positiva, mas tanto ele quanto Jay não contaram com a chuva que estava prestes a cair. Quando o Park olhou através do vidro da cafeteria, o céu cinzento e deprimente, praguejou-se por não ter levado um moletom ou guarda-chuva. Ele e Jake sofreriam para voltar para o prédio.
Algumas pessoas adentravam o estabelecimento rapidamente para fugirem da impiedosa chuva, encharcando tudo com as roupas e cabelos pingando, formando um rastro pelo chão.
- E depois, quem toma no cu sou eu, que tenho que limpar.
Jay resmungou enquanto terminava de embalar um pedaço de rocambole de abacaxi para uma senhora que arregalou os olhos perante o linguajar dele, enquanto Jake soltou uma risadinha.
- Vamos limpar juntos, assim termina mais rápido e voltamos logo. - o australiano sugeriu.
As pessoas descaradas só se retiraram quando a chuva começou a se acalmar, indo embora uma a uma para enfrentarem os fracos pingos que caíam. Jay encarou o chão molhado e meio sujo por conta dos passos pesados que soltaram areia pelas lajotas brancas.
- Pensa no dinheiro, Park Jongseong. - ele murmurou e massageou as têmporas.
Por dentro, seu corpo inteiro festejava pela folga que receberia no dia seguinte. Não fazia ideia do que faria realmente (provavelmente, nada além de dormir), só estava feliz por ter um dia livre de estresse.
Jake receberia folga um dia após ele, e tinha certeza que o australiano conseguiria lidar com isso de uma maneira fácil. Jay também sempre foi adepto a mudanças, mas estava acostumado com Jake, então ter um novo colega de trabalho por um dia inteiro faria seu estresse voltar.
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quarto 237 • jaywon
FanfictionJay havia acabado de se mudar para aquele prédio nada convidativo e, para piorar, ouvia o vizinho do quarto à direita chorar todas as noites.