A sede

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Por muito tempo, apenas silêncio reinou sobre o topo da colina. Um silêncio tão grande que fez o tinir e o tilintar das armaduras dos Solaris soarem como um estrondo a cada passo que os tornavam mais próximos do acampamento.

E os Lunaris esperaram.

Era impossível adivinhar o que passava na cabeça de cada um. Um homem mantinha os olhos fechados em uma reza silenciosa, outro segurava com afinco um amuleto de madeira entalhada entre os dedos. Talvez todos estivessem conformados com a morte que vinha em uma marcha lenta e ruidosa, mas poucos ainda tinham esperanças. E esses poucos estavam espalhados pela floresta, dispostos a fazer o impossível para vencer uma guerra perdida.

A bandeira de paz balançava perante o sol, escondido em nuvens densas. Alune controlou a respiração e olhou para Leona, procurando conforto.

Ajoelhada, despida da armadura, do escudo e da espada, com os pulsos algemados e rosto ensanguentado, a Solari lhe devolveu um olhar firme. Leona não poupou esforços ao disfarçar-se de prisioneira, socando o próprio rosto e cortando áreas específicas do corpo para parecer o mais convincente possível.

— Mantenha a calma. — Sibilou ela. — Vai dar tudo certo.

Alune mordeu o lábio inferior com força, e teria respondido algo se o barulho de metais e passos não tivesse parado de repente. Ela voltou o olhar para frente e viu os primeiros Solaris interrompendo a marcha há cerca de 15 metros do acampamento. Estandartes vistosos com o símbolo do sol eram fincados na neve, homens bebiam água e ovacionavam entre si, confiantes.

Alune deu um passo para frente.

— Ainda não. — Leona a impediu, balançando o rosto ensanguentado. — Estão entrando em posição, se fizer algo agora será alvejada. Não se esqueça de que o general Sean espera por Mahina e não por você.

Ela ouviu e assentiu, ordenando para um dos escudeiros erguer ainda mais a bandeira branca. Entre os soldados Lunaris, não havia um estandarte de pé, o que significava renúncia e, dolorosamente, desonra.

No fim fora tudo um borrão. Alune ainda estava se recuperando, mas toda a situação a fez se sentir muito fraca. Sentia sua visão ficar turva caso virasse o rosto muito rápido, as pernas vacilavam com frequência e sua voz era um fiapo trêmulo. Quando os Solaris ergueram os escudos da primeira linha e apontaram suas lanças em um urro de batalha que reverberou por toda a clareira, ela soube que tinha que ser forte.

Pegou gentilmente nos pulsos de Leona e a puxou, mas tomou um semblante agressivo quando ganhou a atenção dos Solaris. Um comandante gritou para que parassem quando reconheceu Leona sendo arrastada até o campo vazio entre os exércitos.

— Em nome de Mahina! — Alune gritou, empurrando Leona para que caísse de joelhos na neve. — Eu anuncio nossa rendição! — A voz falhou e ela tossiu, mas apontou para a bandeira branca para reforçar suas palavras. — Nos rendemos! Imploramos pela misericórdia de vocês em troca dessa refém!

Ouviram-se sussurros, mas os Solaris não saíram da formação. A primeira linha formava uma parede inquebrável de escudos juntos e lanças dispostas a espetar a primeira carga Lunari, enquanto que as linhas seguintes cobririam os buracos da primeira, caso algum abrisse. E abriu, dando espaço para um vistoso garanhão negro de pêlos grossos passar entre os soldados, e seu cavaleiro era um homem alto, com a armadura dourada decorada por sedas vermelhas e medalhas sobre o peito. A viseira estava baixada e a espada, embainhada. Ele se aproximou em um trote lento, parando perigosamente próximo de Alune, que não pôde evitar de recuar alguns passos.

Leona ergueu o rosto assim que o Solari parou ao seu lado, vendo o general Sean erguer a viseira e mostrar um meio sorriso à sobrinha.

— Levante-se.

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⏰ Última atualização: Jul 10, 2023 ⏰

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