O barco

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O cerco estava se iniciando. 

Alune observou os homens adentrarem a floresta densa antes de virar-se para o irmão, "Vá pelo sul, até o porto. Procure por um homem chamado Isan. Ele vai te guiar".

Aphelios assentiu, desviando os olhos, mas Alune puxou-o para um abraço. Sem ações, o assassino retribuiu o afeto, afagando suas costas. Ao ouvirem gritos ao longe, Alune fechou os olhos em dor e afastou-se do irmão, "Vá".

Aphelios observou os olhos prateados da irmã antes de virar-se e correr, seguindo a direção da lua cheia. O frio da noite atingia seu rosto pálido numa carícia frívola. 

Ao não conseguir mais ouvir os gritos, Aphelios parou de correr. Ajeitou suas lâminas e passou a andar num ritmo acelerado.

Estaria no porto perto do amanhecer.

—※—※—※—


Os finos feixes de luz atingiram seu rosto quando chegou. Pesqueiros sonolentos preparavam suas embarcações para mais um longo dia de caça, e as crianças ajudavam a carregar o equipamento com os olhos inchados de sono.

Olhando ao redor, Aphelios interrompeu os passos. Sem saber como prosseguir, ele pôde apenas observar o horizonte, onde o sol nascia colorindo o mar de laranja.

Algo tocou um de seus ombros, e ele virou-se ao mesmo tempo, sua mão direita procurando uma lâmina. Ao ver um sujeito vestindo roupas simples e mastigando uma folha de trigo, ele parou.

"Você é o homem enviado atrás da pedra?", sem esperar uma resposta, ele balançou a mão, "É claro que é, não haveria outro sujeito armado até os dentes se não fosse por isso. Eu sou Isan".

Sem dizer uma palavra, Aphelios puxou o saco de dinheiro e despejou 5 moedas na mão de Isan. Ele sorriu, animado, e guiou-o até uma embarcação longa, de madeira escura. O barco era enorme, contando com a presença de outras pessoas que encaravam o nascer do sol com indiferença.

"É uma longa viagem até Águas de Sentina. No caminho, iremos parar em Piltover para abastecer os mantimentos. Serão 10 longos dias", Isan disse, guiando-o para o convés. "Não é um cruzeiro de luxo, então não espere por quartos particulares. Contente-se em achar um bom lugar no convés, e torça para não chover".

Embarcações para longas distâncias costumavam ser luxuosas, mas também há aquelas que não detém toda essa riqueza. A embarcação de Isan era, apesar de grande, bem simples. O único cubículo coberto era onde ficava o capitão e, muito provavelmente, sua cama.

Ao olhar para o céu, Aphelios suspirou aliviado pelo dia sem nuvens. Odiaria pegar chuva.

O banheiro ficava na parte de baixo, descendo uma escada vertical, e fedia feito o diabo. Uma mulher subiu de lá com olhos enojados, esfregando avidamente as mãos nas roupas.

Desviando os olhos, o assassino procurou um canto afastado e sentou-se. Os olhos negros passaram pelo convés, analisando cada um de seus passageiros. A mulher que acabara de voltar do banheiro sussurrava algo para uma garotinha, provavelmente sua filha. Havia um outro homem, comendo pão, enquanto ouvia sem interesse um jovem tagarelar sem parar. O jovem não devia ter mais de 18 anos, e parecia bem contente, diferente do homem que o ouvia.

Do outro lado, duas jovens e esbeltas mulheres com roupas provocantes conversavam em tom baixo, quase furtivo. E, sozinha em um canto, encontrava-se uma pequenina garota de, no máximo, 12 anos, concentrada em um livro de capa verde.

Apesar da passagem do barco custar 5 moedas, o que era considerado uma boa quantia de dinheiro, a garota vestia roupas surradas demais para ter todo aquele dinheiro. Aphelios ergueu uma das sobrancelhas negras, levemente intrigado, para logo concentrar-se em seus próprios assuntos.

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