As palavras

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A inspiração voltou, estranhamente. Pretendo manter a frequência, prometo akskask

Só é estranho pensar que, quando postei o último capítulo, estava melancólica e com medo do futuro, de não ser capaz e, agora, postando esse capítulo, estou fazendo estágio e fazendo a faculdade que eu quis fazer.

E então, senti novamente vontade de escrever.

Obrigada aos que aguardaram e acreditaram que eu voltaria. Muito obrigada mesmo <3

Havia morte e sangue e gritos. Aphelios estava lá, podia sentir e ouvir tudo, podia ver seu povo sendo massacrado, mulheres, crianças, homens que brandiam armas em defesa de suas famílias. Corpos caíam em cascata, manchando a terra de vermelho, pintando aquele alegre vilarejo em uma aquarela macabra que o assassino jamais tinha visto antes, nem mesmo quando executava suas vítimas.

Se acostumou com aquele vermelho, o vermelho dos alvos. Mas sangue é sangue, seja aliado ou inimigo. Lunari ou Solari. Sangue é sangue.

Tentou defender uma mulher que corria de um guerreiro do sol, mas percebeu que suas armas não estavam com ele, e mesmo quando usou os punhos para impedi-lo, seu corpo o atravessou como se fosse névoa. Como se Aphelios fosse apenas fumaça negra que assombrava aquela noite.

E então sentiu um toque, um toque de verdade, não o sabor bizarro que sentia quando as pessoas em combate o atravessavam, mas sim um toque em seu braço. Ao se virar, viu Sett, o rosto havia perdido aquela sombra brincalhona e agora ostentava ódio, seriedade, mas seu toque era gentil.

— Fique comigo.

Apesar dos gritos e do cantar das lâminas, Aphelios o ouviu com clareza.

— Fico.

Mas Aphelios ainda era névoa e escuridão, e nada além do meio-vastaya podia tocá-lo, feri-lo. Sett estava com os soqueiros nas mãos, o ferro tilintava ao se chocar contra rostos Solaris, quebrando narizes, arrancando dentes e furando olhos. Aphelios queria ajudar, mas cada golpe atravessava os inimigos e eles sequer o olhavam, como se não estivesse ali.

— Sett! — Gritou, horrorizado, assustado.

— Estou com você.

Aphelios olhou para ele, para a maneira como o protegia mesmo que estivesse invisível aos outros, como lutava com ódio e fervor e brutalidade. Quebrou o pescoço de uma guerreira com armadura dourada que tentou atacá-lo por trás, e as garras felinas arrancaram a carne do rosto de outro. Mas então, o chefe foi encurralado.

Era um guerreiro solariano enorme, alto e parrudo, com grande força bruta. Sett o viu pelo canto do olho e soltou o braço de Aphelios para se defender, mas o guerreiro era forte, muito forte. Os soqueiros se partiram quando arranharam a espada do homem, e com os punhos nus, o chefe recorreu às garras. Inútil. Aphelios gritou, agachando-se para alcançar uma das inúmeras espadas jogadas ao chão, mas não conseguia tocá-las. Névoa não empunhava armas.

— Sett! — Gritou de novo, usando o próprio corpo para tentar empurrar o enorme guerreiro, mas novamente foi mal sucedido.

Sett o olhou, os olhos felinos estavam arregalados em sua direção, e pura dor preencheu sua expressão quando a espada atravessou a sua barriga.

— Mestiço sujo, o que faz em terras sagradas?! — Rugiu o guerreiro, puxando a lâmina enquanto o corpo de Sett tombava.

Aphelios urrou, esperneando enquanto se aproximava do meio-vastaya, mas ele o impediu com um sinal fraco das mãos que sangravam. O moreno não conseguiu mais avançar, por mais que suas pernas insistiam em correr na direção dele. Uma força invisível o prendia no lugar, o fazendo cair de joelhos sobre uma poça de sangue. Sangue inimigo, sangue aliado. Sangue é sangue.

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