Capítulo 5.

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Depois que ele terminou de comer, se levantou sem dizer sequer uma palavra e saiu do quarto. Na sua volta ele veio com Teodoro.

— Quero que essa mulher viva como uma cadela, até eu decidir que ela merece se tornar humana aos meus olhos. Ela viverá no coral junto dos cavalos, comerá da mesma comida que eles, não terá nenhum diálogo com os escravos dessa mansão. Até que ela entenda quem é o seu senhor, e quem decide se ela vivi ou morre. — ele falou tudo isso olhando para Teodoro, sem me dirigir sequer o olhar. Depois de decretar suas palavras ele se retirou.

Teodoro abanou a cabeça, com pena de mim, enquanto me acompanhava para o coral. Em nenhum momento ele falou comigo, até chegarmos ao coral.

— Asta, eu te disse para não deixar o fogo em sua cabeça tomar conta de suas ações. Você poderia ser protegida pelo comandante, mas preferiu o desrespeitar e ser seu inimigo. — meus lábios terminam, mordo a minha língua para não chorar, porque sei que fui boba e imprudente.

Agora eu acredito que os de Ergans estão possuídos por demônios. Se eu tivesse me calado, se tivesse aceitado a proposta de ser sua amante, talvez eu tivesse tido um final melhor. Mas não, o orgulho me consumiu.

Teodoro saiu do coral, me deixando sozinha. Olhei em volta puxando o ar, aqui tem mais de trinta cavalos e com as melhores raças. Ou seja, os ditos cavalos selvagens. São tão grandes e majestosos que até dão medo, nunca montei um cavalo na minha vida, mal sei como lidar com ele. Eu só via meu pai montar mais em nenhum momento me interessei em aprender. Caminhei por todo coral, até encontrar um cavalo menor, o mais novo do estábulo. Entrei em seu compartimento, ele não se mostrou ameaçado, ele é todo cinzento como as cinzas recém formadas, seus olhos são cristalinos. Caminhei até o canto e lá me encolhi.

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— Asta...— sonolenta e sentindo frio, minhas pálpebras se abriram.— Garota, o que você fez! Tinha mesmo de irritar-lo. Eu aqui pensando que ele havia gostado de si, como você foi parar aqui?

Eu quis a responder mais comecei a chorar, não preciso que mais ninguém me diga o quão idiota eu fui. Eu sei estou sentindo.

— Sua raça é complicada!— disse num pequeno sorriso— Não chore, se você se comportar quem sabe ele mude de ideia. Trouxe um cobertor para você e um pouco de pão e maçã. Não irei me demorar, para que os outros escravos não saibam que estou lhe ajudando. Afinal a notícia de que você desrespeitou o comandante já se espalhou por todo o palácio.

— Eu sei que não se justifica o que eu fiz...mas eu estava com raiva. Ele queria que eu agradecesse pela minha vida sendo que foi ele quem a deixou assim. Matou toda minha família, minha aldeia, e nos nunca os fizemos mal algum. O que eu tenho a agradecer a um monstro Judith?

Ela deu um pequeno sorriso triste, se sentando ao meu lado.

— Eu tinha por aí dez anos quando os comandante destruíram o meu vilarejo, e meu povo foi feito de escravo, os poucos sobreviventes. — ele deu um pequeno suspiro — como também fui uma das primeiras escravas a vir trabalhar na mansão, e antes de vir para aqui.— ela deu um riso triste — meus antigos donos me usavam como objeto. Bem, posso dizer...que tive um pouco de paz quando vi trabalhar aqui. No início é difícil aceitar, mas com o passar do tempo você se acostuma com a dor, e invés de sentir ódio, você simplesmente deixa de sentir e começa a agradecer pelo alimento de cada dia. — ela limpa minhas lágrimas— Quando Marshall se fartou de me ter em sua cama, ele simplesmente deixou a minha mísera existência em paz.  Portanto, de escrava para escrava, deixe que eles te usem, quando eles se fartarem de ti, você terá uma vida mais tranquila, acredite.

Ela deu um beijo em minha testa, e se levantou, antes de sair mais uma vez sorriu para mim, antes de sair. Me alimentei e fechei os olhos, pensando em tudo que ela me disse. Será que tenho maturidade o suficiente para aceitar alguém que me destrói comandar minha vida?

Estranhamente me senti aquecida durante a noite. Mesmo o lençol sendo fino. Só fui descobrir porque ao despertar, quando vi o cavalo encostado ao meu corpo. Fiz cafuné em sua crina, agradecendo sua gentileza.

— Eles também te tiraram de seus pais né?

Teodoro passou do estábulo para ver como eu estava e para me dizer que eu limparia o estábulo sozinha daqui por diante, ordens do comandante, limpar o estábulo, lavar os cavalos e os alimentar. O estábulo é bem grande para que eu limpe sozinha, mas não reclamei, o homem deve estar fervendo de raiva pelos insultos que proferi.

É muito difícil me acostumar a dinâmica da minha nova realidade, faço de tudo para comprimir minhas tarefas até o fim do dia, mesmo não ganhando nada em troca. Teodoro vem uma vez por semana para conferir se estou fazendo tudo direito, Judith ou Ivone vem uma vez ou outra para me oferecer comida. Elas só não me dão roupa para não levantar suspeitas de que estou recebendo ajuda.

Tenho de ir ao campo, colher pessoalmente a comida para os cavalos, pois os agricultores foram proibidos de me ajudar. Esse homem, talvez queira que eu morra de cansaço, e se realmente for isso que ele quer, ele que vá se ferrar, eu sou filha de fazendeiros, trabalho do campo não me assusta. O que me dói é dormir com fome algumas vezes e ter de beber da mesma água que os animais.

A Escrava | Em Degustação |Onde histórias criam vida. Descubra agora