1

198 36 25
                                    

   Eu era bem rico.

   Talvez milionário, mas graças ao trabalho duro de minhas mães. Duas alfas que começaram com pouco e conquistaram o lugar de maiores empresárias de todo o país, tinham uma empresa voltada para o jornalismo, conhecida por ter a maioria de seus trabalhadores sendo betas e ômegas, pouquíssimos e selecionados alfas.

   Assim que completei maior idade venho tentando me sustentar sozinho, apesar da briga de ambas em querer que eu morasse com elas. Não achava justo, haviam feito isso durante toda a minha vida. E hoje era um daqueles dias que almoçaria com elas no serviço e teria que escutar algumas indiretas.

- Meu neném lúpus... se continuar malhando desse jeito, terá peitos maiores que o de sua mãe – apontou em direção a mulher que a olhou desacreditava e lhe deu um tapa.

- Cristal! Fala como se as coxas dele não fossem maiores que sua bunda!

   Respirei fundo, minhas mães não tinham filtro e falavam em uma altura que todos os funcionários presentes no refeitório conseguiam ouvir. Estava ali mais uma diferença delas, não saíam e comiam em restaurantes caros, comiam junto com os funcionários, quando não gostavam do cardápio compravam quentinhas para todo mundo comer com elas algo diferente.

- Está o envergonhando.... desculpe querido! – Érica riu sem graça – como está o trabalho de garçom? Tem certeza que não quer dinheiro para algo? Nem mesmo para festejar com os amigos? Roupas novas, tatuagens..... pelúcias....

   Sussurrou a última parte. Eu era simplesmente apaixonado por coisas fofas e apertáveis. Não sabia dizer se era pelo meu lado ômega que pedia por isso, mas sempre gostei.

- Na verdade, vim pedir um emprego. Meu patrão descobriu sobre vocês então quis me dar um cargo na gerência, mas eu não sirvo pra ficar todo engomadinho num escritório. Nada contra, mas.... não gosto disso.

- Sabe que não precisa trabalhar, podemos sustenta-lo, isso não nos ofenderia nenhum pouco. Trabalhamos muito para lhe dar o conforto que merece. A nossa função como mãe é cuidar de você até mesmo depois que formar sua própria família, filhos são eternos!

- Eu sei e agradeço muito por isso, mas gostaria de ter meu próprio dinheiro, receber tendo feito algo por ele. Então aceito o dinheiro se me pagarem mensalmente e eu for um auxiliar de cozinha, faxineiro, segurança, zelador.... qualquer coisa.

- Bom.... falando de maneira profissional, a empresa está na cota limite de funcionários. Porém, existe um setor especial dos arquivos. Ninguém gosta de ficar nele organizando as coisas, jogando fora o que não precisamos e está uma zona. Eles entram, procuram e fazem uma bagunça até encontrar o que precisam e deixam de qualquer maneira.

- Verdade.... e você não precisaria usar um terno, só um crachá informando qual setor é. Quer dar uma olhadinha?

   Assenti rapidamente, eu gostava de organizar as coisas e ficaria feliz em fazer isso. Fora a parte que estaria próximo delas e não implicariam tanto com o que fazia. Não era fácil ser o filho ômega lúpus de um casal de alfas.

   Quando subi até o andar dos arquivos e observei as diversas prateleiras repletas de folhas soltas, pastas caídas no chão, caixas empilhadas e a minha futura mesa quase escondida por conta dos entulhos, fiquei chocado. Daria mais trabalho do que imaginei.

- Quando eu começo? – perguntei e elas se entreolharam, provavelmente acreditaram que eu não fosse aceitar.

- A hora que quiser! – Cristal disse, ela sabia que não adiantava muito retrucar, havia puxado minha outra mãe nesse quesito e costumava conseguir o que queria – olha, não tem erro! Cada estante tem um nome e o setor que pertence. As pastas e caixas também. Tudo que for dos últimos dez anos, mantenha. O que não for, pode usar o triturador de papeis. Depois coloca o lixo nas caixas e virão buscar.

- Sem problemas. Tem algum setor que costuma vir mais aqui e perde um bom tempo procurando o que precisa?

- O das colunas de variedades e o setor culinário.

- O de divulgação também!

- Está bem!

- Quando der 16:30 passe no setor de RH e depois em nossa sala.

   As duas se despediram com um abraço apertado que me faltou o ar e assim que passaram pela porta, arregacei as mangas e coloquei a mão na cintura. Teria um serviço e tanto nas próximas horas.

- É pra isso que eu malho!

   Ri convencido enquanto carregava e empurrava algumas caixas para o canto e tentava deixar pelo menos um corredor – para ficar mais fácil transitar pela grande sala que mais parecia o meu closet. Era aquilo, amo uma mesa organizada, cadernos e livros arrumados e enfileirados, canetinhas separadas por tonalidade.... mas as roupas tem sua própria organização, separar muito perde a função e essência, elas precisam de liberdade.

   Quando decidi começar a organizar primeiro as caixas na frente de cada estante, escutei o barulho da maçaneta e logo a porta foi aberta. Mostrando um rapaz de semblante triste e olhos cor de mel, tinha bochechas gordinhas e covinhas, parecia ser um pouco mais alto que eu. Ele não havia notado minha presença, seguiu de forma automática até minha futura mesa e procurava algo nos milhares de papeis largados que havia ali.

   Ele me lembrava o Totoro e ao mesmo tempo o Baymax, extremamente apertável – mas parecia que ele não gostava muito disso em seu próprio corpo. Ele mexia nos papeis e dava uma pausa, tentando arrumar sua blusa e descer um pouco a mesma, parecia estar apertada e desconfortável em si.

"Ele é nosso tipo todinho! Olhe só quanto lugar pra morder e apertar?"

   Meu lobo sem vergonha disse mentalmente e assenti, não me importava em ficar com um ômega, ainda mais com um cheiro tão gostoso, lembrava beijinho e eu amava esse doce. Respirei fundo e deixei a caixa de lado, coloquei as mãos atrás do corpo e cheguei de forma calma a mesa. O plano de conquista começaria.

- Você.... gostaria de uma ajuda?

   Assim que perguntei, o rapaz se ergueu assustado e seu rosto virou em minha direção, mostrando através dos óculos, seus olhos tomando a coloração vermelha e ele rosnou – o lobo fazia isso em uma atitude defensiva, ele estava concentrado e não esperava ter alguém aqui, mas tinha um porém, só alfas lúpus tinham essa coloração.

   O que a merda de um alfa lúpus estava fazendo na empresa?

"Essa nem eu esperava!"

Projeto: O Alfa dos Sonhos •Namkook•Onde histórias criam vida. Descubra agora