Capítulo 35: Autoconfiança Demais [narrado por Elena]

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     Não sei muito bem em que momento, mas acabei pegando no sono. Na verdade foram intervalos entre um cochilo e outro, nada que eu pudesse realmente chamar de sono. Quando me vi presa de volta com ele, achei que não conseguiria pregar os olhos, mas era algo que eu realmente estava fazendo. Talvez por estar me sentindo cansada e exausta, fisicamente e mentalmente. Não que eu fosse admitir minha fraqueza para ele, embora meu semblante decepcionantemente revelasse.
     Eu dormia apenas e unicamente pelo cansaço físico e psicológico que estava sentindo. Mesmo não me sentia segura para fechar os olhos, era uma necessidade que o meu corpo estabelecia e eu não conseguia controlar. É claro que não dormi bem, foi um sono perturbado por emoções e sensações estranhas. Uma hora tudo parecia calmo demais e em outra, parecia que uma catástrofe estava acontecendo e que eu não iria sobreviver à ela.
     Eldon parecia atormentado, toda vez que eu voltava a realidade e meus olhos deixavam de se fechar, eu o via de relance andando pela cabana e espiando pela janela. O chão velho de madeira rangia e o vento era tão forte que eu pensei que colocaria a cabana abaixo. Não tinha mais noção exata do tempo, mas com certeza era de madrugada e as horas se recusavam a passar. Quando ficava acordada procurava fingir que estava dormindo, tentando não chamar atenção.
     A luz parecia mais fraca e mesmo assim os meus olhos ardiam. Não conseguia me acostumar com o ambiente, e isso não poderia ser julgado. Era um recinto, um cativeiro, não era para eu me sentir bem. Escutava um barulho um pouco diferente, mais alto, porém distante. Começava no cômodo ao lado e subia, eram rangidos, barulhos de degraus. Seria uma escada que levaria até um segundo andar? A cabana não seria tão pequena quanto eu imaginava?
     A certeza eu tinha, pois ouvia o barulho de passos no teto e sentia uma tonelada de poeira caindo em cima de mim. Tentei evitar uma tosse e imaginei que o teto de madeira despencaria mais cedo ou mais tarde. O que ele estava fazendo lá em cima? Sapateando? Ou fazendo uma faxina que incluía arrastar alguns móveis? Esses barulhos eram como uma tortura para os meus ouvidos. O mais estranho é que de repente vinha a calmaria, do nada, um silêncio. Sempre diziam que quando a casa ficava em silêncio é porque as crianças estavam aprontando. O que ele estava aprontando? Eu não gostava nem de imaginar...
     Com a calmaria, mesmo que relutante e à espera de alguma calamidade, eu me entregava ao sono. Não queria, mas não aguentava. Mesmo sendo alguns pequenos cochilos, foram o suficiente para que eu tivesse um sonho, ou em outras palavras, um pesadelo. Um daqueles em que me vejo fugindo de Eldon. Eu rezava e implorava para que o pesadelo terminasse, para que eu não passasse mais por isso, nunca mais. Eu tinha sido liberta das profundezas daquele porão, a tortura tinha acabado, mas as cenas do que aconteceram em pequenos feixes sempre rondavam a minha cabeça. Sem que eu pudesse apertar um botão para apagá-las.
     Então abri os olhos e dessa vez uma claridade forte atingiu o meu rosto, me fazendo levantar uma das mãos para cobri-lo. Já era dia. O pesadelo fez com que as horas passassem, o que significava que eu havia sobrevivido à noite.
     Meus olhos ainda estavam se acostumando com o ambiente e minha mente ainda trabalhava com lentidão. Todo o meu corpo estava dolorido, era o esperado depois de horas sentada na mesma posição, em um colchão nem um pouco confortável, acorrentada. Meus ombros estavam pesados e a minha barriga roncava. Além disso, dores estranhas apareceram, como pontadas. Isso me preocupava, me preocupava muito. Minhas pernas estavam formigando. Sem contar a terrível vontade de fazer xixi. O frio ainda era intenso, e me fazia congelar.
     Ouvia batidas na parede de madeira, uma após a outra, e quando os meus olhos finalmente se acostumaram com a claridade e se fixaram ao ambiente onde eu estava, observei a presença de Ethan novamente na cabana. Ele estava sentado no chão, com as costas na parede. Segurava em uma das mãos uma bola de borracha, que arremessava em direção a outra parede e a mesma retornava para a sua mão. Era o que causava as batidas. Na outra mão um cigarro. O cheiro da nicotina invadiu o meu nariz.
     Depois de arremessar a bola pela última vez, Ethan se levantou e caminhou até a mesa. Meus olhos, ainda meio confusos, seguiram os seus passos até que ele parasse. Na mesa, um cinzeiro, onde ele apagou o seu cigarro. Puxou uma cadeira e se sentou.
     - Essa é a quantidade suficiente para que funcione? - perguntou.
     Então observei a presença de Eldon na outra ponta da mesa.
     - Sim. - Eldon respondeu. - Com essa quantidade funcionará perfeitamente.
     Em minha mente, eu me perguntava sobre o que eles estavam falando. Eldon tramava alguma coisa, e não me parecia algo bom. Inevitavelmente eu pensei em como as coisas seriam mais fáceis se tudo isso fosse apenas mais um pesadelo e que de repente eu acordasse sã e salva na minha casa, com a minha família. Com Dean. Como eu sentia sua falta... A angústia no meu peito estava me matando, toda essa incerteza me dominava em uma sensação terrivelmente dolorosa. Uma lágrima me escorreu, enxuguei-a disfarçadamente.
     Ouço então um barulho e volto o meu rosto para a mesa. Eldon está concentrado, manuseando equipamentos estranhos, coisas que eu nunca tinha visto antes. Me sinto perdida e ainda mais confusa, sem entender a gravidade do que acontecia.
     - Olá, Elena. Vejo que está finalmente acordada. - escuto sua voz áspera.
     - O que está acontecendo?
     Ele me ignora.
     - Dormiu bem? - cínico, ele pergunta, enquanto encaixa uma peça em algo que eu não sabia muito bem o que era.
     - O que você está fazendo? - questiono.
     - Ah, a curiosidade matou o gato, não é mesmo? - diz ele, em um tom brincalhão, mas eu não consigo encontrar o humor.
     - Eu falo sério, Eldon. O que você está tramando?
     Ele me olha e dá de ombros.
     - Ah, isso aqui? Apenas montando uma bomba.
     - O quê? Uma bomba? - pergunto surpresa, sentindo um nó se formando em minha garganta. - O que você planeja fazer com ela?
     - Ah, Elena. Não se preocupe com esses detalhes. O importante é que você está aqui comigo. E eu planejo nos divertir bastante. - ele responde, de forma perturbadora.
     Seu sorriso cínico não desaparece e me faz estremecer. A dor em minha cabeça só aumenta e o meu coração acelera, pelo medo e o nervosismo.
     - O que você pretende com tudo isso? - continuo insistindo, sentindo uma angústia ainda mais forte.
     - Você logo vai descobrir. Se ficar viva tempo suficiente, é claro.
     Estreitei os olhos e o encarei, admirando seu grande cinismo. Sua fala não parecia a mesma de ontem, quando disse que me precisava viva. Eu não era o seu passaporte para fora daqui? Claramente não me surpreendi, dele poderia se esperar tudo, ou não esperar nada. Então, o que uma mudança na fala, no plano, ou seja lá o que, mudaria a situação? A realidade é que ele me mataria de qualquer jeito, mas porque antes de conseguir o dinheiro? Não fazia sentido, pelo menos para mim.
     - Eldon! - Ethan interveio, de repente. - Você não me disse que pretendia matá-la.
     Estranhei sua afirmação e o encarei. Ethan tinha uma expressão de surpresa e negação, como se não compreendesse o querer de Eldon. Ele não está por dentro do plano? Que estranho. Me questionei.
     - Você me disse que íamos apenas usá-la para conseguir o dinheiro do... - Eldon o interrompeu.
     - Não importa o que eu te disse! Você está aqui apenas para cumprir as minhas ordens. E se eu quiser matá-la, eu mato, não vejo problema.
     Ethan engoliu em seco e recuou com certo receio, ou seria medo?
     - Eu só acho que não seria uma boa ideia matá-la. Não seria conveniente... - ele disse, sua voz era trêmula e gaguejante.
     - Porque? Está com dó dela ou não tem estômago suficiente? - Eldon o encarou, claramente como forma de intimidá-lo. Depois me encarou.
     Hesitante, Ethan não respondeu às suas perguntas.
     - Eu sabia que você era um grande covarde. - Eldon disse, com desdém. - Não sei porque ainda te mantenho ao meu lado. Mas como você ainda é útil para algumas coisas...
     Claro, sorri sarcasticamente, por qual outro motivo Eldon manteria Ethan ao seu lado se ele não fosse útil?
     - Escuta bem... - Eldon prosseguiu. - Não quero que falhe, ou as consequências seram grandes para você, entendeu?
     Ethan balançou a cabeça em sinal de concordância, ainda intimidado pelo olhar forte de Eldon.
     - E o que eu tenho que fazer? - Ethan perguntou.
     - Por enquanto, apenas siga com o plano original. Afinal, você ainda quer o seu dinheiro, não quer?
     Ethan assentiu, ainda raciocinando.
     - Eu cuido da nossa prisioneira, matá-la não será uma questão difícil. - Eldon sorriu e olhou para mim.
     Como eu odeio esse seu maldito sorriso medíocre.
     - Mas eu ainda insisto que isso é loucura. - Ethan se posicionou, pela primeira vez, com o tom de voz mais firme. - Se você matá-la, a polícia vem atrás da gente. Não somos assassinos.
     O quê? Novamente, um sorriso sarcástico escapou de meus lábios. Será que Ethan realmente não sabe do passado de Eldon? Eldon é um assassino! Ethan deveria saber, pois está trabalhando com ele! Parecia mais uma das tantas brincadeiras da vida.
     - Ah, Ethan... - Eldon gargalhou. - Você ainda é muito inocente. Não será a primeira vez que eu faço algo assim, e com certeza não será a última.
     Ethan ficou boquiaberto com a revelação de Eldon, o que me causava muita estranheza. Ainda era ridícula a ideia de que ele não sabia sobre as coisas terríveis que Eldon fez.
     - E quanto à polícia, eu estou planejando isso há meses, não é como se eu não soubesse o que estou fazendo.
     Eu assistia a tudo isso com muita atenção e indignação pela frieza que Eldon mantinha em seu tom de voz.
     - Mas mesmo assim, isso é errado. Você não pode simplesmente matá-la só porque quer o dinheiro. - Ethan protestou.
     - E quem disse que eu vou fazer isso só pelo dinheiro? - Eldon retrucou, com uma risada sombria. - Há outras coisas em jogo aqui, coisas muito mais importantes do que o dinheiro. E agora que você está envolvido até o pescoço, não há mais como voltar atrás.
     Ethan engoliu em seco novamente. Eu estava começando a entender. Talvez Eldon tenha caído na real sobre a sua maldita vingança, e decidido que o dinheiro não é o que importa agora. Seria isso? Com certeza não era algo nada bom para mim.
     O silêncio se instalou no ambiente por alguns segundos, enquanto Ethan parecia ponderar suas opções, que no caso, não existiam. Tudo me parecia muito estranho. As ameaças de Eldon continuavam as mesmas, é claro. Mas Ethan... ele parecia tão... Inocente? Incapaz? Eu não tinha certeza. Não sabia se podia confiar nele.
     - Tudo bem então, Eldon, eu continuo com o plano. - Ethan finalmente disse, parecendo resignado. - Mas por favor, não a machuque mais do que o necessário.
     Ethan estava se preocupando muito comigo e com o meu estado, e principalmente com o que Eldon faria comigo. Isso era o mais estranho.
- Não se preocupe, Ethan. - Eldon piscou e gargalhou. - Não sou tão cruel assim. Não é mesmo, Elena?
Ele se levantou e caminhou lentamente pela cabana. Meus olhos o queimavam em cada passo que ele dava, pelo raiva que eu sentia. Até que ele parou diante de mim.
- Você é a pessoa mais cruel que existe, Eldon! - eu finalmente me pronunciei.
- Não seja tão tola, Elena. Me insultando a essa altura? Isso é perigoso.
- Se você não fosse um maldito psico...
Ele interrompeu minha fala desferindo um tapa em meu rosto, que ardeu no mesmo instante. Tomada pela raiva, eu cerrei os meus punhos, pronta para devolver o tapa, mas então me lembrei que estava acorrentada. Meus olhos se inundaram em lágrimas, lágrimas de ódio.
- Elena, Elena... Você não entende nada, não é mesmo? - perguntou ele, com sua voz calma e controlada. - Eu não me importo com o quão psicopata você acha que eu seja, a única coisa que me importa é a minha vingança, e você sabe disso. Eu sempre quis vingança e agora que tenho a chance novamente, não irei desperdiçá-la.
Eu virei o meu rosto para ele e o encarei com toda a minha raiva e desprezo.
- Engraçado, não é? Você teve a mesma chance antes e falhou.
- Garanto à você, Elena, que agora será diferente, começarei te matando e acabando com tudo isso de uma vez!
- Eldon... pense bem. - Ethan interveio. - Você não pode matá-la, precisamos dela viva. O dinheiro está em jogo. Lembra?
- Cala a boca, Ethan! Sou eu quem de decide isso.
Eldon se agachou e tocou o meu rosto, observando a marca que ele havia deixado.
- Sabe, Elena... eu deveria matá-la agora. Mas qual seria a graça, afinal? - sinto meu coração acelerado e minhas mãos trêmulas, enquanto encaro seus olhos frios. - Isso seria rápido e fácil demais, e eu quero que você sofra. Quero que você sofra imaginando que nenhum de vocês sobreviverá, nem você, nem Dean, nem essa maldita criança que você carrega. Quero que sofra pela pequena chama de esperança que eu sei que você tem, lá no fundo. Quero que saiba que serei eu quem irá apagá-la, assim que cortar esse seu pescoço. O seu sofrimento é um divertimento para mim.
Suas palavras são como uma punhalada.
- Você é doente. - eu digo. - Não há nada além de escuridão e maldade em você.
A expressão de Eldon se tornou mais sombria e perversa, enquanto ele se deleitava com o meu sofrimento.
- Você ainda não aprendeu? - ele perguntou. - Escuridão e maldade são apenas palavras vazias para descrever a verdadeira essência humana. A vida é apenas um jogo, Elena. Mas eu? Eu prefiro minhas próprias regras, longe de moralidades frágeis e ilusórias.
Uma sensação de náusea me domina enquanto ouço seu discurso patético. É impossível compreender a mente retorcida de Eldon.
- Você é um monstro. - digo, com todas as letras.
- Não me chame de monstro, pois isso não me afeta.
Ele se levanta abruptamente e vira as costas para mim. Fico de olho em todos os seus passos e não perco nenhum movimento. Ele caminha em direção a mesa e volta ao que estava fazendo.
- Você já me aborreceu demais, agora se me permite...
- Qual é o seu plano, Eldon? - questiono com uma pitada de curiosidade forçada em minha voz.
Ele se vira para mim com um sorriso de canto.
- Revelar meu plano a você estragaria a surpresa, Elena. Mas o que posso garantir é que será algo doloroso, ou talvez catastrófico. - ele gargalha.
Meus olhos se estreitam enquanto observo seus movimentos cautelosos, manipulando os mesmos equipamentos de antes.
- Eu preciso saber, Eldon.
Ele me olha por um instante.
- Tudo bem. Existe uma outra cabana abandonada a alguns quilômetros daqui, em uma parte mais densa da floresta. Não foi difícil encontrá-la. Como eu disse antes e você mesma vê... - ele gesticula. - Estou criando uma bomba, que é muito potente, por sinal.
- E o que você fará com ela?
Ele revira os olhos.
- É uma pergunta muito óbvia, mas posso respondê-la mesmo assim... - ele diz, com sua grande superioridade intelectual, sarcasticamente, é claro. - A polícia está a sua procura e com certeza os policiais farão buscas pela floresta atrás de você, você sabe como eles são. Então despistá-los seria uma boa ideia, e foi a minha ideia.
- Tá, mas como você pretende fazer isso? - pergunto.
- Veja, primeiro vou deixar a bomba posicionada na entrada da cabana e programá-la para explodir assim que a porta for aberta. Em seguida, deixarei pistas falsas no caminho. Todos irão acreditar que você está lá dentro e que a encontraram.
Ele continua montando a bomba enquanto explica:
- Sem dúvida alguma, eles entrarão na cabana acreditando que estarão te salvando, mas na verdade, estarão caindo em uma armadilha. Assim que a porta for aberta, um mecanismo será acionado e a bomba explodirá, causando uma grande explosão.
- Eldon, isso é insano! Quantos policiais, pessoas inocentes, entraram nessa cabana à minha procura? - pergunto indignada. - Isso causaria a morte deles.
Eldon solta um riso frio e cruel.
- Esses detalhes não me importam. Todos morrerão e sairão do meu caminho, como meros peões sacrificáveis.
- Dean... - sussurro seu nome baixinho, sentindo um aperto em meu peito.
- Isso inclui ele também, seu irmão, todos aqueles que decidirem procurar por você. Pelo menos não terei o trabalho de matá-los depois.
A raiva e a descrença crescem dentro de mim.
- Seu desgraçado! - as lágrimas brotam nos meus olhos e o desespero me toma.
Ethan permanece calado diante de toda a situação. Eldon ignora meu xingamento e continua seu trabalho. Uma expressão de contentamento surge em seu rosto. Parece que ele concluiu o que queria.
- Está pronta.
Ele se levanta e segura a bomba em suas mãos, olhando para ela como alguém em estado de hipnose.
- Eu ainda não entendo... Porque você pretende matá-los? Se Dean e todos da minha família estiverem junto e morrerem... Não restará ninguém que possa lhe dar o dinheiro que você deseja. Você não percebe isso?
Seu plano não fazia sentido.
- Não pensamos nisso, Eldon. - Ethan pigarreou, em tom preocupado.
- Já disse para não se preocupar com a porcaria dos detalhes! - cheio de raiva e irritação, Eldon se excedeu, gritando.
Ethan se calou e recuou como um filhote assustado. Eu apenas olhei para Eldon, analisando seu comportamento. Ele respira fundo e sorri, voltando para um tom calmo e controlado.
- Eu tenho tudo sob controle, nada sairá fora do que foi planejado. - sua autoconfiança me irritava. - Pequenos detalhes não me importam. Grandes planos possuem pequenos furos, é verdade. Então se um ou dois morrerem, será parte do processo. - ele me encara. - E não se preocupe, Elena, restará alguém que me dê o dinheiro em troca da sua vidinha de merda. Se não restar... não tem problema, você morrerá de qualquer jeito mesmo.
- Mas você fica sem o dinheiro. - ressaltei.
Ele me olhou como se eu ainda não tivesse compreendido.
- Como eu disse, isso não é apenas uma questão de dinheiro, minha querida. - se aproxima de mim. - O dinheiro seria um bônus. Pela minha vingança.
- Eu quero que você se ferre. - eu disse, com raiva.
Eldon sorri. Autoconfiança demais, para quem não tem escrúpulos é um problema.
- Obrigado, Elena.
- Você é um monstro, Eldon. - torno a dizer.
Ele me olha de forma fria e indiferente. Eu sabia que minhas palavras não tinham peso nenhum sobre ele.
- Elena, sabe o que é mais engraçado? É que no fundo, todo mundo tem um pouco de monstro dentro de si.
- É verdade. - eu disse. - Mas o que nos torna monstros de verdade são as nossas atitudes. Você escolheu se tornar um.
Ele concorda.
- Hoje vejo que tomei uma ótima decisão.
Um verdadeiro monstro.
Um silêncio se fez na cabana, enquanto Eldon me encarava. Todo o seu plano maluco passa pela minha cabeça milhões de vezes. Penso em sua insanidade, nas pessoas que correrão perigo. Se ao menos eu pudesse preveni-los... Mas não há o que se possa fazer.
- Então é isso? - quebro o silêncio. - Seu plano medíocre?
- Não. - ele responde. - Falta mais uma coisinha.
Ele se agacha e olha em meus olhos. Toca minha pele enquanto recuo. Em seguida segura em minha blusa e a puxa com força, rasgando-a. Segura um pedaço do tecido em suas mãos e se levanta. Fico assustada e não entendo.
- Essa será a pista. - ele diz. - No meio de toda essa mata densa, Elena com certeza enroscou a blusa em um galho de árvore, que acabou rasgando, enquanto foi arrastada por Eldon para dentro da cabana. O que acha? - ele gargalha, depois de sua irônica narrativa.
- Ridículo!
- Na verdade... não importa o que você acha. - ele diz, estupidamente.
Ele me dá as costas e caminha.
- O plano está completo, vou colocá-lo em ação agora mesmo.
Eldon guarda a bomba cuidadosamente dentro de uma bolsa escura.
- Ethan, fique aqui e vigie Elena. Não quero erros, ouviu? Não tente nenhuma gracinha. Se deixar essa cabana sabe o que acontece.
- Tudo bem, Eldon, eu entendi.
Eldon veste uma blusa preta e cobre o rosto com um capuz, segura em uma das mãos uma máscara, também preta. Me surpreendo quando ele pega de cima da mesa um revólver e coloca na cintura.
- Ótimo.
Eu observo ainda indignada.
- Desista, Eldon! - tento mais uma vez.
Ele coloca a bolsa nas costas e me encara.
- Não, minha cara Elena.
Me sinto fraca e impotente.
- Me dê a chave do carro. - ele pede a Ethan. - Darei um fim nele.
- Mas precisamos do carro, como fugiremos depois?
Eldon se aproxima de Ethan de forma intimidante e autoritária.
- Eu já estou cansado das sua perguntas. Agora me dê!
Ethan abaixa a cabeça e entrega as chaves nas mãos de Eldon. Eldon sorri e se afasta, pega uma espécie de galão que estava no chão, agora, pronto para se retirar.
- Ethan, tranque a cabana.
- Sim, Eldon.
- Até daqui a pouco... - Eldon me olha pela última vez, com uma maliciosidade perversa no fundo de seus olhos. - Elena.
Ele cobre o rosto com a máscara. Então vejo os dois atravessarem para o outro cômodo. Meu coração acelera. Ouço o barulho de todas as trancas da porta serem abertas e em seguida a porta. Eldon se despede friamente de Ethan. Uma lágrima escorre pelo meu rosto. Ethan tranca a porta e retorna. Agora somos só nós dois.
Ele me encara. Me encolho sobre o colchão. Sinto medo e ansiedade. Sua companhia não me trás segurança. Ele mantém uma expressão assustada, de alguém que não faria mal a uma mosca. Mas mesmo assim, não confio. Ele se senta novamente na mesma cadeira em que estava. Acende um cigarro. E o silêncio retorna.

Continua...

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⏰ Última atualização: Jul 26, 2023 ⏰

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