Depois de alguns dias no hospital, que mais pareciam uma eternidade, finalmente eu terei alta. Uma semana se passou e eu poderei ir para casa. Durante todos esses dias que fiquei aqui, eu recebi a visita de muitos policiais, inclusive a de um agente do FBI chamado John Karter, fazendo perguntas sobre o que havia acontecido naquela noite. Os médicos também começaram o processo de fisioterapia. No primeiro dia eu senti muita dor e o Dr. Joseph então julgou que o meu tendão ainda não tinha força suficiente para suportar alguns tipos de exercícios. Então eles trabalharam exercícios mais leves, de forma que eu não sentisse nenhum desconforto.
Apesar de todos os cuidados e remédios que me davam, eu ainda sentia um pouco de dor. Não só no joelho, mas também nos hematomas que ficaram pelo meu corpo. Quando olhei no espelho, fiquei arrasada com a condição do meu rosto, as cicatrizes que irão ficar serão horríveis. Mas o médico me disse que eu poderei removê-las com o tempo, graças a muitos tratamentos estéticos e cirúrgicos. Ele disse também que se eu seguir com a fisioterapia eu terei resultados incríveis em pouco tempo.
Agora eu estava sentada na cama do quarto de hospital, esperando que o meu pai chegasse para me buscar e também que o Dr. Joseph aparecesse para autorizar a minha alta. Minha mãe estava comigo e juntas ficamos esperando que eles chegassem. Ela havia trazido algumas peças de roupas que tinha comprado para mim e me ajudou a vestir. Depois de estar vestida e pronta, a enfermeira trouxe meu café da manhã. Eu comi em silêncio, pensando em várias coisas, uma delas era sobre Dean. Ele havia recebido alta antes de mim e vinha me ver todos os dias, disse que viria me ver sair do hospital mas até agora não apareceu.
- Eles chegaram. - minha mãe disse, me tirando dos meus devaneios.
Olhei para a porta e vi meu pai e meu irmão entrando. Eles me abraçaram e se sentaram para juntos esperarmos o Doutor.
- E aí, irmãzinha. Está pronta para deixar o hospital? - Jared perguntou.
- É claro que estou! Não vejo a hora de respirar o ar lá de fora. - eu disse, entusiasmada.
Bastou eu falar e logo o Doutor apareceu.
- Vejamos só quem está pronta para receber alta! - o médico disse, alegre. - Eu já assinei a autorização para sua saída, você já pode ir. Mas antes tenho algumas recomendações.
- Pode falar, Doutor. - eu disse.
- Como só faz uma semana que você realizou a cirurgia, o seu esforço deve ser o mínimo possível. A única coisa que você deve se preocupar é com o seu tratamento de recuperação. Nós disponibilizaremos fisioterapeutas particulares, para realizar a fisioterapia em casa, assim será mais fácil para você. - eu ouvia atentamente.
- E ela terá que voltar ao hospital? - meu pai perguntou.
- Em breve, daqui a alguns meses para analisarmos a melhora do seu joelho. Com base no diagnóstico do fisioterapeuta. - o médico respondeu.
- E levará em torno de quantos meses para que o joelho dela melhore? - foi a vez de minha mãe perguntar.
- Com a ajuda da fisioterapia, dentro de três a seis meses ela poderá retomar suas atividades habituais. O tempo vai depender de como ela reage ao tratamento. Por enquanto ela vai andar com a ajuda de muletas e não deve fazer esforços desnecessários. - o médico deu uma pausa. - Bom, acho que isso é tudo. Agora ela já está liberada, qualquer outra dúvida é só procurar o hospital.
- Finalmente! - eu disse, e todos na sala riram.
O médico trouxe uma cadeira de rodas para me ajudar a sair do hospital e ir até o estacionamento. Eu sentei na cadeira e ele me levou até a saída.
- Bom, aqui termina o seu tour pelo hospital. - ele disse, me fazendo rir.
Ao pararmos na porta eu olhei para todos os lados, procurando por Dean. Quando estava quase parando de procurar eu o vi chegar depressa. Um sorriso tímido se forma no meu rosto quando ele se aproxima.
- Oi, Elena! - ele diz e me abraça, enquanto ainda estou sentada na cadeira de rodas.
- Oi, achei que você não viria. - eu disse.
Ele então respondeu:
- Eu prometi que viria, não prometi? Eu não poderia perder a sua saída do hospital. Juro que o meu atraso foi por um bom motivo. - sorriu.
Em minha mente eu me perguntava qual seria esse motivo, mas não questionei. Pois ele me passou um rápido olhar, como se quisesse dizer que depois nós falaríamos sobre isso. Eu apenas sorri, demonstrando que tinha entendido, era como se nós conversássemos por telepatia. Dean não disse mais nada, apenas olhava para mim e sorria, eu fazia o mesmo. Entramos em uma espécie de transe, até percebermos que um silêncio havia se formado no local.
Senti as minhas bochechas corarem quando vi meus pais sorrindo e se entre olhando, acho que eles haviam percebido o clima que aconteceu entre mim e Dean. Que vergonha, até o Doutor estava sem jeito. Quase soltei uma risada quando olhei para Dean e vi seu rosto também vermelho de vergonha. Ele havia se tocado de que não tinha comprimento mais ninguém além de mim, então logo quebrou o silêncio:
- Ah, onde estão os meus modos?! Como vão, Sr. e Sra. Gilbert? Doutor? - ele os comprimentou com um aperto de mão.
- Agora que Elena já está melhor, posso dizer que estou bem. - meu pai respondeu e nós sorrimos, o Doutor disse quase a mesma coisa.
Continuamos andando até o estacionamento, o Dr. Joseph me levou até o carro, empurrando a cadeira. Quando chegamos até ele, o meu pai me ajudou a levantar e eu entrei no carro. Dean também entrou e se sentou ao meu lado.
- Doutor, muito obrigada por tudo! - eu o agradeci, antes de sairmos.
- Não tem o que agradecer, foi um prazer! - ele disse, se despindo de todos nós.
Então nós partimos, eu ia observando pela janela do carro o cenário lindo da cidade. As praças estavam lotadas de gente, com crianças e animais. O dia estava realmente lindo para um piquenique, fiquei me lembrando das vezes que vínhamos ao parque, enquanto meu irmão tagarelava ao meu lado. Foi assim o caminho inteiro, meus pais falavam uma vez ou outra, eu conversava com Dean e meu irmão fazia perguntas o tempo todo.
Chegamos em nossa nova casa, ela estava mais bonita do que da última vez que a vi. Era uma casa simples mas moderna, de dois andares. A decoração externa era muito bonita e o jardim estava bem cuidado, repleto de flores. Eu estava ansiosa para ver como estava a casa por dentro. Meu pai estacionou e nós descemos do carro, Dean me ajudou a descer e então me entregou as minhas novas companheiras: as muletas.
- Chegamos ao nosso novo lar. - meu pai disse.
Subimos os degraus da varanda, que por sinal era muito bonita e espaçosa.
- Bem vinda! - minha mãe disse, abrindo a porta e me dando passagem.
Eu entrei.
- Uau! - essa única palavra saiu pela minha boca, quando vi o quão linda a casa estava por dentro.
A sala era muito grande e aconchegante, com uma decoração moderna e contemporânea. Os quadros pendurados na parede e a pequena mesa de centro, davam um ar mais rústico ao ambiente. Eu olhava para todos os lados, surpresa, realmente meus pais fizeram um bom trabalho em uma semana.
- O que você achou, querida? - ela perguntou.
- É lindo! - eu respondi, arrancando um sorriso de comemoração do seu rosto.
- Espere só para ver o seu quarto. - ela disse.
Meu irmão então nos deixou e subiu para o seu quarto, no andar de cima. Eu olhei para as escadas de mármore, com vontade de subí-las também. Até minha mãe me dizer o contrário.
- Seu quarto é aqui no andar de baixo, achamos melhor que você se acomodasse aqui para não precisar ficar subindo e descendo as escadas, ainda mais com o seu joelho assim. Inclusive seu quarto é uma suíte, tudo para você não ter nenhum problema.
- Eu não sei nem o que dizer. - realmente não sabia como agradecê-los por tudo. - Muito obrigada!
A preocupação que meus pais tinham por mim era um gesto muito lindo. Eles sempre fizeram de tudo para garantir o que era melhor para mim. Às vezes eu me sentia culpada por fazê-los trabalhar tanto, como também estou me sentindo agora.
- Não precisa agradecer, querida. Você sabe que nós fizemos com muito amor para você. - ela respondeu. - Então venha, vou te mostrar a cozinha.
Eu fui bem devagar e Dean me acompanhou, meu pai disse que iria tirar algumas coisas de dentro do carro e que depois nos encontraria na cozinha. A cozinha também era muito linda e moderna, minha mãe me mostrou cada detalhe e logo fez um chá enquanto Dean e eu nos sentávamos na mesa.
- Elena, temos que conversar. - Dean disse para mim.
Minha mãe logo ouviu e disse:
- Bom, acho que vou deixar Dean terminar de te mostrar a casa enquanto seu pai e eu vamos até o mercado, comprar algumas coisinhas que estão faltando. O chá está pronto e tem uns biscoitos quentinhos no forno. Se comportem, viu?
Ela se despediu de nós e saiu, ouvimos o carro partir e o silêncio se formou na cozinha.
- Jared está lá em cima, vamos até o meu quarto. - eu disse e nós nos levantamos.
Andamos até encontrarmos a porta que minha mãe disse que seria a do meu quarto. Entramos nele e eu pude notar o quão aconchegante ele era, as paredes eram pintadas com uma cor neutra e o tapete rosa felpudo deixava o quarto mais fofo.
- Parece mais bonito do que o seu quarto antigo. - Dean disse.
- Sim, concordo. - eu disse.
Me sentei na cama de casal, que era muito macia. Dean se sentou ao meu lado e tirou do bolso um lindo colar com um pingente de coração, me entregando.
- É para você, faz um tempo que eu queria te dar isso. - ele disse, com a sua voz doce.
Eu peguei o colar e o observei.
- É lindo, Dean! - eu disse, sorrindo. - Espera, eu me lembro desse coração de cristal. Fui eu que te dei em um passeio da escola, acho que foi na terceira série. Não sabia que você tinha guardado por tanto tempo.
Fiquei surpresa ao saber que Dean ainda guardará o meu presente por todos esses anos.
- Por isso eu guardei por tanto tempo, porque foi você quem me deu. - ele respondeu. - E agora eu quero devolvê-lo.
- Mas, Dean. Eu não posso aceitar, isso é seu. - eu disse.
- Por favor, aceite. Isso é muito importante para mim, tem um valor sentimental muito grande. E eu quero que fique com você para que você possa se lembrar de mim sempre que estiver longe e, lembrar que eu te amo. - ele disse e eu não pude deixar de sorrir.
Me virei e ele colocou a linda correntinha no meu pescoço.
- Muito obrigada, Dean! Eu realmente adorei, você foi sempre tão gentil.
Ele sorriu.
- Foi por esse motivo que me atrasei para chegar ao hospital, estava procurando pelo colar. Mas não é só sobre isso que eu queria conversar. - ele disse.
Eu fiquei em silêncio por um instante.
- Então o que mais você tem a me dizer? - perguntei.
- Eu estava esperando que você saísse do hospital para podermos conversar sobre isso, pois lá não era um lugar muito adequado e você também estava muito abalada pelo que aconteceu. Enfim eu, quero que você seja a minha namorada. Elena, você quer namorar comigo? - ele me perguntou, sorrindo.
Eu me enchi de alegria quando ouvi a sua pergunta, um tanto quanto inesperada. Mas eu sabia que antes de aceitar, nós tínhamos muito o que conversar.
- Dean... - eu comecei. - Eu amo você e quero muito ser a sua namorada, mas...
- Mas? - ele perguntou.
- Mas você sabe de tudo o que eu passei, tudo que Eldon fez comigo... - me senti péssima ao tocar nesse assunto com Dean. - Ele abusou de mim e agora eu não sou mais a mesma de antes. - eu disse, soltando uma lágrima despercebida. - Agora eu convivo com um trauma e eu tenho medo de encarar uma relação e me machucar mais.
Dean me olhou com benevolência e enxugou a minha lágrima.
- Calma, você não precisa se explicar e está tudo bem. - ele me disse. - Eu te entendo e sei que você precisa de um tempo para se recuperar de tudo isso. Mas saiba que eu não sou como o Eldon e jamais serei.
- É claro, você não pode nem ser comparado àquele monstro. - eu disse.
Ele continuou:
- Se nós nos amamos de verdade eu não vejo o porquê de não ficarmos juntos. Você sabe que o meu sentimento por você é sincero e eu espero o tempo que for preciso, contanto que você se sinta bem.
Dean coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha, e se senta mais próximo de mim. Nossos olhares se encontram em uma mistura de desejo e ternura, ele olha em direção a minha boca e posso sentir a minha respiração acelerar. Me perco na imensidão dos seus olhos e sinto nossos lábios se tocarem em um ato singelo de carinho. Suas mãos acariciavam o meu rosto e seus braços se entrelaçavam pelo meu corpo, me puxando para mais perto. Oh, eu ansiava tanto por esse beijo! Sua língua acaricia meu lábio inferior, me pedindo passagem. Seu beijo era doce e tinha gosto de maçã, eu senti como se estivesse flutuando.
Eu podia ouvir as batidas do seu coração aceleradas e o calor que subia pelo nosso corpo. A maneira como ele me beijava era meiga e suave e não agressiva como a hostilidade de Eldon. Não podia ser comparada a maravilhosa sensação que Dean me proporcionava. Nos afastamos, trocando mais beijos e carícias.
- Só me promete que vai pensar. - ele disse, me dando um último beijo.
- É claro que vou e com carinho. - eu disse.
Ele então se despediu de mim e eu o levei até a porta, ele foi embora bem na hora que meus pais estavam chegando. Eu voltei para o meu quarto enquanto eles desciam do carro. Sentei novamente na cama e comecei a pensar em tudo o que Dean me falou e em como ele foi sincero. Alguns instantes depois escutei algumas batidinhas na porta.
- Pode entrar. - eu disse.
Era minha mãe.
- Com licença, querida.
Ela vem e se senta ao meu lado na cama.
- Como foram as compras no mercado? - eu pergunto.
- Foram ótimas, comprei tudo o que estava faltando, inclusive alguns ingredientes para fazer aquela sobremesa que você gosta. - ela disse e eu sorri levemente.
Continuei pensativa.
- O que houve, filha? Está com uma carinha... - ela disse, passando a mão pelo meu rosto.
- Mãe, a senhora já teve medo de tomar uma decisão mesmo sabendo que ela seria uma coisa boa para você?
- Está falando sobre Dean? - ela perguntou.
- Sim, é sobre ele que estou falando. - eu disse.
Ela ficou uns segundos em silêncio.
- Ele te pediu em namoro? - perguntou.
- Como sabe? - eu fiz outra pergunta.
Ela deu uma leve risadinha.
- Dean já tinha conversado comigo e com o seu pai.
- O que? - eu fico surpresa.
- Sim, enquanto você estava no hospital ele veio falar conosco.
- E o que vocês disseram a ele? - eu fiquei curiosa.
- Ele disse tudo o que sentia por você e nós achamos que ele estava sendo sincero. Se é isso que quer saber, vocês têm a nossa aprovação.
- Mãe, eu não sei o que te dizer sobre isso, muito menos o que dizer a Dean. Eu tenho medo de...
- Querida... - ela me abraçou. - Eu sei que tudo o que você passou está criando uma barreira entre seu relacionamento com outras pessoas. Mas você vai superar isso, leve o tempo que for preciso. Nós estamos aqui para você e vamos te ajudar.
Eu me mantive em seu abraço, ela me trazia a proteção e o carinho que eu precisava. E saber que eu podia contar com o seu apoio me dava mais tranquilidade.
- Agora resta saber o que você sente, você gosta dele de verdade? - ela perguntou.
- Sim, eu o amo! - eu disse.
- Então isso é uma decisão que só você pode tomar, faça o que o seu coração te manda. Dean te ama muito e você merece ser feliz ao lado dele. Agora tome um banho e descanse, pense bem.
Ela me dá um beijo na testa e se levanta.
- Mãe? - eu a chamo e ela se vira para mim. - Obrigada por tudo, eu te amo!
- Eu também te amo! - ela sorriu e me abraçou novamente. - Se precisar de ajuda é só me chamar. - ela disse e saiu, me deixando então sozinha.
Levantei da cama e fui em direção ao banheiro, tomei um banho quente e demorado que me ajudou a pensar em minha decisão. Saí vestindo um roupão e fui até o meu guarda roupa, poucas peças de roupa haviam dentro dele já que todas as minhas antigas haviam se queimado. Meus pais compraram algumas que vão servir por um tempo até estarmos totalmente reestruturados. Escolhi um pijama confortável e vesti, fui até o espelho e penteei meus cabelos molhados.
Após estar pronta me sentei no sofá sobre a janela, observando a linda vista que tinha do jardim. Ainda levaria tempo para me acostumar a morar nesta casa que até a algum tempo era pouco visitada por nós. E também me acostumar com os ares deste outro lado da cidade será um novo desafio. Pensei em como por um lado havia sido bom a nossa antiga casa ter pegado fogo, eu não conseguiria viver naquela casa depois do que aconteceu. Só em pensar que toda vez que eu passasse pelo corredor eu veria a porta daquele porão, iria me fazer lembrar de tudo o que passei e eu nunca conseguiria superar. Termos mudado para essa nova casa vai me ajudar a esquecer com o tempo. E é isso que eu mais quero, esquecer...
Fiquei um tempo olhando pela janela e algumas horas depois a noite caiu em Detroit.
Continua...
Vota aí! Beijinhos ;)
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Sozinha Com Um Psicopata
Mystery / ThrillerElena Gilbert é uma jovem de 19 anos que mora em Detroit, Michigan, nos Estados Unidos. Ela sempre foi muito apegada com sua família, principalmente com o seu pai que faria qualquer coisa por ela. Sua infância foi ótima, porém, quando tinha 7 anos a...