Anteriormente:
- Você está ligando para a polícia? - Valentina perguntou, sem entender nada.
- Arrume suas coisas, Valentina. - eu mandei. - Agora!
Ela me olhou assustada.
- Departamento de Polícia de Detroit, qual a sua emergência? - uma voz perguntou quando a ligação foi atendida.
- Preciso de uma equipe de polícia, agora. Eu sei onde este assassino está. - eu disse, sentindo o peso das minhas palavras.Agora:
- Afonso, para. Me diga o que está acontecendo agora! - Valentina gritou, já sem paciência.
Eu continuei falando pelo telefone, dando todas as informações necessárias e suplicando para que a polícia chegasse com urgência ao endereço da nossa casa.
- Por favor, é uma emergência. Eu não estou mentindo, ele está na minha casa, com a minha filha. Vocês precisam ir até lá depressa, eu imploro! - eu falava alto no telefone.
- Quem está na nossa casa, Afonso? Quem? Me fala!
Valentina estava desesperada, quase pulando em cima de mim e me batendo para que eu respondesse às suas perguntas.
- Ok, tudo bem. Eu também estou indo pra lá agora mesmo.
Desligo o telefone, a polícia já está à caminho.
- Agora me responde, me explica o que está acontecendo. - ela me ordenou.
- Valentina, por favor. Tenta ficar calma.
Ela diz, nervosa:
- Não, Afonso. Não dá mais para ficar calma! Você está me deixando cada vez mais preocupada. Fala de uma vez.
Então eu comecei a contar tudo a ela.
- Aconteceu, Valentina. O que eu mais temia. Eldon fugiu, ele escapou da cadeia.
- O que? - ela perguntou de boca aberta, sem poder acreditar.
- Eldon Styne fugiu, e você sabe muito bem porque ele voltou. Ele está com Elena, Valentina! É por isso que ela estava tão estranha no telefone. - eu disse, esclarecendo tudo.
- Mas como... como isso é possível? - ela perguntou.
Eu tento buscar palavras para explicar tudo mas a minha cabeça estava a mil.
- Eu vi pela televisão, ele já tinha escapado antes mesmo de nós sairmos de casa. Ele está com ela, Valentina. Com a nossa filha!
- Não! - ela disse, desabando em lágrimas sobre os meus braços.
- Me escuta, nós temos que manter a calma, tudo bem? A polícia está à caminho e nós precisamos voltar o mais rápido possível.
Valentina se vestiu e então saímos do motel rapidamente em direção ao estacionamento. Entramos no carro e partimos depressa, sem olhar para trás. Eu dirigia velozmente pelas ruas, furando qualquer sinal vermelho que estivesse no semáforo.
- Mais rápido, Afonso. - Valentina dizia, eufórica.
- Eu estou indo o mais rápido que posso.
- Não é o bastante. Só de pensar no que pode ter acontecido...
Valentina voltou a chorar, ela estava muito abalada e eu mais ainda. A chuva também voltou e as pistas começaram a ficar molhadas. Eu dirigia rápido mas com cuidado, não poderia correr muito e provocar um acidente, mas também não deixava de ir depressa. Quando chego em Detroit já consigo escutar o barulho dos carros de polícia, que com os giroflexes ligados viram a rua e ficam atrás de nós.
Eu continuo dirigindo, guiando-os até nossa casa. Quando finalmente chego fico paralisado e não consigo acreditar no que vejo.
- Ah, meu Deus! - Valentina diz.
Nossa casa estava pegando fogo. Apavorados, nós estacionamos os carros no meio da rua de qualquer jeito. Os policiais desceram ligeiramente das viaturas e foram até a casa. Valentina e eu vimos Elena nos braços de Dean, que estava sentado sobre o gramado. Descemos do carro desesperados e saímos correndo pela grama molhada.
- Elena, filha! - ambos exclamamos ao nos aproximarmos.
- O senhor não pode passar! É melhor não se aproximar das vítimas enquanto os médicos não chegarem. - fomos barrados por alguns polícias que nos seguraram.
- Vocês não entendem, é a minha filha que está ali. Eu tenho que vê-la.
Então puxo o meu braço que ele segurava e saio correndo até Elena. Ele, vendo o meu desespero como pai, não tentou me impedir novamente. Valentina corre comigo até pararmos ao lado dos dois.
- Elena! Dean! Meu Deus! - eu digo, já começando a chorar.
Elena estava desmaiada nos braços de Dean, e ele chorava muito.
- Elena, fala comigo. Por favor! - Valentina disse, puxando Elena para si e a chacoalhando.
- O que ele fez com você, minha filha?! - eu disse, me lamentando.
Ouço os movimentos dos policiais ao redor, alguns tentavam se aproximar da casa enquanto outros falavam pelo rádio da polícia:
"Atenção, precisamos dos bombeiros e de uma ambulância, imediatamente. Temos um incêndio e duas vítimas feridas no local."
- Dean, você também está ferido?! Como vocês conseguiram sair de lá? - Valentina perguntou, passando a mão sobre o rosto dele. - Meu Deus!
Foi tudo tão rápido que nem entendi como Dean veio parar no meio dessa confusão. Era evidente que ele também estava machucado, mas então ele lutou com Eldon? Me perguntei.
- Onde ele está? Cadê esse desgraçado? - eu me levantei furioso.
- Lá dentro, ele está lá dentro. - Dean respondeu.
Todos nós nos viramos em direção a casa.
- Ele está morto. - Dean disse.
Ficamos em silêncio por um instante, raciocinando tudo.
- Rápido, precisamos de uma ambulância! - Valentina gritou.
Os policiais vieram nos ajudar com Elena e Dean, e tentaram nos acalmar, mas isso estava impossível.
- Fiquem calmos, a ambulância já está chegando. - um policial disse para nós.
Outro começou a medir o pulso de Elena, e disse:
- Fiquem tranquilos, ela está viva.
Valentina e eu nos abraçamos rapidamente, em um gesto de alegria por nossa filha estar viva.
- Mas ela precisa de um médico agora! - os policiais gritaram para si.
No mesmo instante os bombeiros e a ambulância chegaram. Rapidamente os médicos descem da ambulância e trazem duas macas consigo. Os bombeiros começaram o seu trabalho de apagar o fogo da casa, que não foi muito difícil pois a chuva os tinha ajudado.
- Se afastem, por favor!
Houve um grande alvoroço dos médicos, que pediram espaço para que pudessem colocar Elena e Dean nas macas.
- Tomem cuidado. - eu dizia para eles.
Um dos médicos ligeiramente incomodado nos pediu paciência e que confiacemos no trabalho da equipe, pois eles eram profissionais.
- Tudo bem. - Valentina disse.
Eles então pegaram Elena com todo o cuidado e a colocaram na maca. Fizeram o mesmo com Dean, que gemia de dor a cada movimento que fazia. Os médicos conversavam bastante entre si, o que me deixava cada vez mais frustrado por não entender nada do que eles falavam. Rapidamente eles colocaram as macas na ambulância, e Valentina e eu ficamos prontamente a postos para acompanhá-los até o hospital.
Entramos na ambulância e partimos com velocidade, Valentina segurava firme a mão de Elena que ainda estava desmaiada. Dean a todo momento olhava para ela, ele estava inquieto e totalmente preocupado. Eu só conseguia pensar no que havia acontecido e rezar para que tudo ficasse bem. Chegamos no hospital e os médicos logo foram descendo do veículo. Eu os ajudei a retirar as macas de dentro da ambulância. Saímos correndo e adentramos o hospital, passando pelos corredores.
- Por gentileza, aguardem aqui na recepção. Assim que possível nós traremos notícias. - o Dr. Joseph nos disse.
- Por favor, Doutor, não demore!
E eles sumiram hospital adentro.
Vários minutos se passaram, quase uma hora para ser mais exato e nada do Doutor aparecer. Eu estava impaciente, andava de um lado para o outro pela recepção do hospital. Estava quase invadindo a sala dos médicos para conseguir informações sobre Elena.
- Moça, por favor. - eu me dirigi à recepcionista atrás do balcão pela quinta vez. - Eu preciso de notícias.
- O senhor precisa aguardar, os médicos estão fazendo uma série de exames para saber qual é o estado da sua filha. Entenda que eles não podem ser interrompidos, tenha calma e deixe-os trabalhar. Logo logo o senhor terá notícias.
A moça já estava cansada de me dizer essas palavras, e eu já estava cansado de ouvi-las. "Tenha calma, tenha calma". Calma é o que eu menos tenho. Pensei. Eu sei que os médicos estão fazendo o seu trabalho, e estão fazendo o melhor que podem. Mas não tem como não ficar preocupado, é um instinto.
Apenas concordei e me afastei do balcão, voltando a andar pela sala. Eu olhava para o rosto angustiado de Valentina, que segurava firme um copo descartável já vazio. Ela estava sentada e tinha um olhar distante, estava tão pensativa. Parecia que nem escutava o que estava acontecendo ao seu redor. Devia estar passando um filme em sua mente. Se eu ao menos soubesse como confortá-la, mas se eu mesmo não consigo, como vou ajudá-la?
- Onde está o Dean? Eu preciso ver o meu irmão.
Valentina e eu fomos atraídos por uma voz que vinha do balcão. Era Sam que falava com a recepcionista.
- Sam. - eu disse.
Ele olhou para trás e veio até nós.
- Afonso! Valentina! Eu vim assim que soube.
Valentina se levanta e então Sam nos abraça.
- Como eles estão? Vocês já tem notícias? - ele perguntou.
- Não, os médicos ainda estão fazendo alguns exames e não deram nenhuma notícia até agora. - respondo.
Sam estava tão preocupado quanto nós.
- O John já está sabendo? - Valentina perguntou.
- Não, foi tudo tão rápido que não tive tempo de avisar o papai. Ele está em Wisconsin, em uma viagem de negócios. Mas assim que souber ele voltará correndo. Vou telefonar para ele, um instante.
Sam nos pediu licença e foi para um canto ligar para o seu pai. John com certeza vai ficar muito nervoso e preocupado quando souber. Alguns minutos depois Sam volta e se senta ao nosso lado.
- Papai não quis acreditar, achou que eu estava mentindo. - ele falou, cabisbaixo. - Eu também queria que fosse mentira.
- Vai ficar tudo bem. - Valentina disse, puxando Sam para um abraço.
Era incrível como ela conseguia confortar as pessoas em momentos difíceis, mesmo estando tão arrasada.
Sam e Dean são os irmãos mais unidos que eu já conheci e o amor que um tem pelo outro é lindo. Desde pequeno Dean cuidou do Sammy, como se fosse um segundo pai para ele, e Sam é muito grato por isso. Eu imagino como ele também deve estar sofrendo.
Nós três ficamos juntos, sentados na recepção, aguardando a hora em que algum médico fosse aparecer. Mais alguns minutos se passaram e o Dr. Joseph finalmente apareceu na sala. Levantamos rapidamente e paramos na frente do médico, que segurava uma prancheta na mão.
- Doutor, por favor! Eu preciso de notícias sobre Dean. - Sam exclamou, apressado.
- Você é... ? - o médico perguntou, pois não poderia passar informações para uma pessoa desconhecida.
- Sou o Sam Winchester, irmão do Dean. Como ele está, Doutor? - ele responde.
O médico suspira.
- Dean teve duas costelas fraturadas e várias lesões no rosto e abdômen. Ele levou um tiro na barriga, mas teve sorte, pois se o tiro não fosse de raspão a bala teria perfurado dois de seus órgãos e seu irmão provavelmente não resistiria.
- Oh, meu Deus! - Sam se enche de preocupação por saber que tudo isso aconteceu com seu irmão.
- Na maioria dos casos, costelas fraturadas costumam se curar por conta própria, então em um ou dois meses ele estará curado. Nós demos alguns anti-inflamatórios e analgésicos que vão facilitar na respiração profunda do seu irmão. - o Dr. Joseph acrescentou.
- Então isso significa...? - Sam perguntou.
- Significa que Dean está bem. Seu quadro é estável e ele está fora de perigo. Pode ficar tranquilo, seu irmão vai se recuperar. Agora ele foi medicado e está descansando. - concluiu.
- Como é bom ouvir isso, Doutor. Eu posso vê-lo?
- É melhor deixá-lo descansar por mais algum tempo, ele precisa de repouso. Mas em breve você poderá vê-lo, tudo bem?
- Certo. Muito obrigado, Doutor. - Sam agradeceu.
Depois que o médico explicou o quadro de Dean, eu fiquei muito mais preocupado em saber o de Elena. Então logo perguntei:
- Doutor, e a nossa filha? Como ela está?
Eu vi em seus olhos que as notícias não eram boas.
- Eu sinto muito, mas o caso de Elena é muito mais grave. Ela foi brutalmente torturada, teve cortes e lesões pelo corpo todo. Suas unhas dos pés foram arrancadas e ela teve dois dedos da mão quebrados, fora um dente que caiu por conta de um soco no rosto.
- Ah, meu Deus! Eu não consigo acreditar. - eu disse, indignado e angustiado.
- Elena também teve o tendão do joelho rompido e, eu sinto em ter que lhes dar essa notícia... - o médico procurava uma forma de nos dizer. - Mas a sua filha foi estuprada.
Quando aquela frase saiu pela sua boca, uma lágrima também se derramou pelos meus olhos.
- Não! - Valentina disse, chorando.
Rapidamente ela se atirou sobre os meus braços, chorando e soluçando como uma criança. Eu não a julguei, pois sentia a mesma dor que ela naquele momento. Apenas a abracei com força, tentando acalmá-la.
- Eu sinto muito! - Dr. Joseph e Sam disseram quase juntos, ambos com as suas verdadeiras expressões de tristeza.
- Porque tudo isso está acontecendo? O que Elena fez para ele? Ela não teve culpa de nada, e agora esse mostrou destruiu a nossa filha!
Valentina gritava alto pelo hospital. Então o médico a sentou novamente na cadeira, enquanto Sam pegava uma água gelada para ela. Eu sentei ao seu lado e disse a ela que ficasse calma e que tudo isso ia passar.
- Eu vou providenciar um calmante para ela, com licença.
Então o Doutor se retirou e eu continuei ao lado de Valentina.
- Calma, meu amor. Nossa filha precisa da gente agora, nós temos que ser fortes, por ela.
O Dr. Joseph voltou com o calmante e deu para Valentina, que segurava o copo tremendo, quase derrubando. Ela tomou e após alguns minutos estava mais calma.
- Agora, se a senhora estiver mais calma eu preciso continuar falando sobre o quadro de Elena. - disse o médico, atenciosamente.
- Claro, por favor, continue. - ela respondeu.
Então o médico retomou:
- A minha equipe de médicos acabou de entrar na sala cirúrgica. Eles vão realizar uma pequena cirurgia para retirar o ligamento rompido do joelho de Elena e substituir por um enxerto.
- Quanto tempo dura essa cirurgia, Doutor? - Sam perguntou.
- Não é uma cirurgia muito demorada, normalmente dura entre 30 e 90 minutos. Os médicos são muito profissionais, então a operação será muito bem realizada.
- Isso é o que eu espero, Doutor. - disse.
Ele concordou.
- Tem mais um assunto muito sério que precisamos discutir.
Eu passei a mão pelo queixo, exausto.
- Elena está fraca demais, ela perdeu muito sangue pelas circunstâncias que nós já conhecemos. O que acontece é que ela tem um tipo sanguíneo raro, que é um pouco difícil de ser encontrado. Nós usamos o último que tínhamos no nosso banco de sangue aqui do hospital, mas não foi suficiente. Ela precisa de mais e se não acharmos rápido ela pode...
- Não fale isso, Doutor! Por favor. - eu disse, olhando para Valentina.
- Nós estamos entrando em contato com outros hospitais para ver se eles têm esse tipo de sangue.
- Mas nós podemos doar sangue para a nossa filha. - Valentina disse.
O médico então nos perguntou o nosso tipo sanguíneo e nós respondemos.
- Eu sinto muito, mas vocês não podem doar. O sangue de vocês não é compatível.
- Mas como? - ela perguntou.
- O assunto dos grupos sanguíneos é um pouco complexo. É perfeitamente normal que um bebê não tenha o tipo de sangue dos seus pais. As leis da genética não operam de forma mecânica, como no caso de Elena, que desenvolveu um tipo mais raro.
- Mas então que tipo de sangue é esse? - perguntei.
O médico nos disse, explicando tudo muito bem para que pudéssemos entender e, realmente, o sangue de Elena era diferente do nosso.
- Eu sei perfeitamente quem tem esse tipo de sangue! - Sam exclamou.
- Quem? - nós três perguntamos juntos.
- Dean, esse é o tipo de sangue dele. Eu tenho certeza.
O médico ficou pensativo.
- Eu ainda não tinha identificado e anotado na ficha o seu tipo sanguíneo, você tem certeza disso? - ele perguntou.
- Sim, esse é o tipo sanguíneo do Dean. Ele pode doar sangue para Elena.
Nós todos nos enchemos de esperança.
- Ainda não é tão simples, eu vou analisar o sangue dele e ver se ele está disposto a doar.
- Ele vai doar sim, Doutor. O Dean ama a nossa filha. - eu disse sem pensar.
Sim, eu já desconfiava há algum tempo.
Valentina e Sam olharam para mim como se não tivessem compreendido, eu não disse nada.
O médico então se pronunciou:
- Bom, eu preciso verificar se o sangue de Dean é mesmo compatível. E além de confirmar se ele está disposto a doar, tenho que ter certeza se ele está dentro dos requisitos para a doação.
- Certo, nós vamos aguardar aqui. - eu disse.
Ele concordou e nos deixou, sumindo dentro do hospital. Foi a minha vez de suspirar. Valentina continuou pensativa e o silêncio invadiu toda a recepção. Sam estava perplexo e eu muito inquieto, mas ambos não falávamos nada. Fiquei pensando em tudo o que aconteceu, nós havíamos perdido tudo.
Perdemos a nossa casa, todas as nossas coisas queimaram. Até mesmo documentos e algum dinheiro que havia em nosso cofre. As nossas roupas, os nossos materiais de estudo e trabalho, tudo. Tudo se foi com o fogo, mas isso não chega a ser importante perto do que aconteceu com a nossa filha. Eu daria tudo para vê-la bem, o que fosse preciso.
Nossa casa poderia ser queimada um milhão de vezes se isso garantisse a segurança de Elena. O meu conforto é saber que ainda temos uma casa do outro lado da cidade. Valentina e eu conseguimos comprá-la e mobiliá-la com muito esforço. Ela fica situada em uma região muito boa da cidade e, apesar de não ser tão grande quanto a que foi queimada era, ela é até confortável. Pelo menos teremos um lugar fixo para abrigar a nossa filha quando tudo isso acabar. E o dinheiro que ainda temos no banco irá nos ajudar com as demais coisas que perdemos.
Só de lembrar daquele miserável do Eldon, os meus nervos ficam à flor da pele. Ele voltou e quis revirar o passado, mexer em uma coisa que já havia acabado há muito tempo. E usou a minha filha para me atingir, porque sabia que ela é uma das coisas que eu mais amo. Se ele queria se vingar que fosse diretamente comigo, e não com Elena. Ela não teve culpa de nada do que aconteceu no passado. Pelo contrário, ela era apenas uma criança inocente e... em coma.
Mas isso não significava nada para ele, o simples fato de Elena ter sofrido aquele acidente não o impediria de fazer o que fez. Porque ele é cruel e impiedoso, é um psicopata. Ou melhor, devo dizer, era. Agora ele está morto e eu posso respirar melhor e apagar todo esse passado tortuoso e horrível. Eu juro que se ele não tivesse morrido eu mesmo o mataria depois do que fez. Eu nunca devia ter me envolvido com ele, eu sabia desde o início que ele era perigoso, mas eu estava tão desesperado.
Com certeza a polícia vai me pedir explicações mais cedo ou mais tarde, mas eu não vou fugir ou negar. Eu vou confessar, é hora de acertar as contas e seguir em frente. Assim que Elena melhorar e receber alta e eu tiver certeza de que ela está bem, eu vou até a delegacia e vou confessar tudo. Vou dizer toda a verdade sobre o passado e seja o que Deus quiser. Eu não quero mais carregar todo esse peso nos meus ombros, a dor de toda essa culpa que cai sobre mim. Se eu tivesse feito as coisas do jeito certo, hoje nada disso teria acontecido e Elena estaria bem. Eu só espero que ela consiga me perdoar um dia.
Com tantos problemas rondando a minha mente, eu até havia me esquecido de Jared. A essa hora ele não deve nem imaginar o que aconteceu com sua irmã, nós esquecemos completamente de avisá-lo.
- Valentina. - eu disse. - Temos que avisar o Jared sobre o que aconteceu com Elena.
Ela concordou e ligou para o celular dele, mas ele não atendeu.
- Ele ainda deve estar dormindo, o celular não atende. - Valentina disse. - Acho que não devemos avisá-lo agora, não quero preocupá-lo. E também será melhor para nós que ele só saiba pela manhã, assim não ficaremos tão sobrecarregados.
- Tem razão. - concordei.
- Mas eu vou ligar para os pais do amigo dele, para explicar toda a situação. Assim, quando ele acordar eles saberão o que fazer.
- Faz isso. - eu disse. - Pela manhã nós conversaremos com ele, aí ele virá até o hospital.
Ela então fez o que tinha que fazer e logo voltou a se calar.
- Ei. - eu disse, erguendo o seu rosto para que olhasse para mim. - Vai dar tudo certo.
- Vai sim. - ela disse, e se aconchegou nos meus braços.
Mais algum tempo se passou e já eram 06h45, o dia já clareava. Achei até que o Dr. Joseph havia se esquecido de nos trazer notícias. Mas logo compreendi que não, pois ele finalmente aparecera em nossa frente.
- Trago boas notícias. - ele disse com um sorriso.
Nós nos levantamos de imediato.
- E quais são, Doutor? - perguntei.
Ele então respondeu:
- A operação de Elena foi um sucesso, agora ela está em repouso e ficará pelo menos uma semana aqui no hospital. Logo após esses dias ela terá alta e poderá ir para casa, mas os cuidados serão redobrados.
- Graças a Deus! O senhor não sabe como é bom ouvir isso. Muito obrigada, Doutor. - Valentina e eu não cansávamos de agradecer.
- Não há o que agradecer. Eu apenas fiz o meu dever como médico e a minha equipe inteira me ajudou. - ele nos disse, com gentileza.
- Mesmo assim nós agradecemos. - Valentina disse e ele sorriu.
- Voltando a falar sobre Elena, a transfusão de sangue foi muito bem realizada. Aliás, quando Dean soube que iria doar sangue para ela, ele ficou muito feliz. Agora que ela recebeu a doação, o seu quadro é estável e ela não corre mais nenhum risco.
- Ela está acordada? - perguntei.
Estava ansioso para vê-la.
- Nós deixamos ela descansando no quarto e ela está dormindo, mas pode acordar a qualquer momento. Eu sei que vocês estão com muita vontade de vê-la, por isso eu já vou verificar. Acho que ela gostaria que vocês fossem as primeiras pessoas a encontrar assim que acordar.
- É verdade, acho que agora ela precisa de nós. - eu disse.
- Só mais uma coisa. - o médico indagou. - Eu sei que vocês querem muito abraçá-la, mas é preciso se controlar. Ela está cheia de hematomas. Inclusive nós colocamos os dedos quebrados dela no lugar, e ela está usando uma tala para manter seus dedos retos e protegê-los de ferimentos adicionais enquanto eles se curam. Então evitem abraçá-la muito, para não machucá-la mais.
- Ok, nós entendemos. - Valentina respondeu.
- Ótimo. Ah, Sam. Venha comigo, você já pode ver o seu irmão. - o Doutor se dirigiu ao Sam.
Ele, que até então não havia dito nada, se pronunciou. Ficou muito feliz e acompanhou o Doutor até o quarto de enfermaria. Enquanto Valentina e eu ficamos esperando na recepção.
- Finalmente vamos vê-la. - Valentina disse, animada.
Não demorou muito e o médico reapareceu.
- Ela acordou, estão prontos para vê-la? - ele perguntou.
Senti o meu coração palpitar de ansiedade ao saber que agora eu teria a chance de ver a minha filha e poder tocá-la.
- Prontos. - nós respondemos.
- Me acompanhem, por favor. - ele disse, e nós obedecemos.
Andamos por um corredor cheio de portas e eu me perguntava em qual delas Elena estaria. O médico nos guiou mais um pouco, andando calmamente enquanto Valentina segurava firme a minha mão. Enfim paramos em frente a uma das portas, e o médico finalmente disse:
- Ela está aqui.
Respiramos fundo e ele abriu a porta, nos dando passagem. Nós três adentramos o quarto que era muito branco, assim como praticamente tudo no hospital.
- Eu vou deixá-los sozinhos para poderem conversar. Qualquer coisa é só chamar uma das enfermeiras. - o Doutor disse e se retirou.
Neste momento a emoção tomou conta de todos nós, ao olharmos para Elena que estava sobre a cama de hospital. Ela então se virou vagarosamente para nós, piscando os olhos como se não acreditasse no que estava vendo.
- Mãe. Pai. - ela disse com sua voz fraca.
- Elena! - nós dois dissemos quase juntos, e nos aproximamos da cama.
Não pude me conter e a abracei com delicadeza, sentindo uma lágrima descer pela minha bochecha.
- Você não sabe o quanto nós ficamos preocupados. - eu disse, soluçando.
- Por favor, fiquem comigo. - ela disse, choramingando e nos puxando para mais perto.
- Nós te amamos e sempre estaremos com você, minha filha. Nunca iremos te deixar, nunca. - Valentina disse.
Elena se aconchegou em nosso abraço e não disse mais nada. Apenas ficou com os olhos fechados, clamando por proteção sem ao menos abrir a boca.
- Nós estamos aqui, ouviu? Nunca mais iremos nos separar, eu prometo. - eu disse.
Ela suspirou e se encostou no meu ombro.
- Minha menina.Continua...
Vota aí ;)
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Sozinha Com Um Psicopata
Mistério / SuspenseElena Gilbert é uma jovem de 19 anos que mora em Detroit, Michigan, nos Estados Unidos. Ela sempre foi muito apegada com sua família, principalmente com o seu pai que faria qualquer coisa por ela. Sua infância foi ótima, porém, quando tinha 7 anos a...