Depois de uma semana as coisas haviam acalmado em casa. Aceitar a gravidez estava ficando um pouco mais fácil, mas mesmo assim, eu ainda tinha algumas dúvidas sobre o futuro. Minha mãe e meu irmão estavam visitando o meu pai na cadeia e, eu ainda não tinha ido vê-lo. Estava pensando em uma forma de dar a notícia a ele, e hoje seria o dia. Pedi à minha mãe que o preparasse para o baque que iria receber, então em todas as suas visitas ela tentava falar sobre o assunto com ele. Seria até mais fácil e eu preferia que ela contasse e não eu, mas acho que ele já deve imaginar o que está acontecendo.
Eu sempre imaginei como seria o dia em que eu iria chegar até os meus pais e dar a grande notícia de que eles seriam avós. E em nenhuma das minhas imaginações estava que isso seria dessa forma. Eu queria ser mãe e, eu sempre pensei nisso como algo lindo e perfeito, quando eu estivesse economicamente e emocionalmente estabilizada. Gostava de me imaginar morando em uma casa grande, casada com o amor da minha vida, tendo um cachorro e trabalhando no emprego dos meus sonhos. E de repente eu descobriria que estava grávida e anos depois escutaria as crianças correndo pela casa, era tudo uma imaginação tão perfeita.
Mas a realidade não foi dessa maneira, tudo aconteceu tão rápido e inesperado. Quero dizer, eu nem entrei para a faculdade e, agora as coisas se tornariam mais difíceis. Contar com o apoio da minha família era o que me dava forças para seguir em frente com tudo isso, pois eu sabia que podia contar com eles em tudo o que eu precisasse. Saber que eu não estava sozinha nisso e, que ainda tinha o apoio de Dean, fazia as coisas ficarem um pouco mais fáceis. Talvez seja por isso que eu decidi manter essa gravidez, porque eu sabia que não seria julgada e sim compreendida.
Acordei cedo e disposta, depois de tantos dias sem ver o meu pai, hoje eu poderia finalmente dar um abraço nele. Então não poderia perder um minuto, senão iria me atrasar para o horário da visita. Fui até o guarda roupa e peguei uma calça jeans escura e uma regata vermelha, vesti tudo e depois fui até o espelho. Arrumei o meu cabelo e coloquei o colar que Dean havia me dado. Escutei o meu celular vibrar em cima da penteadeira e fui ver o que era, Dean estava me ligando. Peguei o celular e atendi:
- Dean! - exclamei.
- Elena? Tenho uma surpresa para você. - ele disse.
- Surpresa? E eu posso saber do que se trata? - perguntei curiosa.
Ele deu uma leve risada.
- Não, você sabe o que significa a palavra "surpresa"? - ele perguntou, tirando sarro de mim. - Não posso dizer o que é.
- Eu sei, engraçadinho. - eu disse. - Só fiquei curiosa.
- É algo muito especial, é só o que posso dizer.
Me sentei na cama, pegando o meu tênis e começando a calçar enquanto falava com ele no telefone.
- Adoro as suas surpresas, estou ansiosa. - sorri.
- Aposto que você vai gostar. - Dean disse.
Pude ouvir ao fundo da ligação o barulho de carros e buzinas, ele provavelmente estava na estrada.
- Você está dirigindo? - perguntei.
Ele então respondeu:
- Estou, dei uma carona para o Sam até a faculdade. Quais são seus planos para hoje? - ele perguntou.
- Bem, agora estou me arrumando, vou visitar o meu pai na cadeia, temos muito o que conversar.
- Eu imagino, espero que tudo dê certo. - ele disse.
Parei por um instante.
- Eu também. - continuei. - Mas então, eu tenho a tarde livre, aí você pode me mostrar a surpresa.
- Ótimo, eu passo aí para te pegar. Vou te levar a um lugar. - ele disse.
Fiquei ainda mais curiosa.
- Oh, isso faz parte da surpresa? - perguntei, risonha.
- Você vai saber quando chegar a hora, agora tenho que desligar. Eu te amo. - e então desligou.
Eu me deitei sobre a cama e fiquei sorrindo como uma boba. Dean era tão fofo e, sempre conseguia me arrancar um sorriso em qualquer situação. Só me perguntei o que ele estava aprontando dessa vez, estava louca para descobrir qual surpresa seria essa. Me levantei da cama novamente e continuei me arrumando, peguei uma jaqueta de couro preta e vesti por cima da roupa. Peguei a minha bolsa e coloquei meu celular dentro dela e, então, saí do quarto indo em direção a cozinha. Encontrei a minha mãe sentada na mesa, tomando café da manhã e me juntei a ela.
- Bom dia. - ela disse.
- Bom dia. - respondi, me sentando. - Cadê o Jared? - perguntei.
Dei uma mordida na torrada enquanto enchia meu copo com suco de laranja.
- Ele já saiu para a escola, está pronta para rever o seu pai? - ela perguntou.
- Estou um pouco nervosa. - respondi.
Ela me encarou, compreensiva.
- Eu entendo, mas tudo vai dar certo.
- Qual você acha que será a reação do papai? - perguntei.
Ela ficou pensativa.
- Bom, eu não sei ao certo como ele possa reagir. Mas acho que no começo ele vai ficar um pouco surpreso e desorientado, mas logo dará um sorriso reconfortante. Você conhece o lado bondoso do seu pai, ele não deixará transparecer nada com sinônimo de tristeza. Ele irá te apoiar e com certeza falará palavras de incentivo.
Eu fiquei em silêncio, imaginando.
- Espero que ele reaja assim. - eu disse.
Ela sorriu, leve.
- Jared e eu vamos fazer umas compras à tarde, você vem? - ela perguntou.
- Ah, Dean me convidou para sair, disse que tem uma surpresa. Tudo bem se eu não for com vocês hoje?
- Claro, querida. Gosto de ver você e Dean se dando bem. Nós marcamos outro dia para sairmos nós três. - ela sorriu.
- Obrigada, mãe. Bom, eu já vou indo, não quero chegar atrasada para a visita. - me levantei da mesa. - Tchau, mãe! - dei um beijo em sua testa.
- Tchau, filha! - ela disse. - A chave do carro está em cima da estante.
- Achei. - eu disse.
Então saí pela porta e entrei no carro, partindo em seguida. Segui o caminho até a outra cidade bem tranquilamente, repetia em minha mente o que eu falaria para o meu pai, tentando decorar enquanto dirigia. Mas sabia que na hora as palavras sumiriam da minha boca, eu estava nervosa e preocupada, me questionava sobre como o meu pai estaria. Tinha medo de que ele pudesse ter se metido em alguma confusão dentro da cadeia. Ficar tanto tempo longe dele estava me matando, acho que nunca iria me acostumar.
Virei a esquina, estacionando em frente ao presídio. Desci do carro e entrei, logo fizeram alguns procedimentos para que eu pudesse ver o meu pai. Depois que me revistaram e constataram que eu não estava com nada ilícito, um carcereiro me conduziu até a sala de visita.
- Aguarde um pouco enquanto conduzimos o seu pai até aqui. - o carcereiro me disse.
Eu assenti e me sentei na cadeira, apoiando os meus braços na mesa. O carcereiro se retirou e eu fiquei sozinha, alguns minutos depois ele voltou, a porta se abriu e eu pude ver o meu pai entrando junto com ele. Eu me levantei rapidamente, vendo o carcereiro retirar as algemas dos pulsos do meu pai.
- Pai! - eu exclamei.
Ele olhou para mim com alegria e logo veio correndo em minha direção.
- Elena! - ele disse.
Eu o abracei com força, sentindo os meus olhos lacrimejarem de emoção.
- Eu estava com tanta saudade. - eu disse.
O carcereiro vem até nós e diz:
- Vocês têm uma hora.
Nós concordamos e ele então sai da sala, enquanto meu pai e eu nos sentávamos na mesa.
- Eu também senti muito a sua falta. - ele disse, segurando as minhas mãos. - Você está tão linda, filha!
Eu sorrio.
- Obrigada, pai! Como você está? - perguntei.
- Estou bem, quero dizer, tenho que me acostumar com a cama dura e a comida ruim. Mas, fora isso está tudo bem.
Eu o olhei com pena.
- Eu queria que tivesse sido diferente. - eu disse.
- Eu também. Como estão as coisas em casa? Estão todos bem? - ele perguntou.
- Sim, a mamãe e o Jared estão bem. Não há nada com o que se preocupar. Estão com saudade.
Ele sorriu, levemente.
- E como vão as coisas entre você e Dean? Ele está cuidando de você? - perguntou.
Eu não pude deixar de sorrir.
- Está sim, pai. Dean é muito atencioso e gentil, cada vez mais estamos nos dando bem. - eu disse. - Agora me fala sobre você, como vão as coisas aqui dentro? Algum outro detento implicou com você? Eu estava tão preocupada.
- Bem, a cadeia está cheia de valentões que ficam brigando o tempo todo por bobagens. Alguns até tentaram me intimidar, mas eu fiquei no meu canto. Quero estar longe de confusão durante o tempo que eu passar aqui. - ele disse. - Pode ficar menos preocupada, eu vou saber me virar.
- Você sabe que eu não consigo não ficar preocupada. - eu disse.
Ele soltou uma risada frouxa enquanto tocava o meu rosto.
- Ah, minha menina...
Continuamos conversando enquanto os ponteiros voavam no relógio, era tão adorável ouvi-lo contar suas histórias. E eu prestava bastante atenção em cada palavra, pois sabia que demoraria mais alguns dias para poder visitá-lo novamente. Com o decorrer da nossa conversa, eu contei sobre várias coisas que haviam acontecido nos últimos dias. Só não tinha falado sobre a minha gravidez, estava tentando adiar isso, mas sabia que teria que contar logo. Olhei para o relógio na parede e cinquenta minutos já haviam se passado, então não poderia perder mais tempo.
- Pai... - respirei fundo, tentando achar por onde começar. - Eu também vim aqui porque preciso te contar uma coisa muito importante.
- Tudo bem, estou pronto para ouvir, querida. - ele disse.
Fiquei em silêncio por alguns segundos.
- Eu estou grávida.
Assim que digo isso ele fica quieto, apenas franzindo o cenho e, revelando suas linhas de expressão. Consigo imaginar a bagunça que se formava em sua mente ao absorver a minha frase. Ele abaixa a cabeça e posso ouvir a sua respiração meio fraca e um burburinho meio trêmulo de lamentação.
- Pai? - eu o chamo.
Ele levanta a cabeça e olha para mim, vejo uma lágrima bem no canto do seu olho.
- Eu já sabia, filha. - ele diz, levemente.
- A mamãe te contou? - perguntei.
- Sim, estava me preparando para que na hora que você viesse me visitar nenhum de nós ficássemos tristes. - ele segura o meu rosto. - Você é forte, querida. E eu estou orgulhoso de você, eu sei que você tomou a decisão certa. Não teria decidido manter essa gravidez se não fosse uma pessoa corajosa, não é mesmo? E é por isso que eu te amo, porque você vai transformar essa história em um exemplo de superação.
- Você não sabe o quanto as suas palavras significam para mim. - eu disse, emocionada.
Ele enxugou uma pequena lágrima que caiu pelo meu rosto.
- Eu estou muito feliz por você, querida. Eu vou ser vovô! - ele exclamou, sorridente. - Saiba que eu sempre vou te apoiar em tudo, está bem?
- Obrigada, pai!
A porta da sala se abre e o carcereiro retorna.
- O tempo acabou. - ele disse.
Então meu pai e eu nos levantamos, enquanto em minha mente eu implorava por mais cinco minutos.
- Tchau, pai. Eu te amo! - eu disse, com um abraço.
- Até logo, filha. Eu também te amo! - ele disse, retribuindo.
E assim o carcereiro me conduziu até a saída, enquanto outro vinha para buscar o meu pai. Saí e fui até o carro, preparada para voltar para casa, agora com a sensação de missão cumprida. Fiz todo o trajeto de volta, dirigindo calmante enquanto relembrava em minha mente o incrível momento que tive com o meu pai. Não demorou para que eu chegasse em casa, desci do carro e peguei as chaves, abri a porta da sala e entrei. Na mesa da cozinha encontrei um bilhete, era da minha mãe, nele dizia:
"Fui buscar o Jared na escola, só voltaremos à tarde. Beijos. - Mãe."
Dei um leve sorriso e peguei um copo de água, enquanto mandei uma mensagem para Dean, dizendo que já havia chegado. Então fui até o meu quarto para trocar de roupa e escolhi um vestido rosa florido, combinando com uma jaqueta jeans. E para completar, vesti uma meia calça preta transparente e calcei minha ankle boot de salto preta. Este era o look perfeito para um encontro com Dean, super fofo e casual. Estando pronta eu fui até a sala e me sentei sobre o sofá, com o celular em mãos eu esperava uma resposta de Dean. Não demorou muito tempo e os meus pensamentos foram ouvidos, Dean estava me ligando em uma chamada de vídeo. Me arrumei no sofá, atendendo a ligação:
- Oi, Dean! - eu disse.
Pude ver que ele estava sentado no carro.
- Oi, minha linda! - ele disse. - Pronta para sairmos?
Vejo ele abrir a porta do carro e descer.
- Sim, já estou pronta. Não vejo a hora de te ver e te dar um abraço, estou com saudade.
Ele começa a andar e eu consigo reconhecer o lugar onde ele estava.
- Que tal fazer isso agora? - ele disse.
Eu o olho confusa e curiosa e solto um sorriso. Em seguida escuto duas batidas na porta, já sabendo que era ele, então me levanto correndo e vou atender. Abro a porta e o vejo parado ali, segurando um buquê de flores, me fazendo abrir um longo sorriso.
- Uau, Dean! - eu exclamo, impressionada. - São as minhas flores...
- Preferidas, eu sei. - ele concluiu, sorrindo. - Achei que iria gostar.
Eu o olho com tanto carinho e admiração, feliz por ter uma pessoa tão gentil como ele em minha vida. Realmente eu adorava o jeito romântico e atencioso de Dean, a forma como ele me tratava, sendo sempre fofo e carinhoso.
- Sim, eu adorei. Obrigada, meu amor! - eu disse para ele.
Ele estava tão contente e o seu sorriso era radiante, então não demorei mais tempo e o abracei profundamente, sentindo o seu perfume. Podia sentir todo o amor que ele me proporcionava e essa sensação era maravilhosa. Queria me perder em seu abraço para sempre. Sem pressa nos afastamos e eu então cheirei a deliciosa fragrância das flores, eram sim as minhas preferidas, rosas vermelhas.
- Venha, vou colocá-las na água. - eu disse.
Então, Dean e eu entramos na casa e ele me ajudou com as flores, separando as rosas enquanto eu enchia um lindo vaso com água. Depois colocamos todas elas perfeitamente no vaso e deixamos em cima da estante, enfeitando a sala.
- Elas ficaram ótimas aqui. - Dean comentou.
- Concordo, eu adorei a surpresa. - eu disse.
Ele se aproximou de mim e tocou o meu rosto.
- Mas essa não é a única. - ele disse.
- Hum, o que mais vem pela frente? - perguntei.
Ele me puxou para mais perto e disse:
- Você vai ter que descobrir.
E me deu um rápido selinho, soltando o seu sorriso provocante que me deixava instigada.
- Então vamos, que eu estou ansiosa para descobrir. - eu disse, depositando um beijo no canto da sua boca.
Ele sorriu e me puxou rapidamente pela mão, só deu tempo de pegar a minha bolsa que estava no sofá, antes de cruzarmos a porta. Entramos no carro, coloquei o cinto de segurança enquanto Dean ligava o veículo e engatava a marcha. Olhei para o banco de trás do carro e avistei algumas sacolas e, algo que parecia com uma cesta de piquenique.
- Alguma dica de para onde vamos? - perguntei a ele.
Ele olhou para mim enquanto dirigia o carro, mas logo voltou a sua atenção na estrada.
- Vamos fazer um piquenique em um lugar especial. Hoje quero aproveitar cada minuto com você. Acho que nós estamos precisando de um momento só para nós, você não acha? - ele perguntou.
- Tem razão. - eu disse. - Também quero aproveitar esse tempo com você.
Dean sorriu e eu voltei a olhar para frente, analisando todo o nosso caminho. Queria descobrir para onde estávamos indo, então tentei interligar todas as dicas que Dean havia me dado. Já que iríamos fazer um piquenique pensei em todos os lugares propícios para isso e, nada mais ideal do que um cantinho em um parque da cidade ou um mirante. Fora isso, Dean disse que o lugar era especial. Então tentei lembrar de todos os lugares que podiam ser especiais para nós dois. Talvez algum lugar que sempre íamos quando éramos crianças, como uma cachoeira ou quem sabe um pequeno bosque. Fiquei pensando por algum tempo sem ter encontrado um lugar. Dean e eu tínhamos tantas lembranças em tantos lugares, tinha que ter um em especial!
Então, depois de muita análise eu me lembrei de um. Hartwick Pines Stars Park era um lugar ótimo e, perfeito nessa época do ano. Dean e eu sempre visitávamos esse parque com as nossas famílias, o lugar era incrível e os chalés disponíveis eram muito confortáveis. A área era grande e o parque tinha uma história de um bosque de pinheiros que foi retirado da exploração madeireira por uma empresa de madeiras local em 1927, uma época em que pouco pinheiro antigo permanecia no norte de Michigan. Um dos herdeiros dos proprietários originais da empresa doou o bosque ao Estado como um memorial para a indústria madeireira.
- Já sei para onde estamos indo. - eu disse, empolgada por ter descoberto o lugar.
Dean me olhou com curiosidade e levantou uma sobrancelha.
- Vamos à Grayling. - eu disse. - Para o parque Hartwick Pines Stars Park.
Grayling era a cidade onde o parque se localizava, não era muito longe de Detroit. Para ser exata era cerca de duas horas de distância, mas eu não me importava com o quanto demorasse. Hoje eu queria apenas aproveitar sem me preocupar com a hora de voltar para casa.
- Eu acertei, não acertei? - perguntei, animada para saber se estávamos mesmo indo para esse lugar.
- Acertou. - Dean sorriu. - Como conseguiu lembrar desse lugar? - ele perguntou. - Faz algum tempo desde a última vez que visitamos o parque.
Eu o fitei com um sorriso.
- Eu jamais poderia me esquecer dele, o lugar que fez parte da nossa infância. Temos tantas lembranças engraçadas dele, lembra da última vez que fomos lá? - perguntei. - Acho que foi a uns quatro anos, estávamos passando as férias de verão com a nossa família.
Dean soltou uma risada ao lembrar.
- É claro que lembro. - ele disse. - Estávamos brincando de verdade ou desafio e eu desafiei o Sam a dar um mergulho no lago. Era de noite e apesar de estarmos no verão o clima estava frio e, a água devia estar muito gelada. - ele deixou escapar mais uma risada enquanto falava. - Só de lembrar da cara que o Sam fez quando saiu da água, estava todo encharcado. Você e eu não parávamos de dar risada, ele ficou com tanta raiva que saiu correndo atrás de mim até a entrada do parque.
Foi a minha vez de dar risada.
- Eu me lembro muito bem de quando o Sam conseguiu te alcançar, ele te arrastou pelo pescoço até o lago. - sorri. - O Sam estava disposto a te atirar na água a qualquer custo e, você tentava se soltar dele. O mais engraçado foi que um de vocês tropeçou e os dois acabaram caindo.
Dean caiu na gargalhada e eu não pude deixar de rir junto com ele, realmente aquele dia foi muito divertido. Talvez não para o Sam mas para Dean e eu sim.
- Ah... - Dean disse, recuperando o fôlego. - Foi uma das férias de verão mais divertidas de todos os tempos.
Eu concordei e assim continuamos o caminho até Grayling. As horas passaram rápido, entre risadas e conversas. Era fácil estar com Dean, sempre tínhamos sobre o que falar e, quando esgotávamos os assuntos, encontrávamos outras formas de passar o tempo. Trocando carinhos ou cantando os rocks clássicos que Dean gostava de ouvir no rádio.
- Chegamos. - disse Dean.
Olhei pela janela, observando a grande placa na entrada do parque. Nela indicava o nome do parque e de seus fundadores, o ano em que foi construído e a frase "sejam bem vindos". A sensação de nostalgia que ler aquelas frases causava era incrível e me remetia a todas as aventuras que passamos ali. Estava ansiosa para ver como o parque estava por dentro. Então descemos do carro, Dean abriu a porta do banco de trás e pegou a cesta de piquenique e eu peguei algumas sacolas para ajudá-lo.
- Vamos. - Dean disse.
Então adentramos o parque, era incrível como o local continuava bem conservado, praticamente nada mudou desde a última vez que viemos. O parque era grande e ideal para correr e fazer exercícios físicos. Tinha espaços verdes bonitos e era atravessado por um rio onde sempre havia jovens praticando remo. Dean e eu adorávamos sentar em uma velha ponte branca e vê-los avançar pela água. Todos se movendo coordenadamente e gritando palavras de entusiasmo. Dean até tinha tentando entrar para a equipe, mas depois descobriu que não era a sua praia. Ele gostava de observá-los, remar era outra história.
- Onde vamos fazer o piquenique? - perguntei.
Olhei ao redor, procurando o lugar ideal. Havia muitas árvores grandes que proporcionavam uma boa sombra e também várias mesas de piquenique. A paisagem do parque era muito bonita e reconfortante, várias crianças passavam correndo por nós. Algumas pessoas aproveitavam para caminhar enquanto outras brincavam com seus animais ou jogavam bola.
- Você se lembra do nosso lugar secreto? - Dean perguntou.
Eu fiz um gesto pensativo com a cabeça.
- Aquele cantinho que sempre íamos quando éramos crianças. Quando aprontávamos alguma coisa no parque, nossos pais brigavam com a gente e nós íamos nos esconder lá. Se lembra?
Então o lugar me veio à memória. Era sim o nosso lugar secreto, pois mais ninguém sabia encontrá-lo além de nós. Nem mesmo o Sam ou nossos pais, nós sempre acampávamos com eles em lugares diferentes pelo parque e eles nunca descobriram. Era um lugar calmo, onde Dean e eu nos refugiávamos quando queríamos paz.
- Eu me lembro, ainda sei como chegar lá. - eu disse.
Dean me deu um olhar de cumplicidade e então seguimos em direção ao nosso esconderijo. Andamos por algumas trilhas e passamos entre alguns arbustos até encontrarmos o local. Se eu soubesse que Dean me traria aqui, teria vindo com uma calça e sem as botinhas de salto.
- Uau! - essa palavra saiu pela minha boca ao observar o espaço onde não vínhamos a muito tempo.
- É lindo, não é? - Dean perguntou.
O lugar era perfeito e a paisagem fazia parecer um verdadeiro bosque encantado. Passarinhos e borboletas passavam por nós, enquanto observávamos o lindo gramado repleto de flores à nossa frente. Caminhamos em direção a grande árvore de cerejeira e nos satisfazemos com a maravilhosa sombra que ela oferecia.
- É mais bonito do que eu me lembrava. - eu disse, entusiasmada.
Contemplei a beleza do lago que ficava próximo a árvore, com águas claras, quase cristalinas. Meus cabelos voaram com a deliciosa brisa fresca, era contagiante. Coloquei as sacolas delicadamente em um canto embaixo da árvore e Dean tirou da cesta uma enorme toalha de xadrez, típica de piqueniques. Eu o ajudei a estender a toalha na parte onde pegava mais sombra, meus dedos encostaram na grama e eu pude sentir a sua maciez. Então nos sentamos na toalha e pegamos as sacolas para organizar a comida que Dean havia trazido.
- Vejamos só o que tem aqui. - eu disse, abrindo uma sacola.
- Preparei alguns sanduíches e comprei comidas tradicionais de piquenique, fiz uma pesquisa rápida. Tentei comprar as que você mais gosta. - Dean disse meio desconcertado, talvez por achar que não entendia muito de comida de piqueniques.
Eu soltei uma risada e tirei da sacola um pratinho com sanduíches de atum que estavam embalados perfeitamente com um plástico. Sorri internamente ao imaginar Dean preparando esses sanduíches e, os posicionei sobre a toalha. Dean tirou da cesta uma linda torta de maçã, que logicamente eu suponhei que havia comprado em alguma padaria, pois não conseguiria fazê-la sozinho.
- Acho que você acertou sobre as comidas, são as que eu mais gosto. - eu disse, vendo Dean esbanjar um sorriso satisfeito.
Peguei uma garrafa cheia de suco e servi em dois copos para nós, em seguida a coloquei junto às outras comidas na toalha.
- Do que é esse suco? - perguntei enquanto experimentava, tentando reconhecer o sabor.
- É de melancia e morango, com... - ele pensou por um instante. - Com hortelã.
Eu tomei mais um gole, desta vez me concentrando em sentir os sabores. O suco descia gelado pela minha garganta e, era sim muito bom.
- Parabéns, Winchester. Você está se saindo muito bem. - eu disse, batendo de leve em seu ombro.
Ele sorriu e se aproximou de mim, me fazendo coceguinhas.
- O que eu não faço por você, Gilbert? - ele disse, brincalhão.
Soltei uma risada por consequência das cócegas e me deitei sobre a toalha. Dean se deitou ao meu lado e juntos ficamos observando as nuvens no céu.
- Estava com saudade de estar aqui com você. - Dean disse. - Aqui passamos os melhores momentos.
- Eu lembro de quando nós vínhamos aqui só para atirar pedrinhas no lago e ver quem conseguia fazer elas pularem na água por mais vezes. - eu disse, relembrando os velhos tempos.
Dean soltou um sorriso, enquanto envolvia os braços em volta de mim para um abraço.
- Se lembra de quando escrevemos uma lista com cinquenta coisas que gostaríamos de fazer antes de terminar o ensino médio? Estávamos no fundamental e a lista deve estar enterrada em algum lugar por aqui. - Dean disse, me fazendo sorrir com essa lembrança.
- Uma delas era observar o pôr do sol do topo mais alto da cidade ou experimentar todos os trinta sabores diferentes de sorvete da grande sorveteria do centro. - eu citei.
Dean olhou para mim.
- Dos sorvetes eu não me lembrava. - ele disse em um tom engraçado.
Ficamos em silêncio por um instante e continuamos observando o céu.
- Eu ainda não tinha te perguntado, como foi a visita ao seu pai? - ele perguntou, desta vez em um tom mais apreensivo.
A sua pergunta me fez voltar àquela sala onde conversei com o meu pai e também ao momento triste em que tive que ir embora e deixá-lo lá. Então voltei a me sentar para conversar melhor sobre isso com Dean e ele se sentou também.
- Correu tudo bem. - eu disse. - Foi bom poder abraçá-lo de novo e matar a saudade. A pior parte foi ter que ir embora e me despedir dele, mas em breve vou visitá-lo novamente.
- Eu imagino. - ele disse. - Quero poder visitá-lo também.
Eu sorri.
- Você pode ir comigo da próxima vez.
- E como foi contar a ele? - Dean perguntou ainda cuidadoso.
Eu relembrei por um instante a conversa com meu pai mais cedo.
- Não foi fácil começar a falar mas, depois ele entendeu e me apoiou também. Assim como sempre fez.
- Seu pai sempre compreendeu você. Qual você acha que é a sua lembrança mais especial com ele? - Dean perguntou.
Eu olhei para o chão, em um gesto pensativo.
- Meu pai e eu estávamos andando de bicicleta. - eu disse, relembrando a cena. - Lembro-me de pedalar rápido e enroscar o pneu em uma pedra e acabar caindo. Eu era muito pequena.
- E o que aconteceu depois? - perguntou Dean.
Continuei a contar:
- Meu joelho começou a sangrar e eu estava fazendo muita força para não chorar. E então uma mão grande segurou a minha e eu senti uma enorme onda de alívio e amor.
- Era o seu pai. - Dean disse.
- Sim. - eu disse. - Ele me acalmou e começou a cantar a nossa canção preferida. E me disse para cantar de qualquer maneira até não doer mais.
Dean sorriu levemente.
- Esse é um belo conselho. - ele disse.
- Eu não tenho muitas lembranças desse momento por conta da minha perda de memória... - senti uma emoção surgindo. - Mas ele sempre me dizia que quando a vida parecesse desafinada, era para cantar de qualquer maneira.
Dean pegou na minha mão e eu senti a sua compreensão e o seu afeto.
- Isso é tão bonito, acho que é por isso que você é tão forte e corajosa. - ele disse.
- Sim, gosto de pensar que peguei isso dele, do meu pai. - eu disse.
Ele me olhou com carinho e sorriu.
Me senti tão bem por ter alguém que olhasse assim para mim, alguém que se importasse tanto comigo. Ele se inclinou, tomando-me em seus braços, e me beijou. Seus lábios eram quentes, cheios de ternura e tinham uma avidez sutil. Ele passou a mão na minha bochecha e se deteve em meu queixo, levantando meu rosto em direção ao seu. Senti uma sensação febril e maravilhosa percorrer meu corpo e meu coração acelerar, consciente de cada batida em meu peito. Dean me prendeu em seus braços e continuou me beijando, sua mão pousou na minha cintura, puxando-me para mais perto dele, e seus lábios brincaram com os meus. Levantei a cabeça em direção a ele, devolvendo o beijo. Pensei em ter ouvido algum barulho que vinha de longe, era como se eu não pudesse escutar outra coisa além da respiração de Dean. Seus dedos acariciaram o meu rosto, suaves e leves como uma pluma. Era impressionante como ele podia ser tão delicado e me beijar de forma tão apaixonada ao mesmo tempo.
- Elena. - ele disse e se levantou.
Eu também me levantei e parei à sua frente. Ele fez menção de abrir a boca e eu fiquei esperando, ansiosa para saber o que ele tinha a dizer.
Será que agora seria a hora da surpresa?
- Tenho uma coisa séria a te dizer.
Seu tom saiu sério, mas sua expressão continuou neutra. Então eu fiquei atenta para ouvir o que era tão sério que ele queria me dizer.
- Estou ouvindo. - eu disse em um sorriso disfarçado.
Tudo estava tranquilo quando de repente Dean retirou de seu bolso uma linda caixinha vermelha, que parecia ser de um anel. Nessa hora meu coração acelerou e eu senti uma enorme sensação de quentura pelo meu rosto. Abri e fechei minha boca várias vezes, não sabia o que falar, não sabia o que fazer. Apenas fiquei paralisada, esperando que Dean me explicasse o que aquilo significava. Eu estava confusa e curiosa, queria entender o que estava se passando. Então Dean olhou para mim ainda com uma expressão firme e voltou a se pronunciar:
- Elena. - ele disse. - Eu também já passei por muita coisa e, eu só quero que você saiba que quando eu me imagino feliz, é com você.
- Dean... - eu realmente não sabia o que dizer.
Ele se aproximou mais e continuou o que estava dizendo.
- Eu quero ficar com você, ser o pai desse filho que você está esperando, formar uma família. É o que eu mais desejo, mas para isso eu tenho que te perguntar... - ele se ajoelhou. - Você quer casar comigo?
Eu coloquei as mãos sobre a minha boca, em um gesto de surpresa. Meu coração saltitava de alegria, realmente o que Dean havia dito era muito lindo e inesperado e, me encheu de emoção. Dean estava assumindo uma responsabilidade muito grande em querer ser pai de uma criança que não era dele. Mas, eu confesso que não imaginava um pai melhor para o meu filho que não fosse ele. E também que o meu sentimento por ele era o mais lindo e profundo que pudesse existir e, que eu queria aquilo tanto quanto ele. Ele abriu a caixinha, revelando uma linda aliança dourada.
- Dean!
Segurei em suas mãos fazendo-o levantar novamente. Ele parou em pé à minha frente, me olhando nos olhos. Eu só conseguia pensar em como aquele momento estava sendo mágico e único para mim. Tudo estava acontecendo tão rápido em minha vida e eu não sabia explicar o quão maravilhoso isso era. Ser pedida em casamento por Dean era algo que eu sempre sonhei, mas nunca acreditei que algum dia fosse acontecer. E estar vivendo isso, assim tão de perto, era melhor do que em qualquer sonho. Me aproximo mais dele e minha mão alcança e acaricia os seus cabelos, meus dedos passam por entre o seus curtos fios louros.
- Elena.
Dean segura o meu rosto e olha nos meus olhos. Eu o puxo para mais perto.
- Eu te amo. - eu disse.
Me sinto leve e segura. Dean me prende com força contra o seu corpo, eu olho para os seus olhos verdes e todo o resto desaparece. Então eu beijo os seus lábios, aqueles lábios quentes e macios. Ele continua me beijando delicadamente e, eu sinto cada pedacinho dele entregue a mim.
- Isso é um sim? - ele me pergunta, sorridente.
Eu sorrio de volta.
- É claro que sim! Estar com você é o que eu mais quero.
Ele abre um enorme sorriso, como se não pudesse acreditar que aquilo estava acontecendo, que eu realmente havia dito sim. Em um gesto de alegria ele me ergueu pela cintura e me girou, pousando-me no chão, ainda perto dele.
- Ah, meu amor! - ele exclamou, feliz.
Tirou a aliança da caixinha e colocou-a delicadamente sobre o meu dedo. Era linda e se encaixava perfeitamente em mim. Ele me segurou pela cintura e os seus lábios encontraram novamente os meus e as faíscas atingiram o meu corpo. Senti-me tão leve, minhas pernas estavam bambas e os braços fortes de Dean me abraçaram enquanto nosso beijo se intensificou.
- Quero ficar ao seu lado pelo resto da minha vida. - Dean disse.
Então voltou a me abraçar e continuou me beijando com carinho e ternura. Tudo foi sumindo da minha cabeça até eu só conseguir pensar nele, em como os seus lábios se encaixavam perfeitamente nos meus e em quanto eu também queria passar o resto da vida ao seu lado. De repente algo nos fez parar, era um barulho, como se algum galho tivesse se quebrado. Dean e eu olhamos atentamente para uma pequena parte da mata ao nosso redor, mas não avistamos nada.
- Deve ser só algum animal, um coelho ou um esquilo, talvez. - Dean esclareceu.
Eu concordei.
O barulho foi alto demais para um simples esquilo. Pensei, mas não disse nada. Estava com Dean então estava segura. Deixei o barulho de lado e voltei a minha atenção para ele novamente. Seus olhos brilhavam e eu me perdia neles cada vez que olhava.
- Precisamos marcar a data do nosso casamento. - Dean disse, euforicamente. - Que tal daqui a um mês?
- Sim! - eu concordei sem nem pensar.
Talvez eu tenha me precipitado, pois um mês parece pouco tempo para organizarmos tudo. Mas na realidade eu não queria esperar nem mais um minuto para me casar com Dean.
- Ótimo! - Dean disse.
Senti meus olhos úmidos, como se eu estivesse prestes a chorar.
- São lágrimas de felicidade. - me apressei em dizer quando vi a expressão em seu rosto. - Nunca imaginei que esse momento chegaria.
- Mas chegou. - ele disse. - E agora temos a oportunidade de sermos finalmente felizes!
Tantas coisas inesperadas aconteceram nas nossas vidas e, estar vivendo esse momento com Dean me fez perceber que as vezes o inesperado é bom. Que são essas pequenas coisas que fazem de nós quem nós somos.
- Você tem razão. - eu disse.
Então Dean me beijou de maneira doce e gentil, ele me envolveu em seus braços e me abraçou forte. Desfrutando daquele momento em silêncio. Permanecemos assim por um tempo, antes de nos sentarmos novamente sobre a toalha e voltarmos a conversar. Falamos sobre tudo, sobre como imaginávamos ambos vestidos para o casamento. Sobre como queríamos a decoração e sobre quem convidaríamos para a festa. Enfim, estávamos muito empolgados, posso dizer que Dean estava até mais empolgado que eu. Mas ainda precisávamos pensar com clareza, tudo era muito recente para decidirmos como queríamos as coisas. Ainda não estávamos preparados, não tínhamos nada, nem sequer sabíamos onde morar quando nos casássemos. Será preciso reconsiderar o casamento em um mês.
A tarde passou tão rápido sem nem percebermos, passamos o tempo dando risada e comendo as comidas do piquenique. O clima já começava a esfriar então me aconcheguei melhor junto a Dean, para me aquecer. Estávamos deitados observando as nuvens, como sempre costumávamos fazer. Me peguei olhando para a floresta e repentinamente um barulho estalou pela mata, era como se mais um galho tivesse se quebrado. Levantei minha cabeça sobre os ombros de Dean e olhei para onde o som vinha. Meu corpo gelou quando vi uma pessoa vestida de preto passar correndo por entre as árvores.
- Dean, tem alguém aqui! - eu exclamei e me sentei abruptamente.
Rapidamente Dean se sentou e olhou para a mata, a pessoa ainda estava correndo pois alguns galhos ainda balançavam. Dean olhou de volta para mim.
- Você viu, não viu? - perguntei, assustada.
- Vi. - ele disse. - Fique aqui.
Então se levantou e pegou um pedaço de madeira que estava jogado em um canto do gramado.
- Dean, cuidado! - eu disse, preocupada.
Ele se virou para mim e fez um gesto para que eu fizesse silêncio.
- Shiu! - ele colocou o dedo indicador sobre os lábios.
Começou a se aproximar cautelosamente da mata, segurando firme o pedaço de madeira.
- Quem está aí? - perguntou em um tom alto. - Apareça.
Meu coração acelerou quando vi Dean adentrando a floresta. Estava começando a ficar com medo, não sabia se ficava parada no meu lugar ou se corria atrás dele. Alguns minutos se passaram até Dean surgir novamente pelas árvores. Ele parecia cansado e sem fôlego, então me aproximei rapidamente dele.
- Dean! Você está bem? - perguntei.
Ele se apoiou em meu ombro.
- Estou. - ele disse. - Eu corri atrás dele mas não consegui alcançá-lo, o cara parecia ser atleta.
- Você reconheceu quem era? - perguntei.
- Não, ele estava encapuzado e todo de preto. Mas parecia ser um homem pelo seu corpo atlético.
Eu pensei por um instante, não vendo sentido nisso tudo.
- A quanto tempo ele devia estar aqui? Ele estava nos observando? - eu estava indignada.
- Eu não sei, provavelmente era alguém querendo fazer uma brincadeira de mau gosto. - disse Dean.
Brincadeira de muito mau gosto, pensei. Estava nervosa, minha calma havia ido embora. Agora eu só queria explicações, só queria saber quem era essa pessoa e porque raios estava nos observando por tanto tempo.
- Como ele conseguiu chegar até aqui? Ninguém conhece esse lugar além de nós dois. - eu disse.
- Ninguém que a gente conheça. Mais pessoas devem conhecer esse lugar e, além disso, faz um tempo que não vínhamos aqui. - Dean disse. - Alguém deve ter pegado o nosso esconderijo emprestado. Certamente algum adolescente idiota nos reconheceu das notícias nos jornais quando entramos no parque, quis nos dar um susto e nos seguiu até aqui.
Isso estava piorando cada vez mais quando tentávamos entender a situação. Comecei a sentir uma dor de cabeça repentina.
- E ele conseguiu me assustar. - eu disse. - Por mais que ele estava se escondendo, parecia que queria que soubéssemos que ele estava aqui.
- Isso, os barulhos... - Dean pensou. - Ele queria que soubéssemos que não estávamos sozinhos.
- Chega, eu quero ir embora. - eu disse. - Acho melhor irmos.
Eu olhei por todo lado, tentando encontrar vestígios de alguma pessoa. Já estava começando a sentir calafrios, não queria mais ficar aqui. E se esse louco não foi embora e ainda continua em algum lugar nos observando? Não queria mais pensar nisso.
- Tudo bem, vamos guardar as coisas. - Dean disse.
Uma forte ventania começou e, quando viramos para trás o vento tinha espalhado todas as coisas que estavam em cima da toalha.
Ótimo, pensei ironicamente.
Pegamos tudo e guardamos dentro das sacolas, dobramos a toalha e colocamos na cesta. O vento continuava e grandes nuvens escuras se formavam no céu, logo iria cair uma tempestade. Legal, tenho trauma de tempestades.
- Não estamos esquecendo nada? - perguntei.
Dean olhou à nossa volta.
- Não, pegamos tudo. Acho que já podemos ir.
Então seguimos o caminho de volta até o carro. Conseguimos entrar antes dos primeiros pingos de chuva começarem a cair. Se tivéssemos sorte da tempestade não causar nenhum problema na estrada, chegaríamos em casa antes do anoitecer. Os primeiros quilômetros da viagem foram feitos quase em silêncio. Dean estava atônito e eu estava pensativa, sendo literalmente hipnotizada pelo limpador de para-brisa. A nossa tarde tinha sido tão perfeita se não fosse pelo último incidente que ocorreu. Quem faria uma coisa dessas? Querer nos dar um susto mesmo sabendo o que a gente passou. Eu não sabia, seria melhor apagar esse ocorrido das nossas memórias, fingir que não aconteceu.
- Quem poderia dizer que você seria capaz de comer um saco inteiro de pipocas em questão de minutos? - Dean perguntou, cortando o silêncio.
Seu tom era brincalhão e queria realmente me fazer esquecer do que tinha acontecido anteriormente. Soltei uma risada. Lembrei-me de uma das vezes que fui ao cinema com Dean, assistir a um filme de terror. Eu havia passado a primeira meia hora comendo uma pipoca atrás da outra e o restante do filme apertando a mão dele e cobrindo os olhos.
- Ou que você seria capaz de preparar um piquenique? - respondi.
Dean sorriu, estupefato.
- Não foi tão ruim assim. - ele disse.
Ele estava brincando? Foi incrível demais. Pensei.
A partir daí as conversas e risadas fluíram naturalmente e o trajeto de volta se tornou muito mais fácil e rápido. O tempo voava quando estava com Dean e, quando menos esperávamos, já estávamos em Detroit. Chegamos ao cair da noite e a chuva ainda continuava, Dean estacionou o carro em frente a minha casa.
- Bom, chegamos. - Dean disse.
Eu olhei pela janela do carro e vi as luzes da casa acesas, mamãe e Jared já haviam chegado.
- Entra comigo. - eu disse.
- Eu gostaria, mas não posso.
Sem ao menos eu dizer uma palavra, Dean já sabia que eu pedia por favor só de olhar a minha expressão.
- Não faça essa carinha de cachorro abandonado. - ele disse.
Eu soltei uma risada.
- Eu até ficaria mas realmente não posso, tenho que trabalhar amanhã.- ele explicou.
Eu entendia perfeitamente.
- Obrigada pela tarde de hoje. - eu disse. - Foi incrível, você me fez a pessoa mais feliz do mundo.
Dean sorriu.
Me aproximei dele e trocamos um beijo lento e suave, era surpreendente como Dean podia ser tão delicado e cuidadoso. A forma como ele me segurava e sussurra palavras doces no meu ouvido. Eu me perdia nele e não pensava em mais nada a não ser sobre o quanto o amava.
- Obrigada. - eu disse.
Dean ficou pensativo.
- Pelo que? - perguntou.
- Por estar sempre presente, por se importar tanto.
Ele sorriu levemente.
- Eu amo você e eu me importo sim e, eu realmente tento proteger as pessoas que eu amo mesmo que às vezes eu tenha falhado. - ele suspirou.
- Ei... - eu disse, tocando o seu rosto. - Você não falhou, você foi muito forte e corajoso. E não importa se alguém te dizer o contrário, o que importa é que você tentou e foi o mais longe que pôde.
Ele me olhou com carinho.
- É por isso que eu te amo. - ele disse. - Te ligo amanhã? - perguntou.
- Vou ficar esperando. - eu respondi.
Trocamos um selinho de despedida e eu desci do carro. Os pingos gelados da chuva caiam sobre a minha pele e eu saí correndo até a varanda para me proteger dela. Subi os degraus e me virei para trás, acenando para Dean, ele acenou de volta e em seguida partiu com o carro. Peguei as minhas chaves que estavam na bolsa e abri a porta, adentrando a casa. Encontrei meu irmão na sala, estava sentado no sofá assistindo televisão. Eu podia ouvir ao longe o barulho das panelas e sentir o cheirinho delicioso de comida que vinha da cozinha, mamãe devia estar preparando o jantar.
- Pensei que você não voltaria mais pra casa. - Jared disse assim que entrei.
Eu sorri e coloquei a minha bolsa no sofá.
- Vocês chegaram faz tempo? - perguntei.
- Faz uma hora se eu não me engano.
Eu assenti e não disse mais nada.
- Elena, você já chegou? - minha mãe perguntou lá da cozinha.
- Vou falar com ela. - eu disse para Jared e me levantei.
Atravessei o corredor em direção a cozinha e parei em frente à minha mãe.
- Oi, filha. Como foi o passeio com o Dean? - ela pergunta enquanto cortava alguns legumes.
- Foi ótimo, nos divertimos muito. - eu disse. - O que a senhora está preparando? - perguntei abrindo as panelas.
Ela pegou uma colher com um pouco do caldo que estava dentro da panela e levou até mim para que eu experimentasse.
- Prove um pouco. - ela disse. - Como está?
Eu fiquei alguns segundos saboreando o delicioso gosto do tempero da minha mãe, que por sinal estava perfeito.
- Está ótimo, só coloque um pouquinho mais de pimenta e vai ficar maravilhoso. - eu disse.
- Vou seguir o seu conselho. - ela sorriu.
Continuou adicionando os temperos enquanto eu tirava a minha jaqueta que estava um pouco molhada pelas gotas de chuva. Meu cabelo também estava um pouco molhado e eu precisava de um banho.
- Então, me conta qual foi a surpresa que Dean estava planejando. - ela indagou.
Eu olhei para a minha mão, vendo a linda aliança em meu dedo.
- Mãe? - chamei.
Ela olhou para mim e eu levantei a mão para que ela pudesse ver o anel também.
- Dean me pediu em casamento. - contei finalmente.
Ela coloca as mãos sobre a boca, como se não pudesse acreditar. Eu havia feito o mesmo mais cedo.
- Ah meu Deus, querida! - exclamou. - Isso é tão maravilhoso, eu mal posso acreditar. Venha, me dê um abraço.
Ela se aproximou de mim e me abraçou com todo carinho.
- Eu estou tão orgulhosa de você, minha filha. - ela disse, pude notar uma pequena lágrima no canto dos seus olhos. - Você merece isso, merece ser feliz com alguém que te ame muito e Dean é essa pessoa.
- Muito obrigada, mãe! - eu disse, sorridente.
Era incrível saber que tinha o apoio dela.
- De nada, querida. - ela disse. - Agora tome um banho quente e troque essas roupas molhadas.
- A senhora não quer ajuda com o jantar? - perguntei.
- Não, está tudo sob controle. O jantar já está quase pronto. - ela garantiu.
Eu assenti com a cabeça e segui até o meu quarto. Entrei no banheiro e tomei um banho. Saí embrulhada num roupão e escolhi um pijama quente e confortável, pois a noite estava fria. Penteei o meu cabelo e deixei que ele secasse naturalmente. Em seguida voltei para a cozinha, onde a mesa estava sendo posta para o jantar. Jared estava terminando de ajudar a mamãe a pôr os pratos quando cheguei. Nos sentamos e começamos a saborear a deliciosa comida da minha mãe, enquanto eu contava a grande novidade ao meu irmão.
- O jantar está ótimo. - eu disse.
Meu irmão deu um leve sorriso.
- Fico lisonjeado. - ele disse. - Mamãe e eu somos uma ótima dupla na cozinha.
Me volto para minha mãe com um olhar de questionamento.
- É, tenho que confessar, Jared se saiu muito bem me ajudando hoje. - ela disse.
Dei os parabéns ao meu irmão e disse o quanto ele tinha feito um ótimo trabalho, ele ficou muito satisfeito com os meus elogios.
- Dean tem muita sorte em ter você na vida dele, maninha. - Jared me disse. - Você é incrível.
Eu fiquei alegre com o que ele tinha dito, era tão especial saber que eu tinha o carinho dele. Me permiti olhar em volta, ao redor da mesa onde estávamos todos sentados, como uma família, é claro que faltava o meu pai. Mas a verdade é que eu estava muito feliz em estar ao lado deles, era aqui que eu me sentia segura. O lugar onde eu sempre quero estar, com as pessoas que eu amo.
- Vocês é que são incríveis. - eu disse.
Terminamos o jantar e eu ajudei a mamãe a organizar a cozinha, depois fomos todos para a sala. Jared decidiu assistir a um filme e nós concordamos. Caminhei até a estante e ajeitei as flores que Dean havia me dado, enquanto meu irmão pegava o controle e procurava o filme na televisão.
- Que tal um filme de comédia romântica? - ele perguntou.
Eu olhei para ele lançando um olhar brincalhão.
- Pensei que você gostasse de ação e filmes de zumbis. - eu disse.
- Zumbis não fazem mais a minha praia. - ele disse.
Eu concordei com um sorriso e não disse mais nada, me sentei no sofá enquanto ele dava play no filme. Ao longo dos primeiros minutos de filme as risadas já podiam ser ouvidas. Fazia tempo que não tínhamos um momento assim, tão simples, mas especial. Vi a tela do meu celular acender com uma notificação, era uma mensagem de Dean.
Dean: 22h16
Eu te amo.
Não pude deixar de sorrir quando li a sua mensagem.
Eu: 22h17
Eu também te amo, Dean Winchester.
Desliguei o celular e observei a nossa foto em cima da estante. Sempre tive certeza de que Dean era a pessoa certa na minha vida. E como eu o amava!Continua...
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Notas da autora:
Oi, amores. Tudo bem com vocês? Peço perdão pela demora para postar o capítulo, sei que demorei muito, muito mesmo. Mas cá estou eu, trazendo mais essa continuação para vocês. O que acharam? Comentem a opinião de vocês e não esqueçam de votar. Amo muito cada comentário. Obrigada.
Até o próximo capítulo!
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Sozinha Com Um Psicopata
Misterio / SuspensoElena Gilbert é uma jovem de 19 anos que mora em Detroit, Michigan, nos Estados Unidos. Ela sempre foi muito apegada com sua família, principalmente com o seu pai que faria qualquer coisa por ela. Sua infância foi ótima, porém, quando tinha 7 anos a...