Capítulo 16: Sentimentos [narrado por Dean]

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Centro imobiliário,
Detroit
21h15

     Já era tarde, eu observava a tempestade pela janela do vigésimo terceiro andar. Sim, eu tinha uma visão privilegiada. Conseguia ver quase toda a cidade por aquela janela.
     Eu nunca tinha visto uma tempestade tão forte como esta. Olhei ao redor vendo o escritório vazio e silencioso, todos os funcionários tinham ido embora. O relógio na parede marcava 21h15, era tarde e eu já devia estar em casa.
     Então levantei da cadeira em que eu estava sentado e comecei arrumar a minha mesa. Desliguei o computador e comecei a organizar os papéis em pastas. Guardei os meus relatórios na minha bolsa e quando estava prestes a sair meu chefe aparece com uma pilha gigante de papéis e vem até mim.
     - Onde pensa que vai, Sr. Winchester? - ele perguntou, soltando aqueles papéis em cima da minha mesa.
     - Eu vou embora, eu já terminei por hoje. - eu respondi, dando um passo à frente.
     - Eu receio que não, Dean. Seu horário ainda não acabou! - ele afirmou.
     - Mas é claro que acabou. Eu devia ter saído às 19h e já são 21h. - indaguei. 
     - É verdade, Dean. Mas hoje você está cobrindo todas as horas em que você saiu mais cedo. Então seu horário ainda não acabou.
     Eu permaneci em silêncio. 
      Não é possível. Pensei, quase revirando os olhos. 
     - Não quer perder seu único emprego, não é mesmo, Winchester? - ele me perguntou, cínico.
     Eu apenas concordei.
     - Ótimo. Quero todos esses papéis revisados na minha mesa, você tem mais... - ele olhou em seu relógio de pulso. - uma hora e meia. Quando terminar pode ir embora. Entendeu? - perguntou. 
     - Sim, Senhor. - eu concordei. 
     Ele se despediu de mim, saindo logo em seguida. 
     - Que droga. - eu bufei. 
     Definitivamente o Sr. Chris Beckham é uma pessoa muito difícil de lidar. Ele só é o chefe do meu setor e se acha o dono da empresa. 
     Sem outra opção, eu me sentei novamente na minha cadeira e comecei a revisar os papéis. Os minutos iam se passando, eu estava cheio de trabalho mas não conseguia me concentrar. 
     Quando percebi já estava com os pés em cima da mesa, olhando novamente pela janela. Estava pensando em como estava sendo a minha vida nas últimas semanas. Algo estava me perturbando e eu sabia exatamente o que era
      Elena.
     Os meus sentimentos estavam meio confusos em relação a Elena. Eu a amo e isso eu não posso negar, mas porque não consigo dizer isso a ela de uma vez? Porque?
     Poxa, Dean. Para com isso e se declara logo pra ela. Era o que a minha mente me dizia a todo instante. Passei as últimas semanas pensando nisso.
     E agora eu já estava mais do que convencido de que era isso que eu tinha que fazer. Já havia perdido muito tempo vivendo com medo de dizer o que eu realmente sentia e, agora sinto que não posso esperar mais. Vou confessar a ela o quanto eu a amo e como quero muito estar com ela. Não posso demorar mais, senão vou acabar perdendo-a.
     Ouvi meu celular vibrar em cima da mesa, o que me despertou dos meus pensamentos. Estiquei o braço para pegá-lo. E falando em Elena, era ela quem estava ligando. Atendi a ligação dando um longo sorriso.
     - Oi, Dean. Como você está? - ela perguntou assim que eu atendi a ligação. 
     - Oi, Elena. Estou bem, melhor agora ouvindo a sua voz. - ouvi seu sorriso do outro lado da linha. - Estou com saudade. - eu disse.
     Ficamos algumas semanas sem nos vermos por conta do meu trabalho. 
     - Também estou com muita saudade. - ela disse.
     - E você, como está? - perguntei. 
     - Mais ou menos. - ela respondeu. 
     - Porque mais ou menos? Aconteceu alguma coisa? 
     Eu a conhecia bem, e pela sua voz ela estava com medo.
     - Bom... não. É que meus pais e meu irmão saíram e só voltam amanhã. E você sabe que eu odeio ficar sozinha. Estou com uma sensação estranha. - ela respondeu rápido demais. 
     - Medrosa. - eu disse, dando uma risada alta.
     - Dean, não brinca, é sério.
     - Tá bom. - eu disse, recuperando o fôlego. - Meu horário de serviço acaba daqui uma hora e meia, se você quiser eu passo aí na sua casa e fico com você essa noite. - ofereci.
     - Você faria isso por mim? - ela perguntou. 
     - Sim, claro. O que eu não faria por você Eleninha?!
     Sim, eu faria qualquer coisa por ela.
     - Obrigada, Dean. Você é o melhor! 
     Encerrei a ligação ouvindo um trovão alto, a claridade do raio iluminou toda a janela. Agradeci mentalmente pela oportunidade que teria de conversar pessoalmente com Elena, estando ela sozinha em casa. Eu poderia finalmente me abrir e falar sobre os meus sentimentos. 
     Eu só precisava terminar de revisar esses relatórios mais rápido, para não demorar muito para chegar em sua casa. Eu tinha um presente que estava guardando a algum tempo para dar a ela, e acho que agora é a hora certa. Era uma corrente com um pingente de coração de cristal.
     Elena achou essa pedra de cristal em formato de coração em um passeio de escola. Nós estávamos visitando as cavernas e ela achou esse coração dentro de uma das grutas. Ela me mostrou e disse que era um presente para mim, um presente muito especial. Nós éramos crianças quando ela me deu essa pedrinha e, eu a guardo até hoje.
     Transformei-a em um pingente e coloquei em uma corrente, e hoje eu vou devolvê-la para Elena. Essa pedra tem um grande valor sentimental para mim, acho que não só para mim, mas para Elena também. Se ela irá gostar?Tenho certeza que sim.
     Continuei fazendo o meu trabalho quando olhei para a televisão que estava ao alto, pendurada na parede do escritório. A televisão estava ligada mas o som estava silenciado, parecia que estava passando uma notícia urgente. Fui até o balcão onde estava o controle, o peguei e liguei o som da TV. A notícia dizia:
     "Acaba de fugir da penitenciária de Detroit, um de seus detentores mais perigosos. Segundo A polícia seu nome é Eldon Styne, ele foi preso por crimes como: homicídio, tortura, sequestro, estupro, roubo, entre outros. Para o FBI ele é considerado um psicopata. A polícia determinou o toque de recolher para toda a região de Detroit, até esse assassino ser encontrado. Não saía de casa para sua própria segurança. Voltamos depois com mais informações."
      Eldon Styne? Eu já ouvi esse nome em algum lugar. 
     Eu fiquei parado em frente a TV, pensando, tentando me lembrar de quem era esse nome. Até que...
     - Não, não pode ser. - eu disse para mim mesmo, finalmente lembrando.
     Eldon Styne era o maldito psicopata de alguns anos atrás. Eu me lembro vagamente dele, - naquela época eu devia ter uns 10 anos - mas o suficiente para saber que ele é um assassino perigoso. Ele era amigo dos Gilbert 's, em 2007, quando Elena ficou em coma foi quando tudo aconteceu. 
     Pessoas morreram em um assalto em que Afonso estava envolvido, isso mesmo, o pai da Elena. Mas não, ninguém sabe disso além de mim e da Valentina. Nem mesmo a Elena sabe, ela perdeu a memória e os seus pais acharam melhor não contar isso a ela, para evitar más lembranças. 
     Voltei correndo para a minha mesa. Havia uma mensagem do meu chefe em meu celular, ele também tinha acabado de ouvir a notícia e disse que eu podia ir embora. Mas antes eu precisava guardar os papéis. Eu ia responder a sua mensagem quando recebi outra ligação de Elena, atendi rapidamente:
     - Dean, você tem que ter cuidado quando estiver vindo. Tem um assassino solto pela cidade! - ela disse, desesperada. 
     - Oi, eu acabei de ouvir essa notícia. Meu chefe vai me liberar mais cedo do trabalho e eu vou correndo até aí.
     - Ok, Dean. Mas venha rápido por favor, eu estou com medo. - ela disse. 
     - Elena, tranque toda a sua casa, feche as portas e janelas e pegue algo para você se defender. Não pense em sair para fora até eu chegar. Ouviu? 
     - Ok, vou fazer isso agora. Dean, toma cuidado.
     - Pode deixar, Elena. Eu chego aí o mais rápido possível.
     Ela desligou a ligação. 
     Eu peguei os papéis e os guardei dentro do meu armário. 
     Eldon fugiu da cadeia por algum motivo, com certeza ele quer vingança. Elena está sozinha em casa, isso é mais do que perigoso. 
     Depois de tudo guardado eu peguei o meu celular e a minha bolsa de trabalho, pendurando-a no ombro. Saí correndo pelos corredores da empresa até encontrar um elevador. Entrei nele, vendo a porta se fechar a minha frente. Em seguida apertei o botão para descer até o subsolo, no estacionamento, onde o meu carro me esperava.
     O elevador já estava no décimo sexto andar quando as luzes começaram a piscar. 
     - Não, agora não. Por favor. - eu repetia em voz alta. 
     As luzes continuaram piscando. Eu apertava vários botões, mas nada adiantava. Até que as luzes se apagaram e o elevador ficou completamente escuro. 
     - Que droga. - eu disse, irritado. 
     Levei a mão até o bolso da calça, pegando o meu celular. Liguei a lanterna e comecei a iluminar todo o espaço à minha volta. Certamente a tempestade deve ter derrubado algum poste de iluminação ou causado algum outro acidente, que resultou na queda da energia. Talvez a cidade inteira esteja sem luz. 
     - Não, isso não pode estar acontecendo. Não agora. - eu não acreditava. 
     Nervoso, dei um chute na porta do elevador. Mas nada... nada aconteceu. E para piorar a situação, o gerador de energia do prédio não deu nenhum sinal de estar funcionando. Isso era estranho, pois em incidentes como este ele deveria ligar imediatamente. O fato é que agora eu estou preso no elevador, em meio a uma escuridão, no décimo sexto andar.

Continua...

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Notas da autora:

     Obs.: a queda de energia começou no centro da cidade, atingindo o prédio onde Dean estava. Algum tempo depois a energia acabou nos outros bairros da cidade, chegando até a casa de Elena.

Até o próximo capítulo!

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