5 - Parte II 💀

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Subi a trilha - cada vez mais ingrime - arfando e esforçando-me para me afastar daqueles espíritos assustadores que flutuavam ao meu redor como se fossem névoas, mas ao invés de deixa-los para trás, parecia que eu estava adentrando cada vez mais seu mundo de fumaça e sombras. Será que eu estava morrendo? Será que era assim ? Será que era por isso que eu estava vendo fantasmas? Cadê  a luz branca ? Completamente em pânico, corri adiante, agitando os braços feito louca como se assim fosse espantar o terror que me perseguia.

Não  vi a raiz que irrompeu no chão duro da trilha. Completamente desorientada, tentei me segurar, mas meus reflexos não estavam funcionando. Caí pesadamente. A dor em minha cabeça foi intensa, mas só durou um instante e logo a escuridão me engoliu.

Acordar foi esquisito. Esperava que meu corpo doesse, principalmente a cabeça e o peito, mas ao invés de sentir dor, senti... bem... senti-me bem. Na verdade, sentia-me melhor que apenas bem. Não estava tossindo. Meus braços e pernas estavam impressionantemente leves, latejantes e quentes, como se eu tivesse entrado em uma banheira de água quente e borbulhante em uma noite fria.

Ahn?

A surpresa me fez abrir os olhos. Eu estava olhando para uma luz, a qual miraculosamente não me doeu nos olhos. Ao invés da luminosidade ofuscante do sol, aquilo era mais como uma suave chuva de luz de velas filtradas do alto. Eu me sentei e percebi que estava errada.  A luz não vinha do alto. Era eu quem estava subindo!

Estou indo para o céu. Bem isso deixará algumas pessoas chocadas.

Olhei para baixo e vi meu corpo ! Eu ou isso ou....ou..... sei la o nome daquilo que estava deitado e aterrorizantemente perto da beira do penhasco. Meu corpo estava totalmente imóvel. Minha testa tinha um corte e sangrava muito. O sangue pingava sem parar dentro de uma fenda no chão pedregoso, fazendo uma trilha de lágrimas vermelhas que caía no coração do penhasco.

Era incrivelmente estranho olhar para baixo e ver mim mesma.

Eu não estava com medo. Mas devia estar, não devia ? Isso não queria dizer que eu estava morta ? Quem sabe agora eu poderia ver melhor  os fantasmas Cherokees. Mesmo esse pensamento não me dava medo. Na verdade, ao invés de ficar amedrontada, eu era apenas uma observadora, como se nada disso pudesse de fato me alcançar. (Meio como aquelas garotas que vão para cama com todo mundo e acham que não vão engravidar nem pegar uma doença sexualmente transmissível das bravas. Bem, veremos daqui há dez anos, não é?)

Eu gostava do jeito que o mundo parecia estar, novinho em folha, mas era meu corpo que ficava me chamando a atenção. Flutuei perto dele. Minha respiração estava ofegante, curta e superficial. Bem, meu corpo estava respirando assim, não que eu fosse eu. (Isso é que é confusão de pronomes.) E eu/ela não estava com boa aparência. Eu, digo, ela estava pálida e com os lábios azuis. Ei! Cara branca, lábios azuis e sangue vermelho. Sou patriota ou não sou?

Eu ri, e foi incrível! Eu juro que pude ver minha risada flutuando ao meu redor como aquelas coisinhas que se soltam quando a gente sopra um dente-de-leão, só que, ao invés de serem brancos, eram azulados como crostas de açúcar cristalizados sobre um bolo de aniversário.

Uau! Quem diria que bater com a cabeça e desmaiar podia ser tão divertido ? Fiquei imaginando se ficar doidona era assim. A risada gelada de dente-de-leão desapareceu e ouvi o som de água corrente, cristalina e brilhante. Cheguei mais perto de meu corpo, podendo ver aquilo que de início. pensei ser uma fenda no chão, mas que na verdade era uma rachadura estreita. O som vivo de água estava vindo bem de dentro da rachadura. Curiosa, espiei, e o desenho cintilante de palavras prateadas elevou-se de dentro da rocha. Esforcei-me para ouvir e fui recompensada com um som fraco e murmurante. 

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