Depois respirei fundo e fui, um tanto trêmula, procurar por minha mãe.
Ela estava na sala de estar, enrascada na beira do sofá, bebericando uma xícara de café e lendo Chicken Soup for a Woman's Soul°[° Livro de autoajuda voltado para o público feminino. Sem título em português.](N.T.). Ela parecia tão normal, bem como sempre fora seu jeito. A não ser pelo fato de que costumava ler romances exóticos e se maquiar. Ambas eram coisas que seu novo marido não permitia (que droga).
- Mãe?
- Hum? - ela não olhou para mim. Engoli em seco.
- Mamãe - chamei-a do jeito que costumava fazer antes de ela se casar com John - preciso da sua ajuda.
Não sei se foi o uso inesperado do termo "mamãe" ou se algo em minha voz acionou em pouco da boa e velha intuição materna que ela ainda devia ter em algum ponto dentro de si, mas os olhos que ela levantou imediatamente do livro estavam suaves e cheios de preocupação.
- O que foi, meu bem - ela começou, e então suas palavras pareceram congelar nos lábios quando seus olhos encontraram a Marca em minha testa.
- Ah, Deus! O que você fez desta vez?
Meu coração começou a doer novamente.
- Mãe, eu não fiz nada. Não fiz nada para isso acontecer comigo. Não tenho culpa.
- Ah, por favor, não - ela choramingou, como se eu não tivesse dito nada - O que seu pai vai dizer?
Tive vontade de gritar "como alguma de nós pode saber que diabo meu pai ia dizer se não o víamos e nem ouvíamos falar dele há quatorze anos!", mas sabia que não ia adiantar nada, e ela sempre ficava furiosa quando eu a lembrava que John não era meu pai " de verdade ". Então tentei uma tática diferente - uma da qual eu desistira três anos atrás.
- Mamãe, por favor. Pode simplesmente não contar nada a ele? Ao menos por um ou dois dias? Deixe tudo entre nós duas até a gente.... sei lá.... se acostumar com isto, ou algo assim - prendi a respiração.
- Mas o que eu vou dizer? Você não conseguirá cobrir esse troço nem com maquiagem - ela curvou os lábios de um jeito esquisito ao lançar um olhar nervoso para a lua crescente.
- Mãe, eu não disse que ficaria aqui até nos acostumarmos com isso. Tenho que ir embora; você sabe disso. Tive de fazer uma pausa enquanto uma tosse das grandes me fez sacudir os ombros. - O Rastreador me Marcou. Tenho que me mudar para a Morada da Noite, senão vou ficar cada vez mais doente - e morrer, tentei lhe dizer a última palavra com os olhos. Não seria capaz de pronunciar aquilo.
- Só preciso de uns dias para conseguir lidar com.... - parei de repente para não ter de dizer o nome dele, e desta vez tossi de propósito, o que não foi difícil.
- O que direi ao seu pai?
Senti uma onda de pânico na voz dela. Ela não era a mãe? Não era ela quem tinha de oferecer respostas ao invés de perguntas?
- Só... diga a ele que vou passar os próximos dias na casa da Kayla porque temos um trabalho de biografia dos grandes para fazer.
Vi a mudança nos olhos de minha mãe. A preocupação sumira, dando lugar a uma dureza que eu conhecia tão bem.
- Então você está dizendo que quer que eu minta para ele.
- Não, mãe. Estou dizendo que quero que você, pelo menos desta vez, coloque minhas necessidades acima da vontade dele. Quero que você seja minha mãe. Que me ajude a fazer as malas e me leve de carro até aquela nova escola, pois estou com medo e doente e não sei se consigo fazer tudo isso sozinha! - terminei de dizer aquilo, afobada, respirando com dificuldade e tossindo na mão.
- Eu não sabia que havia deixado de ser sua mãe - ela disse friamente.
Ela me cansou ainda mais do que Kayla. Dei um suspiro.
- Acho que esse é o problema, mãe. Você não se importa o suficiente para saber. Você só se importa com John desde que se casou com ele.
Ela olhou feio para mim.
- Não sei como você pode ser tão egoísta. Não vê tudo que ele fez por nós? Graças a ele eu larguei aquele emprego horroroso na Dillard's. Graças a ele não temos que nos preocupar com dinheiro e temos esta casa linda e espaçosa. Graças a ele temos segurança e um futuro brilhante.
Eu já tinha escutado tanto aquelas palavras que podia recitá-las de cor. Era nesse ponto de nossas "não conversas" que eu costumava pedir desculpas e voltar para meu quarto. Mas hoje eu não podia pedir desculpas. Hoje era diferente. Tudo era diferente.
- Não, mãe. A verdade é que graças a ele faz três anos que você não presta atenção em seus filhos. Você sabia que sua filha mais velha tornou-se uma garota fácil e mimada que já transou com metade do time de futebol? Sabe dos vídeo games asquerosos e sanguinolentos que Kevin esconde de você? Não, claro que não sabe! Os dois fingem que são felizes e que gostam de John e mantém toda a falsidade nesta família só para que você sorria para eles, e reze por eles e os deixe fazer o que querem. E eu? Você acha que sou má porque eu não finjo - porque sou franca. Sabe de uma coisa? Estou tão cansada da minha vida que fico feliz por ter sido Marcada pelo Rastreador. Eles chamam aquela escola de vampiros de Morada da Noite, mas nada pode ser mais sombrio que este lar perfeito! - antes que eu começasse a chorar ou gritar, dei meia voltar e fui para o meu quarto, e bati a porta ao entrar.
Tomara que todos se afoguei.
Dava para ouvir pela paredes finas que ela estava histérica, ligando para John. Sem dúvida ele ia correr para casa para lidar comigo: "O Problema". Ao invés de sentar na cama e chorar como estava tentada a fazer, tirei todas as coisas da escolas de minha mochila. Nem ia precisar de nada daquilo no lugar para onde eu estava indo. Eles não deviam nem ter aulas normais. Provavelmente eram aulas de Como Rasgar Gargantas Nível I e... e... Introdução à Visão no Escuro. Sei lá.
A despeito do que minha mãe fazia ou não fazia, eu não podia ficar. Tinha que ir embora.
Então o que precisaria levar?
Minhas duas calças jeans favoritas, além da que eu estava usando. Duas camisetas pretas. Tipo, o que mais vampiros usariam? Além do que, preto emagrece. Quase deixei de lado meu lindo e cintilante colar azul-esverdeado, mas tantas peças pretas iam me deprimir ainda mais... então incluí o colar. Depois enfiei um monte de sutiãs, calcinha, shampoos e maquiagem na bolsa lateral. Quase deixei meu bichinho de pelúcia, o "pesh" Otis ( não conseguia fala peixe quando tinha dois anos), em cima do travesseiro, mas... bem... vampira ou não, acho que não conseguiria dormir muito bem sem ele. Então o enfiei gentilmente na droga da mochila.
Foi quando ouvi baterem na minha porta e a voz daquela coisa me chamou.
- Quem é? - eu gritei, e tive um violento ataque de tosse.
- Zoey. Sua mãe e eu precisamos falar com você.
Que ótimo. Estava na cara que eles não haviam se afogado.
Eu dei um tapinha no ombro de Otis. - Ah, Otis, que saco - levantei os ombros, tossi outra vez e fui encarar o inimigo.*****Continua*****

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Marcada
AcakBem-vindo ao mundo de The House of Night, um mundo parecido com o nosso, exceto pelo fato de que nele os vampiros sempre existiram Zoey acaba de ser marcada como uma vampira, O que significa o início de uma nova vida, longe de seus amigos e de sua v...