3 - Parte II 💀

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- Mas, John, querido, o que faremos com ela? O que os vizinhos vão dizer? - seu rosto empalideceu ainda mais e ela soltou um pequeno soluço. - O que as pessoas dirão no Encontro de Domingo?
Ele apertou os olhos quando abri a boca para responder e interrompeu antes que eu conseguisse falar.
- Nós vamos fazer o que qualquer boa família faria. Vamos entregar a situação a Deus.
Eles iam me mandar para um convento? Infelizmente, tive que lidar com outro acesso de tosse, de modo que ele continuou falando.
- Vamos entregar o caso para o Doutor Asher. Ele saberá o que fazer para acalmar esta situação.
Maravilhoso. Fabuloso. Ele vai chamar o psiquiatra da família, o "Homem Incrivelmente Inexpressivo". Perfeito. 
- Linda, ligue para o número de emergência do doutor Asher, e em seguida acho que seria boa ideia ativar a corrente telefônica de preces. Certifique-se que os outros Veteranos saibam que devem se reunir aqui.
Minha mãe assentou e começou a se levantar, mas as palavras que saíram da minha boca os fizeram cair sentados de novo no sofá.
- O quê? Sua resposta é ligar para um psiquiatra totalmente sem noção sobre adolescentes e trazer aqueles imbecis Veteranos conservadores para cá? Até parece que eles vão sequer tentar entender! Não! Vocês não percebem? Eu tenho que ir embora. Esta noite - tossi, um som realmente visceral que doeu em meu peito. - Viu? Isto só vai piorar se eu não estiver com os... - hesitei. Por que era tão difícil dizer "vampiros"? Porque soava tão diferente, tão decisivo, e parte de mim reconheceu, tão fantástico. - Tenho que ir para a Morada da Noite.
Mamãe deu um pulo e por um segundo achei que ela fosse mesmo me salvar. Então John pôs o braço ao redor do ombro dela, possessivo. Ela olhou para ele e quando voltou a me encarar, seus olhos pareciam pedir desculpas, mas suas palavras, como era típico, refletiam apenas o que John queria que ela dissesse.
- Zoey, com certeza não haveria mal nenhum se você passasse apenas esta noite em casa, não é?
- Claro que não - John disse a ela. - Tenho certeza que O doutor Asher verá que há necessidade de uma visita em domicílio. Com ele aqui, ela vai ficar bem - e deu um tapinha em seu ombro, fingindo ser gentil, mas soando, na verdade, pegajoso.
Tirei os olhos dele e voltei-me para minha mãe. Eles não me deixariam ir embora. Nem hoje à noite e talvez nunca, ou pelo menos não antes de os paramédicos me rebocarem. Subitamente entendi que a questão não era só esta Marca e o fato de minha vida ter mudado completamente. A questão era o controle. Se eles me deixassem ir embora estariam de alguma forma perdendo. No caso de minha mãe, preferia pensar que ela tinha medo de me perder. Eu sabia o que John não queria perder. Ele não queria perder sua preciosa autoridade e a ilusão de que formávamos uma familiazinha perfeita. Como mamãe já dissera, O que os vizinhos iram pensar - O que as pessoas iriam pensar no Encontro de Domingo? John tinha de preservar a ilusão, e se para isso era preciso me deixar ficar realmente doente, ora bem, era  preço que ele estava disposto a pagar.
Mas eu não estava disposta.
Acho que estava na hora de tomar as coisas nas própria mãos (afinal, minhas unhas estavam muito bem feitas).
- Ótimo - eu disse - Ligue para o doutor Asher. Ative a linha de preces telefônicas. Mas vocês se importam se eu for me deitar até todos chegarem aqui? - tossi novamente por via das dúvidas.
- Claro que não, meu bem - mamãe disse, demonstrando alívio. - Provavelmente você vai se sentir melhor de descansar um pouquinho - então ela se afastou do braço possessivo de Jonh. Sorriu e me abraçou.
- Quer que eu leve algum remédio para sua tosse?
- Não, eu vou melhorar - disse, agarrando-me a ela só por um segundo, querendo tanto voltar três anos no tempo quando ela ainda era minha - e ainda estava do meu lado. Então respirei fundo e recuei.
- Vou melhorar.
Ela olhou para mim e balançou a cabeça como se pedisse desculpas do único jeito que podia, ou seja, com os olhos.
Eu me virei e caminhei para o quarto. Pelas costas, o "padrastotário" disse:
- Por que você não aproveita e nos faz O favor de arrumar um talco ou algo assim para cobrir esse troço em sua testa?
Eu nem sequer fiz uma pausa. Só continuei caminhando. E não ia chorar.
Vou me lembrar disso - disse a mim mesma severamente. - Vou me lembrar de como me fizeram sentir terrível hoje. Então, quando eu estiver com medo e sozinha e estiver acontecendo sei lá mais o que, vou me lembrar que nada podia ser pior do que ficar aqui. Nada.

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