Soltei primeiro a mochila e depois saí pela janela, tomando cuidado para não fazer o mínimo ruído ao pisar na grama. Fiquei ali parada por um longo tempo, enfiando a cara entre os braços para segurar aquela tosse horrível. Então me abaixei e levantei a beira do vaso de lavanda que vovó Redbird³ me dera e procurei com os dedos o metal duro da chave, que estava aninhada junto á grama amassada.
O portão nem rangeu quando eu o abrir e me esgueirei para sair como se fosse uma das Panteras. Meu lindo fusquinha estava lá parado, onde sempre ficava - bem em frente á terceira porta da garagem para três carros. O "padrastotário" não me deixava estacioná-lo dentro, pois o cortador de grama era mais importante. (Mais importante que um VW vintage? Como assim ? Isso não fazia o menor sentido. Jesus, agora até pareci um cara falando. Desde quando eu me importava se meu Fusca era vintage? Eu devia mesmo estar Mudando.) Olhei para os lados. Nada. Corri a toda velocidade até o meu Fusca, pulei para dentro, coloquei em ponto morto e agradeci de coração por nossa garagem ser ridiculamente íngreme quando meu maravilhoso carro rolou suave e silenciosamente até a rua. De lá, era começar pegando a direção leste para vazar daquele bairro de casas grandes e caras.
Nem olhei pelo retrovisor.
Estiquei o braço e desliguei meu celular. Não queria falar com ninguém.
Não, isso não era bem verdade. Havia uma pessoa com quem eu realmente queria falar. Ela era a única pessoa no mundo que tenho certeza que não olharia para minha Marca pensando que eu era um monstro, ou uma anormal, ou uma pessoa realmente medonha.
Como se fosse capaz de ler meus pensamentos, meu fusca pareceu virar sozinho para pegar a estrada que levava á rodovia Muskogee Turnpike e, depois ao lugar mais maravilhoso deste mundo - a fazenda de lavanda de Vovó Redbird.
Ao contrário do trajeto da escola para casa, a viagem de uma hora e meia até a fazenda de Vovó Redbird pareceu levar uma eternidade. Quando saí da rodovia e peguei a estrada de terra batida que dava na fazenda de minha avó, meu corpo doía ainda mais do que daquela vez que contrataram uma professora de ginástica maluca que achava que podíamos fazer circuitos de peso insanos enquanto nos chicoteava e tagarelava o tempo todo. O.k., ela não tinha um chicote de verdade, mas era como se tivesse. Meus músculos doíam demais. Eram quase seis da tarde e o sol estava finalmente se pondo, mas meus olhos ainda doíam. Na verdade, até os fracos raios do entardecer faziam minha pele formigar de um jeito esquisito. Fiquei feliz por ser o fim de outubro e estar frio o bastante para eu poder usar meu suéter com capuz Borg Invasivo 4D ( claro, foi um passeio Jornada nas Estrelas: A Próxima Geração em Las Vegas e, lamentavelmente, às vezes sou uma total nerd Star Trek) que, felizmente, cobria quase toda minha pele. Antes de sair de meu fusca eu procurei no banco de trás até achar meu velho chapéu de caminhoneiro da Universidade de Oklahoma e enfiei na cabeça para livrar meu rosto do sol.
A casa de minha avó ficava entre dois campos de lavandas e recebia sombra de dois carvalhos velhos e enormes. Fora construída em 1942 em pura pedra Oklahoma, com duas confortáveis varandas e janelas excepcionalmente grandes. Eu adorava aquela casa. Só de subir os pequenos degraus de madeira da varanda eu já me sentia melhor... segura. Foi quando vi o bilhete preso com fita isolante na porta externa. Era fácil reconhecer a linda caligrafia de vovó: Fui colher flores selvagens no penhasco.
Toquei o papel com cheiro de lavanda. Ela sempre sabia quando eu vinha visitá-la. Quando eu era criança, achava esquisito, mas ao crescer fui apreciando aquele sentido extra que ela tinha. A vida inteira eu sempre soube que podia contar com vovó Redbird em qualquer situação. Durante aqueles tenebrosos primeiro meses de casamento de minha mãe com John, acho que eu teria murchado e morrido se não pudesse fugir todo fim de semana para a casa de vovó.
Por um segundo eu pensei em entrar ( vovó jamais trancava as portas) e esperar por ela, mas precisava vê-la ganhar seu abraço e ouvir dela o que eu queria que minha mãe tivesse dito. *Não tenha medo... vai dar tudo certo... vamos dar um jeito. Então, ao invés de entrar, peguei a pequena trilha na margem do campo de lavanda mais ao norte que dava no penhasco e segui por ela, deixando meus dedos roçarem no topo das plantas mais próximas, de modo que, enquanto caminhava, elas iam soltando no ar seu doce e nítido perfume, como se estivessem me dando boas vindas.
Parecia fazer anos que eu estivera ali, apesar de eu saber que eram apenas quatro semanas. John não gostava de minha avó. Ele a achava esquisita. Eu o ouvi dizer a minha mãe que ela era uma Bruxa e que iria "para o inferno" . Que cretino.
Então me veio um pensamento impressionante e eu parei completamente. Meus pais não controlavam mais meus atos. Eu nunca mais ia morar com eles. John não podia mais me dar ordens.
Uau! Que demais!
Tão demais que me fez tossi até cruzar os braços sobre o peito como que para segurá-lo. Eu precisava encontrar vovó Redbird, e já.
..
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[³ Pluma vermelha, nome indígena]

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OverigBem-vindo ao mundo de The House of Night, um mundo parecido com o nosso, exceto pelo fato de que nele os vampiros sempre existiram Zoey acaba de ser marcada como uma vampira, O que significa o início de uma nova vida, longe de seus amigos e de sua v...