Seu peito doía terrivelmente, mal conseguia respirar e sua cabeça girava, principalmente ao se sentar em sua cama, quando sentiu todo seu corpo pedir por socorro e imediatamente soube: Dormiu de mal jeito novamente, na verdade, péssimo jeito, mas parecia que daquela vez dormiu com um elefante inteiro o esmagando. Tocou os fios loiros no topo de sua cabeça dolorida, piscando os olhos cor de mel repetidamente.
Que horas eram?
Sua mente se situava aos poucos, olhando pontos aleatórios de seu quarto até ter a noção de que o sol mal havia nascido. Lembrou-se do do sonho que o fizera acordar tão cedo e riu baixo, desacreditado das histórias complexas que sua cabeça podia criar. Deitou-se mais uma vez, olhando a janela meio coberta por uma cortina fina que denunciava a falta do sol e o clima nada agradável do dia, fazendo-o sentir-se ainda mais cansado e suspirar, esticando o corpo na cama com vontade. Por morar um pouco mais afastado de toda a vila, sua casa era rodeada de um bosque úmido e gelado, fazendo um frio quase doloroso passar por todas as frestas de madeira do lugar. Enrolou longos minutos deitado, mesmo sem sentir o sono voltar, e assim que viu o sol dar totalmente as caras por trás das cortinas brancas, se levantou, indo calmamente iniciar as tarefas diárias. Entrou no banheiro e viu sua aparência, nada satisfeito com a maldade que seu travesseiro cometia com seus fios loiros.
- Porcaria, eu devia ter lavado ontem... - Disse rouco, falando pela primeira vez no dia ao tocar o cabelo para o ajeitar. Após escovar os dentes e ficar apresentável, fora preparar um café da manhã. Martín morava sozinho desde seus 12 anos de idade, onde perdeu as duas mães em uma guerra que o reino português havia se metido com o francês pelo domínio do reino argentino, que permanecia nas mãos dos portugueses desde a coroação de um nobre de lá, e o desaparecimento do rei argentino, o que chocou todos os reinos próximos, além do próprio. Especulavam aos cantos sobre isso, mas nunca realmente trouxeram uma conclusão, então anos depois, o reino francês quis tomar o controle das rédeas, atacando o reino português e enfraquecendo também o argentino, onde Martín morava. O reino croata se envolveu quase ao fim da guerra, para proteger o francês de cair completamente por conta da potência dos inimigos, e então recuaram. O rei português, Afonso, liderou seu batalhão durante toda a guerra, visando proteger e fortalecer cada vez mais o reino argentino, e Martín o admirava por isso. Seu pai fora chamado para tal guerra e acabou não voltando, já sua mãe, a fome falou mais alto quando a crise chegou, logo após tudo, e ela se foi dando uma última chance de vida ao filho. A casinha que morava agora era recordação de seus pais, que a construíram para tempos de calor, por ser bem arejada, mas que agora se tornou morada permanente do garoto, após a demolição de sua casa na vila para abrir espaço para as feiras tão famosas dali.
Se lembrava bem dos momentos dolorosos e sofridos que passou naquela casa, se lembrando de quando o sol batia nas janelas e iluminava os momentos em família que tinha quando menor, enfeitando seus últimos dias felizes. Vivia sem muita emoção desde então, fazendo alguns poucos trabalhos por algumas poucas moedas, o suficiente para sobreviver até não aguentar mais a vida em seus anos de mais idade e ir embora desse mundo, sem desistir, como sua mãe havia o feito prometer, e mesmo que não fosse feliz, iria cumprir.
O café da manhã fora pacato, só se passava na mente de Martín o momento em que ele iria até o castelo real se oferecer para mais alguns trabalhos, já que, tão generosa, a rainha brasileira sempre tinha algo para o oferecer, limpezas aqui, entregas ali, era sempre muito querida com Martín, o tratando como um verdadeiro amigo. Tinha um pouco de liberdade com a mulher, mas já o rei, sequer havia o encontrado pessoalmente uma única vez, sabia que o português era deveras ocupado e o apreciava por se empenhar tanto, desejando pelo menos alguns minutos de conversa com o tão querido rei, sempre espreitando pelos cantos do castelo a procura dele, mas nunca realmente tendo alguma chance. Sabia que o rei tinha um filho também, Luciano, um garoto extremamente parecido com a rainha, outro alvo dos olhos dourados de Martín, que o achava muito bonito, mas um tanto arrogante, sempre de peito cheio e sorrisos contagiantes, irritante para os pensamentos cansados do loiro. Os detalhes não passavam batidos, os cabelos rebeldes e levemente ondulados do moreno davam um ar de graça, os olhos escuros quase pretos quase o prendiam por minutos indetermináveis todos os dias, a pele escura então era o alvo dos maiores pensamentos do argentino, imaginava como seria tocar a pele do príncipe, que parecia tão macia e quentinha, o distraindo tanto que diversas vezes fora pego divagando no mais alto pelo próprio moreno, o enfiando numa bolha de vergonha e batimentos acelerados que funcionavam como um impulso para que corresse o mais longe dele possível.
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Follow The Crown - Braarg [HIATUS INDETERMINADO]
RandomSua mente voltava nas mesmas teorias todos os dias, porém, com o passar do tempo, pareciam mais que teorias. Martín teria de se virar para encontrar a verdade, com a ajuda de Catalina, ex empregada real, cuja qual presenciou tudo, mas não tinha nada...