Abrindo os olhos

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O rei estava ali, Martín desejou ter ficado para poder ver, mas teve de correr até o topo da torre, atravessar os muros que conectavam entre essa e outra, e finalmente sair pela outra torre, caso não quisesse levar uma bronca e ser dispensado. Do outro lado, Luciano estava confuso em ver o pai ali, descendo as escadas e indo em sua direção. Quis olhar o topo da escada para verificar se Martín já havia saído, mas sentiu medo de o denunciar para o rei e se controlou.

- O que faz aqui, pai?

- Ouvi uma barulheira, quis saber o que se passava.. - O português olhava ao redor desconfiado. - Posso saber o que você faz aqui, Luciano? Sabe que eu..

- Sim, sei que não deixa que ninguém entre nas torres por causa dos quadros de nossos antepassados. - Segurou dentro de si a vontade de revirar os olhos, já havia levado aquele sermão várias vezes quando criança. - Desculpe.

- Hm... Certo.. - Ele parou em frente ao grande quadro que antes fora descoberto pelos dois garotos e estreitou os olhos. - Mexeu neste?

- Esbarrei. - Disse simples, passando pelo guarda e saindo da torre. O rei olhava o quadro coberto, sabia que o filho havia saído, deveria sair também, mas as memórias o atormentavam sempre que via aquele retrato, mesmo coberto, parecia que os olhos azuis o perfuravam, o culpando e julgando pelo modo horrendo em que conseguiu tudo o que tinha. Sua mão tocou o tecido, a outra dispensou o guarda que de prontidão saiu, o deixando sozinho, e então o tecido foi ao chão com um único puxão.

Martín Hernandez, o rei anterior, que governou por menos de um dia ao lado do amado. Este que havia o traído e agora olhava seus olhos em um quadro enorme, sentindo a dor daquele garoto, se sentindo imensamente culpado, e também, sentindo saudades. Sabia que no tempo estava começando a gostar dele, sabia que não podia pois aguardava seu filho na barriga de outra mulher, por isso havia se envolvido em todo o esquema para o trair, sabia também que algum dia a vida iria o cobrar, e com aquele sentimento de culpa e pela paixão pelo loiro, que o tempo apenas aumentou, Afonso esperava, ele pedia para que o mundo tivesse a vingança mais terrível para ele.

A culpa o corroia, de cima abaixo, ao olhar para Luciano, sabendo que fez tudo aquilo para dar um lugar bom para a mulher e o filho, se envolveu com os reinos francês e croata para que seu garotinho tivesse uma chance onde não era sequer o reino de seus pais, nem o dele, pois antes de nascer, sua mãe estava em seu país de origem, Luciano era brasileiro, o reino argentino era governado por estrangeiros, e seria mais uma vez, por sua causa. Ele destruiu uma linhagem, destruiu uma família, e pior ainda, destruiu corações que acreditavam e davam tudo por ele.

As lágrimas que caíam de seus olhos agora não eram nada perto do sangue que derrubou, não eram a cura para seus erros, e ele sabia disso, via naquele loiro, lembrava-se bem.

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Martín já tinha voltado ao trabalho, agora carregava a vassoura, indo varrer o salão dos tronos, mas parou ao ouvir duas vozes femininas saindo exaltadas de lá. A discussão não parecia muito acalorada, mas o suficiente para que Martín tivesse medo de interromper. Parou atrás da parede que separava o corredor da sala onde as mulheres estavam e, sabendo do risco, começou a ouvir.

- Se você voltar aqui mais uma vez, eu juro, juro que eu... - A dona da voz parecia não ter coragem de terminar, e o loiro reconheceu a mulher que falava, era a rainha, nunca confundiria a voz firme mas doce da morena.

- Jura o quê? Você sabe que tudo isso é um erro!

- Cala a boca! Cala a boca!

Curioso, ele tentava se esticar um pouco mais à porta para ouvir melhor, querendo saber qual seria o tal erro, e o que acontecia. O silêncio se estendeu por míseros segundos, e a voz misteriosa voltou.

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