A coroa.

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Os dias passavam rápido, presentes e cartas chegavam de todos os lados para os noivos. Pessoas de outros reinos começavam a chegar para ver a coroação e o casamento, se alojando em pequenas casinhas, hotéis ou alojamentos específicos para pessoas de fora. Finalmente, faltava um dia para a coroação, um dia para o aniversário de Martín e a consolidação de seu futuro, e dois dias para mais um passo extremamente importante, seu casamento. A ansiedade se misturava com o estresse, a culpa, a felicidade e sentimentos que nem mesmo Martín ou qualquer outra pessoa poderia explicar. Mas principalmente a culpa.

Não tinha entrado em contato com Catalina em momento algum até aquele dia, sempre que tentava, aparecia alguém para lhe puxar para qualquer outro canto com a desculpa de precisar do garoto para os preparativos. Uma dessas vezes fora pego pela costureira, que insistiu em fazer retoques da roupa do dia seguinte enquanto estivesse em seu corpo, o que lhe rendeu bolinhas vermelhas por todo o corpo de tantos furos de agulha que levou. Enfim, tudo estava se acertando, menos Martín e Catalina, isso tomava a cabeça do loiro como um furacão que saí levando tudo que vê pela frente, e ele sequer imaginava como a garota se sentia.

Agora, agarrado as roupas de algodão macias de seu noivo, Martín aproveitava um dos momentos raros entre eles. Os lábios se moviam sem muita velocidade, mantendo um ritmo agradável até para quem estava de fora. Os lábios já pediam socorro, mas cada estalar que faziam era como se valesse tudo a pena, levando o casal as nuvens e os trazendo de volta.

Contragosto, o loiro teve de se afastar para respirar, deixando Afonso observar a bagunça que se tornara. Lábios e bochechas rosados, junto de um olhar preguiçoso e um cabelo levemente bagunçado. Uma obra de arte, com certeza. Em seu quarto, eles aproveitavam cada momento que podiam ter juntos, mesmo que o primeiro a ir embora fosse Afonso, Martín ansiava por seus pequenos minutos com o noivo, porém, a pedido de Martín, nunca passavam dos beijos e amassos. Não que isso sigfique que Afonso tenha deixado de tentar passar esse limite, porque não deixou, mas pelo menos era uma garantia para o loiro.

- Eu tenho que ir, loirinho.. - Seu noivo sussurrou rente aos seus lábios, mas Martín estava encantado demais no hálito quente e a voz aveludada para entender o que a frase significava, por isso, ficou decepcionado quando o moreno se afastou. - Não faça essa cara, você sabe que temos coisas a fazer, sim? - Acariciou as bochechas vermelhas como sangue, deixando um último selinho em seus lábios. - Não podíamos estar aqui, vamos nos casar daqui dois dias, não deveríamos estar nos encontrando.

- Sim, mas eu sinto-

- Sim, sim, sente minha falta. - Um ombro do mais alto se remexeu, e seu lábio se contorceu no que parecia um pequeno sorriso, apenas de um lado. - Eu vou ir, tudo bem? Não venha atrás de mim, é tradição e você não quer azarar nosso casamento, quer?

A cabeça do loiro fora de um lado para o outro freneticamente, tocando a mão do moreno que ainda se encontrava em sua bochecha.

- Não, não quero. - Suspirou e beijou a palma da mão dele. - Te encontro no altar.

- Te encontro no altar..

E então, Martín viu o homem que iria se casar dar meia volta e ir embora sem hesitar, com as mãos nos bolsos da calça de alfaiataria. Afonso ia direto para a saída do quarto, então a do corredor e por fim, do castelo. Olhos escuros e cabelos longos o seguiam para todo lado, todo passo que dava, toda vez que saia, toda vez que pensava, Catalina via, ela sabia que, mesmo estando tudo certo, tinha algo fedendo ali no meio, e com certeza o cheiro vinha daquele homem. Acompanhando em passos leves o homem para fora do castelo, logo atrás, ela via ele ir em direção à vila.

Cobriu o corpo com um sobretudo marrom, levantando a touca e deixando os cabelos ondulados para dentro, o seguindo como uma verdadeira profissional. Andava mais rápido quando ele o fazia, mais devagar então, parava quando ele parava e se escondia onde podia quando o moreno olhava para trás. Continuou nessa sequência até estarem mais ao norte da vila, afastado de muitas pessoas, em direção a um pequeno bosque fechado dali. Os passos leves se tornaram cada vez mais difíceis conforme galhos e pedras entravam em seus caminhos, mas a garota não desistia, queria saber tudo de Afonso, saber quem tinha seu hermano na palma das mãos e não daria o braço a torcer.

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